Arena de Titãs
O sol nascia com preguiça sobre os destroços da antiga cidade de Neo-Tóquio Oeste. As ruas ainda tinham marcas do “Dia da Fome dos Deuses” — prédios tortos, postes caídos e pichações com frases como “os bichos venceram” e “viva a Arena!”.
No meio desse cenário meio caótico, uma voz fininha e cheia de energia ecoava pelos becos:
— Piu-Piu, volta aqui! Se você fugir de novo, a gente vai perder o café da manhã grátis!
O dono da voz era Haruto Kami, um garoto de doze anos, magrelo, cabelo preto despenteado e olhos que brilhavam como quem estava sempre imaginando algo épico. Usava um casaco amarelo grande demais e tênis remendados. Em uma das mãos, carregava uma mochila feita com pedaços de metal e fita adesiva; na outra, um pedaço de pão duro.
O pequeno Piu-Piu, um galo de penas avermelhadas e olhar arrogante, caminhava na frente dele com passos de general. Seu peito estufado parecia gritar: “Sou o rei do mundo, humano!”
— Ei, não olha pra mim assim! — reclamou Haruto, correndo atrás dele. — Só porque você ganhou daquela lagartixa mutante ontem, não quer dizer que é invencível!
Piu-Piu virou a cabeça e soltou um “cócó!” debochado, como quem dizia “duvido que tu faria melhor”.
Haruto bufou, mas logo abriu um sorriso. Era impossível ficar bravo por muito tempo com aquele galo. Ele lembrava bem do dia em que tudo aconteceu — o dia em que uma simples ração de pet mudou o mundo.
Cinco anos atrás, ele e os colegas do jardim de infância fizeram uma excursão a uma fábrica chamada NutriPet Evolution, famosa por suas rações “inteligentes”. As professoras ficaram encantadas com os laboratórios, as máquinas, os cheiros doces. Haruto, claro, não prestou atenção em nada disso. Ele só se importava com uma coisa: comer.
E foi aí que começou o caos.
Ele e mais trinta crianças fugiram do grupo e acharam um saco de ração brilhante com o selo dourado escrito “PROJETO PROMETEU — TESTE FINAL”. Achando que eram balinhas, comeram um punhado e ainda guardaram um pouco pra dar aos seus animais.
Naquela noite, o pequeno Piu-Piu, então só um pintinho amarelo, comeu a ração. No dia seguinte, o mundo quase acabou. Cães, gatos, papagaios e até peixes cresceram descontroladamente, virando monstros gigantes que devastaram cidades.
Mas, de algum modo, Piu-Piu não mudou.
Ele cresceu um pouco… só o bastante pra virar um galo de um palmo de altura. Pequeno, mas estranho. E, às vezes, quando Haruto estava bravo, triste ou empolgado, o galo parecia sentir tudo.
E agora, cinco anos depois, eles viviam em um mundo onde esses monstros lutavam em arenas, controlados pelas crianças sobreviventes, os chamados Titaneiros. E Haruto sonhava em ser o maior deles.
— Hoje é o dia, Piu-Piu! — gritou, levantando o punho pro céu. — A gente vai entrar na Arena da Vila 12 e mostrar pra todo mundo que tamanho não é documento!
Piu-Piu respondeu com um “cócóóó!” animado, que ecoou entre os prédios destruídos.
🌆
A Arena da Vila 12 era um coliseu improvisado, feito com restos de tanques e containers. As arquibancadas estavam lotadas de pessoas suadas, gritando e apostando moedas de ferro.
— Aposto mil que o touro mecânico do Goro vai triturar o próximo! — gritava um velho.
— Eu aposto mil que o próximo vai fugir chorando! — zombou outro.
Haruto respirou fundo na entrada. Ao lado dele, Piu-Piu esticava as asas como um verdadeiro campeão.
— Prontos, senhores participantes! — anunciou o locutor com voz rouca. — Próxima luta: Goro, o Titaneiro de Ferro, e… quem é esse? Haruto Kami e... um galo?
As risadas explodiram.
— Um galo?! — gritou alguém. — Isso é piada, né?
— Vão fritar ele em três segundos!
Haruto fingiu que não ligava, mas sentiu o rosto esquentar. Mesmo assim, sorriu e apontou o dedo pra frente.
— Piu-Piu, vamos mostrar pra eles o poder da Vila 12!
Goro, um garoto musculoso e arrogante, apareceu com seu monstro: um touro de metal, com olhos vermelhos e vapor saindo pelas narinas.
— Heh, você tá de brincadeira comigo? — zombou Goro. — Isso aí é seu bicho de estimação?
— É o meu parceiro! — respondeu Haruto, batendo no peito. — O mais forte de todos!
— Então beleza. Não diga que não avisei.
O juiz levantou o braço.
— LUTEM!
O chão tremeu quando o touro avançou, pisando pesado. Haruto gritou:
— Piu-Piu, desvia!
O galo saltou para o lado com um pulo tão rápido que parecia um borrão vermelho. O público prendeu a respiração.
— O quê?! — Goro arregalou os olhos.
O touro se virou, tentando pisotear o pequeno oponente. Mas Piu-Piu já estava em cima de sua cabeça, bicando furiosamente os sensores do robô.
— BIQUE OS OLHOS! — berrou Haruto, pulando de empolgação.
O galo fez exatamente isso. O touro tropeçou, perdeu o equilíbrio e... BUM!
Caiu de cara no chão, espalhando faíscas.
O silêncio dominou a arena por um segundo… depois veio um rugido de espanto.
— IMPOSSÍVEL!
— O galo venceu o touro de ferro?!
Haruto ficou com os olhos arregalados. Ele mesmo não acreditava.
Piu-Piu pousou no ombro dele, estufou o peito e soltou um “cócóóóó!” triunfante.
— EU DISSE! — gritou Haruto, pulando. — O GALINHA É LENDAAAARIIIOOO!
O público explodiu em gargalhadas e aplausos. Metade ria, metade torcia de verdade.
Até o locutor gaguejou no microfone:
— E-Err… vitória para... Haruto Kami e o... galo... lendário?
⚙️
Horas depois, Haruto e Piu-Piu descansavam atrás da arena, comendo pão e peixe seco.
— Viu só, Piu? — disse Haruto, sorrindo. — Hoje foi só o começo. Um dia a gente vai estar na Arena Central, lutando contra os titãs de verdade.
O galo bicou o pão e respondeu com um “cócó” calmo, quase confiante.
De repente, passos ecoaram atrás deles.
Um homem de sobretudo preto e insígnias militares observava o garoto com olhos frios.
— Então é você o garoto do galo.
Haruto engoliu em seco.
— Q-quem é você?
O homem se apresentou, abrindo um sorriso mínimo.
— Capitão Ryzen, do Exército de Restauração. — Ele se abaixou, olhando fixamente para Piu-Piu. — Interessante. Um espécime que não se transformou… Isso não deveria ser possível.
Piu-Piu inflou as penas, irritado. Haruto ficou na frente dele.
— Ei, não chega perto dele!
— Relaxe, garoto — respondeu o Capitão, erguendo as mãos. — Só quero entender. Você é... especial.
Antes que Haruto pudesse responder, o homem já estava se afastando.
— Continue lutando, Haruto Kami. Logo o império inteiro vai ouvir o nome de vocês.
E desapareceu entre as sombras.
Haruto olhou para o nada, confuso.
— Que cara esquisito…
Piu-Piu soltou um “cócó” desconfiado.
Haruto sorriu e se levantou, esticando os braços para o céu estrelado.
— Bem, Piu… se o mundo vai ouvir nosso nome, é melhor que seja gritando: “Haruto e Piu-Piu, os Reis da Arena!”
O galo bateu as asas como se concordasse, e juntos seguiram caminhando entre os escombros iluminados pela lua.
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Atualizado até capítulo 53
Comments
Willian da silva
/Angry//Angry//Angry//Smile/👏
2025-10-09
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