O relógio marcava quase dez da noite quando Dante Moretti finalmente afastou os olhos da tela do computador. A sala ampla de seu escritório em Florença estava mergulhada na penumbra — apenas a luz amarelada de um abajur refletia sobre os móveis de madeira escura e os papéis espalhados. O silêncio era interrompido apenas pelo som suave do vinho sendo servido em duas taças.
— Você precisa descansar, amore — murmurou Mellinda, acomodando-se no braço da poltrona dele, com o sorriso preguiçoso de quem se sentia à vontade demais naquele espaço.
Dante ergueu os olhos. Mellinda Santori — linda, loira, ambiciosa, filha de um importante empresário — era sua companhia há quase um ano. Uma relação discreta, quase secreta, mantida longe dos olhos da imprensa e dos sócios. Para muitos, Dante era um homem solteiro, casado apenas com o trabalho.
E, de certa forma, era isso que ele queria acreditar. O trabalho lhe servia de escudo, de desculpa conveniente para manter distância do que mais o perturbava: Bianca.
Desde que ela voltara à Itália, ele vinha se escondendo atrás de relatórios, reuniões intermináveis e viagens de negócios que sempre pareciam surgir de última hora. Quando o relógio batia nove da noite, ele ainda estava ali — não porque houvesse algo urgente, mas porque preferia encarar qualquer planilha a encarar os olhos dela.
Os olhos que o desarmavam, que o faziam lembrar de promessas que nunca quis cumprir.
Ele pousou a taça e se inclinou para beijar Mellinda, quando uma batida seca na porta os interrompeu.
— Entre — disse, a voz firme, sem esconder o incômodo.
O assistente, Carlo, apareceu à porta. Estava visivelmente tenso, o que logo chamou a atenção de Dante.
— Senhor Moretti, me perdoe interromper, mas é urgente — disse ele, hesitante.
— Então diga logo — respondeu Dante, voltando-se para os papéis.
Carlo engoliu em seco. — Talvez seja melhor falarmos em particular.
Mellinda arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.
— Pode falar, Carlo. Aqui não existem segredos.
Dante não disse nada. Apenas se recostou na cadeira, em silêncio.
O assistente hesitou por um instante, então soltou:
— Sua esposa tentou entrar em contato. Como não conseguiu, pediu que eu o avisasse que não dormirá em casa hoje, pois foi visitar sua mãe, senhor.
A frase caiu no ar como um trovão.
O som de vidro partindo ecoou quando Mellinda deixou a taça escorregar de sua mão. O vinho se espalhou pelo tapete, manchando o bege com um vermelho escuro, como sangue.
— Obrigado, Carlo. Pode se retirar. — A voz de Dante saiu baixa, controlada, quase fria.
— Sua… esposa? — repetiu Mellinda, a voz trêmula. — Isso é alguma piada, Dante?
Ele fechou os olhos por um instante. — Mellinda… não é o que você está pensando.
— Ah, não? — Ela deu uma risada incrédula. — Porque parece exatamente o que eu estou pensando! Você é casado e nunca me contou!
— É mais complicado do que isso — respondeu ele, levantando-se. — O casamento não foi uma escolha minha. Foi… uma promessa.
— Uma promessa? — Ela cruzou os braços, magoada e furiosa. — Uma promessa não justifica mentiras! Você me fez acreditar que eu era a única mulher da sua vida.
— Mellinda, ela era uma menina quando nos casamos — ele disse, tentando manter a voz calma. — Era o desejo do meu padrinho. Eu apenas… cumpri minha palavra.
Mas as explicações pareciam inúteis. Mellinda já pegava sua bolsa, os olhos marejados e a raiva fervendo na voz.
— Então talvez você devesse ir até a sua esposinha… para visitar sua mãe como o bom filho e marido que é.
A porta se fechou com força atrás dela, deixando um silêncio pesado no ar.
Dante ficou parado por um instante, olhando o vinho derramado no tapete — o símbolo perfeito da confusão que se espalhava novamente em sua vida.
Com um suspiro, ele se sentou de volta, massageando as têmporas.
“Cinco anos…”, pensou. Cinco anos desde que Bianca partira. Uma adolescente impulsiva, de olhos verdes e cabelos escuros, que olhava para ele com uma mistura perigosa de admiração e ternura.
Ele a havia mandado embora acreditando que, com o tempo, tudo se resolveria. Que ela o esqueceria.
Mas o destino parecia ter planos diferentes.
Agora, com ela de volta à Villa Moretti, dormindo sob o mesmo teto, cada noite se tornava um campo minado. Ele fingia ter reuniões até tarde, fingia ter jantares de negócios. Fingir tinha se tornado sua forma de sobreviver.
— Carlo — chamou, a voz rouca. O assistente, que esperava do lado de fora, reapareceu.
— Senhor?
— Amanhã, quero que o motorista vá buscá-la. Diga a ele para levá-la direto à Villa Moretti.
Carlo assentiu. — Precisa de mais alguma coisa, senhor?
Dante fitou a janela, o olhar perdido no horizonte de Florença iluminada.
— Não. Isso é tudo.
Enquanto o assistente saía, Dante ficou sozinho com seus pensamentos.
Com ela por perto, tudo o que ele tentava enterrar voltava à tona: o dever, a culpa, e aquele sentimento que jamais conseguiu nomear — mas que agora ameaçava ressurgir, tão perigoso quanto antes.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Maria Luísa de Almeida franca Almeida franca
que bastardo traidor tomará que ela não seja fraca e deixe ele morrendo de ciúmes quando ver ela
2025-11-08
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