A manhã começou tranquila na Valthor’s Vintage. Agatha organizava caixas de joias antigas e ajustava livros empoeirados nas prateleiras quando um toque de familiaridade surgiu na porta: Valentim.
Um garoto negro, dois metros de altura, cabelo afro curto, entrou com aquele sorriso confiante que parecia ocupar todo o espaço da loja. Apesar da idade, apenas 15 anos, sua presença era marcante, e o calor do dia combinava com a energia que ele sempre trazia.
— Bom dia, gigante — disse Agatha, sem conseguir esconder a risada. — Veio procurar desculpas para me deixar sobrecarregada, ou é só para bisbilhotar minhas relíquias?
— Um pouco dos dois — respondeu ele, ajeitando a mochila e abanando as mãos. — Além disso, você sabe que eu adoro mexer com fogo.
Valentim era um Elemantor conhecido na cidade, sua afinidade principal com fogo o destacava, embora também pudesse manipular outros elementos graças à sua ligação com a entidade regente Elemantis. Ele adorava testar pequenas chamas em segurança, fazendo com que velas se acendessem ou pequenos brasas flutuassem, sempre mantendo o cuidado de não assustar os clientes.
Enquanto Agatha atendia alguns visitantes, Valentim circulava pela loja, ajeitando prateleiras e ajustando objetos que pareciam vibrar com pequenas energias residuais. Era normal ver um livro flutuar alguns centímetros para cima ou uma caixa de madeira girar levemente, movimentos sutis que demonstravam o controle que ambos tinham sobre suas habilidades. Nenhum segredo, claro: a humanidade conhecia os Elemantors e sabia conviver com eles, como se fosse natural ver alguém manipular objetos ou elementos no dia a dia.
O primeiro cliente da manhã era uma senhora idosa, interessada em velas aromáticas que evocassem memórias. Agatha captou fragmentos de telepatia e percebeu a nostalgia profunda que carregava. Com um gesto discreto de telecinese, ajustou a vela para que ficasse perfeitamente alinhada à mão da senhora, tornando o momento quase mágico, mas totalmente natural.
— Essa é perfeita. Disse a senhora, sem notar nada de extraordinário, apenas sentindo a energia agradável do objeto.
Valentim sorriu, sentindo o calor da chama de uma vela que acendeu sobre o balcão, e comentou:
— Acho que está ficando bom nisso, não acha?
— Melhor do que você quer admitir. Respondeu Agatha, sorrindo.
No início da tarde, Louise fez uma rápida visita à loja, trazendo consigo aquele brilho de atenção que a hipermnésia sempre lhe dava. Ela não passava o dia ali, apenas aproveitava alguns minutos para conversar e observar Agatha.
— Algum cliente deixou alguma história interessante hoje? Perguntou, inclinando a cabeça.
— Alguns pensamentos, algumas lembranças, nada que você não consiga guardar com sua memória infinita. Brincou Agatha.
Louise ria, recordando detalhes de conversas que Agatha já tinha esquecido: a risada do senhor no mês passado, a expressão de uma mulher ao mexer em livros empoeirados, e até o pequeno gesto de Valentim, manipulando discretamente o fogo em uma vela meses atras.
Para Agatha, era reconfortante ter alguém que se lembrasse de cada detalhe com tanta precisão.
Entre os clientes que chegavam e saíam, Agatha continuava a usar sua telepatia e precognição de maneira sutil: sentia pensamentos confusos de curiosidade ou hesitação, e antecipava pequenos problemas, como quando um livro quase caía da prateleira ou um cliente se aproximava de objetos frágeis. Sua telecinese ajudava a ajustar tudo discretamente, sem que ninguém percebesse.
Valentim, por sua vez, aproveitava para mostrar seu domínio do fogo em pequenas demonstrações seguras: uma chama que se acendia em um castiçal sozinho, um leve calor subindo para sinalizar atenção.
Era prático e natural para ele, e os clientes acostumados à presença dos Elemantors nem sequer se surpreendiam.
No fim da tarde, Agatha começou a fechar a loja. O dia tinha sido cheio, mas satisfatório. Cada objeto parecia ter cumprido seu papel, cada cliente levava consigo uma história e, ao mesmo tempo, um fragmento de magia do cotidiano. Louise saiu com um último sorriso, segurando a mão de Agatha por um instante, transmitindo segurança. Valentim se despediu com aquela brincadeira costumeira sobre encontrar alguma relíquia mal-assombrada no caminho de volta.
Enquanto caminhava para casa, Agatha sentiu os poderes ainda ativos de maneira sutil: flashes de precognição, pensamentos fragmentados de pessoas na cidade, pequenas vibrações nos objetos que passava. Tudo indicava que a rotina conhecida poderia ser abalada em breve, mas por enquanto, ela caminhava em paz, sentindo que, mesmo com o mundo sabendo da existência dos Elemantors, algumas surpresas ainda estavam por vir.
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Atualizado até capítulo 47
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