Sem Você, Eu Não Sou
A música "Uptown Funk" de Mark Ronson e Bruno Mars estava a todo vapor na casa de minha amiga, Rachel, uma típica casa suburbana americana com um quintal grande e uma varanda espaçosa. A decoração era simples, com balões coloridos e uma faixa que dizia "Festa de Rachel" em letras grandes e alegres. A casa estava lotada de amigos e conhecidos, todos dançando e se divertindo.
Eu estava dançando com meus amigos no meio da sala de estar, procuro por Alex, meu namorado, mas não o vejo em lugar nenhum. Vou até a cozinha, que está lotada de gente se servindo de comida e bebida. Vejo um casal se beijando na pia, mas não dou muita atenção. Olho ao redor e não vejo Alex. Estou prestes a voltar para a sala quando um idiota passa correndo e derrama cerveja em mim.
O garoto que derramou cerveja em mim é alto e magro, com cabelos castanhos desgrenhados e um sorriso bobo no rosto. Ele parece ter uns 18 anos, e está claramente bêbado. "Filho da...!", eu grito, furiosa, enquanto ele olha para mim com um olhar de desculpas e sai correndo atrás de seu amigo.
Agora com a roupa toda molhada, eu subo as escadas indo na direção do quarto da Rachel para trocar de blusa. Eu abro a porta do quarto e me deparo com Alex beijando Rachel. O quarto está uma bagunça, com roupas e objetos espalhados por todos os lados. Eu olho para os dois que me olham surpresos. "Vocês se merecem", eu digo, com raiva e dor, e então saio descendo as escadas e indo para a frente da casa, onde posso respirar um pouco de ar fresco e tentar processar o que acabou de acontecer.
A festa continua lá dentro, mas eu não quero mais participar. Eu estou muito magoada e confusa, e preciso de um tempo para pensar no que fazer em seguida.
Eu pego meu telefone e ligo para minha mãe. "Mãe, você pode me buscar?", digo assim que ela atende, tentando controlar a minha voz trêmula.
"O que aconteceu, Harper? Você está bem? São quase 2 horas da manhã", ela responde do outro lado, com uma voz sonolenta e preocupada.
"Por favor, mãe, só venha me buscar. Eu preciso sair daqui", peço, sentindo as lágrimas começarem a brotar nos meus olhos.
"Tabom, estou indo. O que está acontecendo? Você está chorando?", ela pergunta, agora mais alerta e preocupada.
"Não... não é nada. Só venha", peço novamente, tentando conter as lágrimas.
"Estou indo, filha. Aguenta firme", ela diz.
"Harper!", eu escuto Alex gritando meu nome. Ele se aproxima de mim. "Deixa eu explicar", ele diz.
"Explicar o que?", eu pergunto, sentindo a raiva e a dor crescendo dentro de mim. "Não tem o que explicar, eu vi."
Aquilo não foi nada, Alex insiste, tentando minimizar o que eu acabei de ver.
"É você que eu amo", ele diz, tentando me convencer a acreditar nele, mas suas palavras soam vazias e falsas para mim.
"Não minta para mim", eu digo, sentindo a raiva e a dor crescendo dentro de mim. "Eu vi você com ela. Não tente justificar isso."
"Harper, por favor, ouça-me", ele pede, mas eu já não quero mais ouvir. Eu quero apenas sair dali e esquecer que isso aconteceu.
E então vejo Rachel chegar atrás dele, com uma expressão de culpa e arrependimento no rosto.
"Harper, vamos conversar", ela diz, tentando se aproximar de mim.
"Deixa eu explicar o que aconteceu", ela continua, mas eu a interrompo.
"Não precisa de explicação", eu digo, com raiva e dor na voz. "Eu vi tudo. Eu vi você e ele juntos. Não há nada mais a dizer."
Rachel olha para Alex e depois para mim, com uma expressão de tristeza e remorso, mas eu não quero mais ouvir. Eu quero apenas sair dali e esquecer que isso aconteceu.
Eu olho para a estrada e vejo o carro da minha mãe se aproximando. Assim que ela para o carro, eu entro. Meu pai está dirigindo e minha mãe está no banco do carona.
"O que aconteceu?", meu pai pergunta, com preocupação e irritação na voz.
"Não é nada, só quero ir pra casa", eu respondo, tentando conter as lágrimas.
"O que aconteceu?", minha mãe pergunta novamente, se virando para mim. Eu noto que ela ainda está vestida com roupa de dormir, eles devem ter saído com tanta pressa.
"Eu peguei o Alex e a Rachel juntos", eu respondo, sentindo a dor e a traição novamente.
"Esse garoto é um idiota", meu pai diz, batendo no volante com a mão. "Eu sabia que ele não era bom para você." Minha mãe coloca a mão no braço dele, tentando acalmá-lo. "Vamos para casa e conversamos sobre isso, ok?"
Eu estou sentada no banco de trás, olhando pela janela enquanto passamos pelas ruas escuras e molhadas. A chuva está caindo forte, e os pneus do carro fazem um barulho constante ao passar pelas poças d'água. As gotas de chuva batem contra o vidro como pequenas explosões, criando um ritmo hipnótico que me faz sentir sonolenta.
Meu pai está dirigindo com cuidado, seus olhos fixos na estrada à frente. A luz dos faróis do carro ilumina a cortina de chuva que cai sobre o para-brisa, criando um efeito de túnel. Minha mãe está ao lado dele, olhando para mim com preocupação.
De repente, um carro surge da escuridão, seus faróis altos iluminando o interior do nosso carro. Meu pai pisca os olhos, protegendo-os da luz intensa. O carro vem em sentido contrário, passando pela faixa de pedestres e invadindo nossa pista.
Meu pai grita "Não!" e tenta desviar, mas é tarde demais. O carro derrapa na pista molhada, e eu sinto um peso estranho no estômago. O som dos pneus cantando é como um grito agudo, e eu sinto o carro começar a girar.
Tudo parece acontecer em câmera lenta. O carro bate com um impacto violento, e eu sinto um choque elétrico percorrer meu corpo. O som do metal se deformando e do vidro quebrando é ensurdecedor. Eu sinto uma dor aguda na cabeça e tudo fica preto.
Quando eu acordo, estou desorientada e confusa. O carro está de lado, e eu estou pendurada no cinto de segurança. Meu pai está inconsciente ao volante, sua cabeça caída para o lado. Minha mãe está gemendo no banco do carona, sua mão estendida para mim.
Eu tento me libertar do cinto de segurança, mas ele está preso. Eu começo a entrar em pânico, gritando por ajuda. A chuva continua a cair sobre o carro, e eu posso sentir a água começando a entrar. Ela escorre pelo teto do carro, formando uma poça no chão.
Eu puxo o cinto de segurança com força, tentando me libertar. Meu coração está acelerado, e eu posso sentir o medo crescendo dentro de mim. Eu preciso sair daqui. Eu preciso ajudar meus pais.
Finalmente, o cinto de segurança se solta, e eu caio sobre o banco. Eu me arrasto para fora do carro, gritando por ajuda. A chuva cai sobre mim, encharcando minhas roupas e me fazendo tremer.
Eu olho para o carro, e meu coração se aperta. Meu pai ainda está inconsciente, e minha mãe está tentando se sentar. Eu corro para o lado do carro e abro a porta.
"Mãe!", eu grito, tentando me manter firme. "Mãe, você está bem?"
Ela olha para mim, seus olhos desfocados. "Harper...", ela sussurra.
Eu sinto um alívio momentâneo, mas logo me dou conta da gravidade da situação. Nós precisamos de ajuda. Eu preciso chamar alguém.
Eu pego o celular do meu pai e tento ligar para o socorro, mas minhas mãos estão tremendo e eu não consigo digitar os números certos. Eu estou começando a entrar em pânico novamente.
Eu respiro fundo e tento novamente. Desta vez, eu consigo ligar. Eu explico a situação para o atendente, tentando manter a calma.
"Socorro está a caminho", ele diz.
Eu assinto, mesmo sabendo que ele não pode me ver. Eu olho para meus pais, e meu coração se aperta. Por favor, por favor, por favor, eu penso. Não deixe que eles morram.
Eu fico ao lado de meus pais, tentando mantê-los calmos e confortáveis até que a ajuda chegue. Minha mãe está consciente, mas meu pai continua inconsciente. Eu estou começando a sentir um pânico crescente, mas tento manter a calma por eles.
Depois do que parece ser uma eternidade, eu ouço o som de sirenes ao longe. Eu começo a acenar com as braços e gritar por ajuda, mesmo sabendo que eles provavelmente não podem me ver.
Os paramédicos chegam rapidamente e começam a trabalhar em meus pais. Eles são profissionais e eficientes, e eu posso ver a preocupação em seus rostos.
"Você está bem?", um deles pergunta para mim, enquanto trabalha em meu pai.
Eu assinto, tentando manter as lágrimas de volta. "Sim, eu estou bem. Mas meus pais...?"
"Estamos fazendo o nosso melhor", ele responde. "Você precisa se afastar um pouco para que possamos trabalhar."
Eu assinto e dou alguns passos para trás, observando enquanto os paramédicos trabalham em meus pais. Eles são colocados em uma maca e levados para a ambulância.
Eu sigo atrás deles, sentindo-me impotente e assustada. O que vai acontecer com meus pais? Vão ficar bem?
A ambulância chegou ao hospital com um barulho de sirenes ensurdecedor, que ecoou pelas paredes brancas do prédio. Os paramédicos levaram meus pais para dentro, e eu fiquei na sala de espera, ansiosa por notícias. Eu estava encharcada, com as roupas grudadas no corpo, e tremendo de frio e choque. Uma enfermeira me ofereceu um cobertor, que eu aceitei agradecida, mas não consegui me aquecer.
A sala de espera era uma caixa branca e estéril, com cadeiras de plástico e uma TV ligada em um canal de notícias. Eu não conseguia prestar atenção à programação. Meus olhos estavam fixos na porta, esperando que alguém saísse e me dissesse que tudo estava bem. O tempo parecia passar devagar, cada minuto se estendendo como uma eternidade.
Eu olhei ao redor da sala, tentando encontrar algo que me distraísse da ansiedade que estava crescendo dentro de mim. As paredes estavam pintadas de um tom suave de azul, e havia algumas plantas em vasos sobre uma mesa baixa. Mas nada parecia ter importância diante da incerteza que me envolvia.
De repente, a porta da sala de espera se abriu, e um médico saiu. Ele tinha uma expressão séria no rosto, e eu soube que algo estava errado. Ele se aproximou de mim, seus olhos cheios de compaixão.
"Eu sinto muito. Seu pai... ele faleceu no local do acidente."
Eu senti como se tivesse sido atingida por um soco no estômago. O ar saiu dos meus pulmões, e eu não consegui respirar. Eu não queria ouvir mais nada. Eu não queria acreditar no que estava ouvindo.
"Não", eu disse, minha voz trêmula. "Isso não pode estar acontecendo. Meu pai não pode ter ido embora."
O médico me olhou com tristeza, e eu pude ver a compaixão em seus olhos. Ele se aproximou mais de mim, e eu senti seu braço ao redor dos meus ombros.
"Eu sinto muito", ele repetiu. "
Eu assenti, sentindo um nó na garganta. Eu precisava ser forte por minha mãe. Eu precisava estar lá para ela. Eu precisava ser a filha que meu pai queria que eu fosse.
Mas, por dentro, eu estava morrendo. Eu estava perdendo meu pai, e eu não sabia como lidar com isso. Eu não sabia como continuar sem ele. Eu não sabia como ser forte o suficiente para minha mãe.
Eu olhei para o médico, e ele me olhou de volta, seus olhos cheios de compreensão. Ele sabia que eu estava sofrendo, e ele estava lá para me ajudar. Mas, mesmo com todo o seu apoio, eu sabia que essa dor nunca iria embora.
Eu olho para o médico, meus olhos cheios de lágrimas. "Ela vai viver?", eu pergunto, minha voz trêmula.
O médico hesita por um momento antes de responder. "Ela está em cirurgia agora. Nós estamos fazendo tudo o que podemos para ajudá-la. Mas ela perdeu muito sangue... É difícil dizer como ela vai se recuperar."
Eu sinto um nó na garganta ao ouvir suas palavras. Eu não quero perder minha mãe também. Eu não posso perder minha mãe.
"Vamos torcer que ela fique bem", o médico diz, tentando me tranquilizar.
Eu assinto, sentindo uma onda de desespero me invadir. Eu preciso fazer algo. Eu preciso ter alguém aqui comigo.
"Eu aconselho você a ligar para algum parente para vir ficar com você", o médico diz. "Você não deve ficar sozinha nesse momento."
Eu balanço a cabeça, sentindo uma dor profunda no peito. "Eu não tenho ninguém", eu digo, minha voz quase inaudível. "Somos só nós... minha mãe e eu."
O médico me olha com compaixão, e eu posso ver a tristeza em seus olhos. Ele sabe que eu estou sozinha nesse momento, e que eu preciso de alguém para me apoiar.
Eu pego meu celular e começo a discar um número, mas logo percebo que não tenho ninguém para ligar. Eu não tenho tios, primos ou avós. É só minha mãe, meu pai e eu. Eu sinto uma sensação de solidão me invadir, e eu começo a chorar.
Eu sinto uma onda de culpa me invadir enquanto choro. "Eu tinha o Alex até uma hora atrás", eu digo, minha voz entrecortada. "Agora também não tenho ele. Se eu não tivesse ligado para meus pais, não estaríamos nessa situação."
O médico se aproxima de mim e coloca uma mão no meu ombro. "Você não é culpada", ele diz, sua voz suave. "Foi um acidente. O outro motorista estava alcoolizado. Você não poderia ter feito nada para evitar isso."
Eu olho para ele, mas não consigo me convencer. "Se eu não tivesse ligado para minha mãe", eu digo, minha voz trêmula. "Ela não estaria aqui agora. Meu pai... ele ainda estaria vivo."
O médico me olha com compaixão. "Você não pode se culpar por isso", ele diz. "Você ligou para sua mãe porque precisava de ajuda. Isso não é culpa sua."
Mas eu sei que é. Eu sei que se eu não tivesse ligado, nada disso teria acontecido. Meu pai ainda estaria vivo, e minha mãe não estaria lutando pela vida.
Eu sinto uma dor profunda no peito ao pensar nisso. Eu não sei como vou viver com essa culpa. Eu não sei como vou superar isso.
O médico continua a falar, tentando me consolar, mas eu não estou ouvindo. Eu estou perdida em meus próprios pensamentos, me culpando pelo que aconteceu.
Eu olho para o médico, minha voz trêmula. "E o outro motorista, o alcoolizado...?"
O médico hesita por um momento antes de responder, sua expressão séria. "Ele... não resistiu aos ferimentos."
Eu sinto uma mistura de emoções ao ouvir as palavras do médico. Uma parte de mim se sente triste pelo fato de que alguém perdeu a vida, mas outra parte de mim se sente... justificada? É uma sensação estranha, saber que a pessoa que causou tanto sofrimento não vai mais causar mal a ninguém.
"Ele estava dirigindo sob efeito de álcool", o médico continua. "Ele colocou não apenas a vida dele em risco, mas também a vida de outras pessoas."
Eu assinto, sentindo uma sensação de justiça, mas também uma profunda tristeza. Eu não desejo a morte de ninguém, mas é difícil não sentir uma sensação de justiça quando alguém paga pelo seu erro.
...
Eu estou sentada na sala de espera, ansiosa por notícias da minha mãe. Já faz três horas que ela está em cirurgia e eu estou começando a me sentir ansiosa e cansada. Eu estou tremendo de frio e meus olhos estão pesados.
De repente, uma enfermeira se aproxima de mim, sorrindo gentilmente. Ela carrega uma sacola com roupas nas mãos. "Harper, é você?", ela pergunta.
Eu assinto, curiosa. "Sim, sou eu."
A enfermeira se aproxima mais de mim e me entrega a sacola. "Nós temos algumas roupas secas para você", ela diz. "Você pode se trocar e se sentir mais confortável."
Eu olho para a sacola e vejo que há um par de calças de moletom e uma camiseta dentro. Eu sinto uma onda de gratidão para com a enfermeira.
"Obrigada", eu digo, sentindo-me um pouco mais animada. "Eu estava começando a me sentir desconfortável."
A enfermeira sorri. "Sim, eu posso imaginar. Você está tremendo de frio. Por que não vai se trocar e eu vou verificar como sua mãe está? Eu prometo que vou voltar aqui e contar tudo para você."
Eu hesito por um momento, pensando se devo deixar a sala de espera. Mas a ideia de me trocar e me sentir mais confortável é muito tentadora.
"Ok", eu digo finalmente. "Eu vou me trocar."
A enfermeira sorri e me indica o caminho para o banheiro. Eu pego a sacola e vou me trocar, sentindo-me um pouco mais animada agora que tenho a chance de me sentir mais confortável.
Eu entro no banheiro e olho no espelho, vendo os curativos onde tive algumas lesões. Eu coloco minhas mãos sobre a pia e olho meu reflexo fixamente em meus olhos. Por um momento, eu sinto como se estivesse olhando para uma estranha.
E então, as lágrimas começam a escorrer. Eu sinto uma dor profunda no peito, como se meu coração estivesse sendo esmagado. Eu me agacho no chão do banheiro, sentada sobre meus calcanhares, e choro.
Eu nunca mais vou ver meu pai. A realidade da situação me atinge como um golpe. Eu nunca mais vou ouvir sua voz, nunca mais vou sentir seu abraço. A última palavra do meu pai foi "não". Eu não sei o que ele estava dizendo não, mas agora é tarde demais para perguntar.
Milhões de pensamentos invadem minha cabeça. Qual foi a última coisa que ele comeu? Qual foi a última música que ele ouviu? Ele nunca mais vai dizer que me ama, nunca mais vai estar lá para me apoiar nos momentos importantes da minha vida. Ele não vai entrar na igreja comigo no dia do meu casamento, não vai ver meus filhos crescerem.
Eu choro e choro, sentindo a dor e a perda. Eu não sei como vou superar isso. Eu não sei como vou viver sem ele. Mas por agora, eu só posso chorar e sentir a dor da perda.
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Atualizado até capítulo 28
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