Capítulo 5

^^^❤️‍🔥 Maylla ❤️‍🔥^^^

Parei na porta do meu apartamento e fiquei por alguns segundos encarando a fechadura, como se ela fosse um obstáculo maior do que realmente era. Estava cansada, esgotada, com a mente girando em torno do que tinha acabado de acontecer. Respirei fundo, destranquei e entrei.

A primeira coisa que fiz foi me livrar dos saltos. Aqueles sapatos emprestados já estavam me matando, apertavam meus dedos como se tivessem sido feitos para tortura. Tirei um de cada vez, larguei no canto da sala sem me importar e me joguei no sofá.

Senti o peso do mundo desabar sobre mim.

O desespero estava batendo à porta, e eu não sabia quanto tempo conseguiria manter a tranca firme. O que eu faria agora? Era como se eu tivesse voltado à estaca zero.

Sim, porque a oportunidade que eu achei que poderia mudar a minha vida não passou de uma armadilha maluca, uma proposta absurda de um homem que parecia achar que as pessoas podiam ser compradas como mercadorias.

Suspirei, olhando para o teto do meu apartamento simples, com a pintura descascada em alguns pontos. Eu teria que novamente acordar cedo durante todas essas semanas, pegar ônibus lotado e bater de porta em porta atrás de um emprego. Só que agora o tempo parecia ainda mais curto.

O aluguel já estava quase vencendo. A dona do prédio não tinha paciência, não era uma daquelas senhorinhas compreensivas que dão prazo. Se eu não pagasse, ela colocaria minhas coisas na rua sem pensar duas vezes. Além disso, havia as contas de luz, água, internet, todas esperando por mim, cobrando uma solução que eu não tinha.

Passei as mãos no rosto, apertando os olhos com força. Estava começando a me desesperar de verdade.

Peguei o celular, meu velho aparelho de visor trincado que parecia resistir por milagre, e abri alguns sites de vagas.

Rolei a tela com ansiedade, lendo uma atrás da outra. Tinha muitas opções, sim, mas em todas elas aparecia a mesma exigência: “graduação completa” ou “nível superior em andamento”.

Fechei os olhos, frustrada. Eu não tinha graduação. Não tinha nem o ensino médio completo.

Cheguei até o terceiro ano, mas desisti no meio. Não porque eu quisesse, mas porque a vida me obrigou.

Meu pai abandonou a família quando eu tinha dezessete anos, e minha mãe, que já trabalhava como costureira, não dava conta de tudo. Eu e minha irmã começamos a ajudar em casa como podíamos. Marcela era a mais responsável, sempre levando as coisas a sério. Eu, não. Eu arrumava empregos temporários, fazia bicos, mas nunca me firmava em nada. No último ano da escola, simplesmente não consegui continuar. Eu precisava trabalhar e levar dinheiro para dentro de casa. Escolher entre estudar ou comer não era exatamente uma escolha. Mesmo o dinheiro sendo uma mixaria, juntava com a da minha irmã e dava tudo certo.

Abri os olhos de novo, tentando afastar as lembranças. O passado não mudaria. O que restava era encarar o presente.

Continuei rolando a tela, mas a cada vaga recusada, a cada exigência que eu não preenchia, minha vontade era de jogar o celular contra a parede.

— Ótimo, Maylla, parabéns. — murmurei para mim mesma, com ironia. — Agora você não tem diploma, não tem emprego, não tem namorado, não tem nada. Você é uma virgem patética.

Senti um nó na garganta, mas engoli seco. Chorar não pagaria as contas.

Coloquei o celular sobre a barriga e fiquei olhando para o teto. A cena com Gabriel Mellius voltava à minha mente como um filme repetido. O jeito frio com que ele falava, a segurança na voz, como se tivesse certeza de que eu aceitaria aquele absurdo.

Noiva por contrato. Um ano. Um herdeiro homem.

Balancei a cabeça, incrédula.

— Que tipo de homem acha que pode propor isso para uma estranha? — falei sozinha, quase rindo de nervoso.

Me levantei do sofá, fui até a cozinha e abri a geladeira. Quase vazia. Restava um pote com arroz do dia anterior, um ovo solitário na porta e um pacote de leite aberto. Suspirei.

Peguei o ovo e fritei rapidamente, e comi sentada à mesa pequena e enferrujada. O sabor era quase inexistente, mas ao menos preenchia o estômago vazio.

De volta ao sofá, peguei o celular outra vez. Abri as redes sociais, deslizei pelo feed e vi pessoas comemorando conquistas, viagens, jantares. Gente sorrindo, com a vida aparentemente perfeita. Eu não sentia inveja, mas uma sensação amarga de estar sempre um passo atrás.

Fechei o aplicativo, mas a imagem dele voltou à minha mente. Gabriel. Não só a proposta absurda, mas os olhos dele. Frios, calculistas, como se nada fosse capaz de abalar aquele homem.

E mesmo assim, havia algo nele que me deixava inquieta.

“Será que ele realmente acreditou que eu aceitaria?”

Revirei os olhos sozinha. Claro que sim. Ele era acostumado a conseguir tudo. Estava acostumado a mandar e ver as pessoas obedecerem. Eu só não entrei no jogo dele porque ainda me restava um pouco de dignidade.

Mas e se…?

Bati as mãos nas pernas, repreendendo meus próprios pensamentos.

— Não, não, não. Nem pensar.

Eu não podia cogitar algo tão absurdo. Casar com um homem estranho, ter um filho por contrato, viver como uma sombra na vida dele. Isso não era vida.

Só que, conforme as horas passaram, o peso da realidade voltou a se impor. Minhas contas, meu aluguel, minha falta de oportunidades. Tudo me empurrava para um beco sem saída.

Deitei de lado no sofá, abraçando a almofada. Queria dormir e esquecer por algumas horas, mas o sono não vinha.

Por fim, me forcei a esquecer tudo isso. Eu não ia me curvar ao senhor maluco, nem que eu tivesse que trabalhar em mil bicos, mesmo que passasse semanas sem colocar os pés no meu próprio apartamento. Mas aceitar aquilo? Nunca.

Era tentador? Claro que sim. Mas eu não ia cair nessa armadilha.

Fiquei pensando em uma possibilidade que me fez gelar: e se, em vez de eu lhe dar um menino, eu tivesse uma menina? O que ele faria comigo? Me jogaria fora como um objeto defeituoso? Me culparia por algo que não está sob meu controle?

Não. Aquilo não daria certo. Seria viver meses em cima de uma corda bamba, me torturando dia após dia, com medo de não dar a ele exatamente o que queria. Eu não podia viver assim.

Me levantei decidida, fui tomar um banho rápido e deixei a água quente escorrer pela pele, como se pudesse lavar também os pensamentos ruins. Depois, vesti meu pijama simples, amarrei o cabelo e me deitei na cama.

Fechei os olhos, exausta. Amanhã seria outro dia, e eu teria que correr atrás de bicos. Faxina, qualquer coisa que aparecesse. Entro em um, saio em outro, mas ao menos seria fruto do meu esforço, da minha dignidade.

E assim, no silêncio do meu quarto, me obriguei a acreditar que daria um jeito.

Mais populares

Comments

Alexsandra Sousa

Alexsandra Sousa

Esse sentimento de estar sempre um passo atrás é terrível. 😪😪😪

2025-10-19

2

Vilma Teixeira Roquete

Vilma Teixeira Roquete

Que desespero eu estou por ela ,é uma sensação de insegurança que esmaga. Estou torcendo por você e vai conseguir tenha fé.

2025-10-20

1

Gih

Gih

tadinha ela vai acabar se obrigando a aceitar a proposta

2025-10-20

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!