O quarto parecia pequeno demais para nós três, ela ali ajoelhada ao lado da cama, sua mão constantemente alisando a dele, Otto pedindo que ele mantivesse a calma e que eu ouvisse com atenção, sentia que vinha algo pior, e as cegas o medo me dominou, o que meu pai queria dizer de tão grave?
O ar carregado de medicamentos e morte iminente só aumentava a tensão. Eu e Veronica nos encaramos como se estivéssemos em um duelo de vida ou morte. Já havia enfrentado rivais implacáveis, homens armados, chefes de outras nações… mas ali estava um adversário diferente. Uma jovem de corpo perfeito, rosto de anjo e olhar afiado como a mira de um inimigo.
Otávio, fraco, tossia em meio ao silêncio. Seu peito arfava, mas os olhos estavam claros, lúcidos. Então a porta se abriu.
O médico ajeitou os óculos no rosto, respirou fundo e encarou a todos no quarto. O silêncio era tão denso que até a madeira velha parecia ranger em respeito.
— Preciso ser franco com vocês — começou, a voz baixa, mas firme. — O senhor Otávio Callahan está em estado avançado de câncer no pulmão.
Veronica levou a mão à boca, os olhos já marejados. Eu, por dentro, congelei.
O médico continuou, sem espaço para esperanças vazias:
— O tumor tomou grande parte do pulmão esquerdo e já há metástase em outras regiões. Por isso a tosse com sangue, a falta de ar, a fraqueza constante. Não há possibilidade de cirurgia. O tratamento, neste estágio, só serve para aliviar a dor.
Ele olhou para mim, depois para Veronica, como se medisse nossas forças.
— Não sabemos quanto tempo resta. Dias, talvez semanas. Mas quero que saibam: ele está lúcido. Em pleno uso de suas faculdades mentais. Qualquer decisão que tomar agora tem plena validade, e atestei isso em um laudo que já está com o advogado.
As palavras caíram sobre nós como um peso irreversível. Eu apertei os punhos, tentando esconder o nó que crescia na garganta. Veronica, ao contrário, chorava silenciosa, agarrada à beira da cama como se pudesse segurar a vida de Otávio à força.
O médico fechou a pasta com um estalo seco.
— Meu dever é cuidar para que ele sofra o mínimo possível. O resto… está nas mãos de vocês.
Antes que pudesse absorver, o advogado surgiu com uma pasta de couro. A cena parecia ensaiada, cruel, como se a morte já tivesse combinado a hora de agir. Ele se posicionou ao lado da cama e começou a ler, sem cerimônia: cláusulas, patrimônio, conta, herança. Até que chegou ao ponto final.
— Por desejo expresso de Otávio Callahan — disse, com a voz firme — a fazenda e todos os bens serão herdados somente se Dominique Callahan e Veronica Blake se casarem.
O impacto caiu sobre nós como um soco. Senti o peso da escolha. Eu não precisava daquelas terras, tinha mais riqueza do que qualquer homem poderia gastar em dez vidas. Mas olhar para meu pai, no leito de morte, me fez entender: cumprir sua vontade era a única forma de honrá-lo.
Veronica, porém, explodiu.
— Não! Eu prefiro a rua! Não vou me vender, não vou aceitar isso!
O choro em seus olhos a contradizia. Quando Otávio tossiu sangue, arquejando, ela vacilou, agarrando sua mão. Foi nesse momento que entendi que, mesmo odiando a ideia, ela também não poderia abandoná-lo.
Eu quebrei o silêncio:
— Que seja. Cumprimos.
— Cumprimos? Você não responde por mim… — ela murmurou, derrotada.
— Filha, é a melhor forma, lembre dos homens que procuram me tomar as terras, Dominique é advogado, é duro, firme, um homem com meu sangue para ajudar a cuidar da sua segurança. — Meu pai falou.
— Tudo bem, eu aceito, mas por você, seu filho não merece nada. — falou levantando.
— Tudo bem filha, vá descansar, estou cansado. — ele falou e ela beijou sua mão, ele sorriu fraco, me aproximei e beijei sua mão, enquanto abaixava ele falou baixinho:
— Cuide dela, não a abandone como fez comigo.
Não respondi de imediato, mas ele não soltou minha mão, então assenti, não viveria ali, mas trataria de cuidar da segurança dela e do que a fazenda precisava.
Quando saímos do quarto, a guerra entre nós recomeçou. Eu me aproximei, deixando meu olhar pesar sobre o dela.
— Deve comemorar, mocinha. Vai se casar com um multimilionário. Não vejo vantagem nenhuma nessa troca.
Ela ergueu o queixo, cuspindo as palavras como veneno.
— Não quero nada de você. Só quero as terras. Se tivesse um pingo de vergonha, iria embora e nunca mais voltaria.
A raiva dela me atingiu como uma lâmina, mas ao invés de afastar, despertou algo em mim. O gosto de desafio, o sabor da guerra. Sorrio, porque sei que ela já é uma batalha que quero travar.
Sem mais palavras, cada um seguiu para um quarto, ambos carregando a mesma fúria ardente que só prometia incendiar ainda mais o futuro.
A noite o jantar estava servido, mas eu mal tocava na comida. Augusta, fiel como sempre, me recebeu com um abraço apertado, como se quisesse apagar os anos de ausência. Por um instante, quase acreditei que ainda havia um lugar para mim ali.
Mas meus olhos foram atraídos pela janela de vidro da sala. No jardim, sentada sozinha no banco de pedra, estava Veronica. O vestido simples balançava com a brisa da noite, e a postura dela era um misto de força e fragilidade.
Notei os olhares de alguns empregados, atentos demais à presença dela. Aquilo me incomodou.
— Quem é, de fato, essa garota? — perguntei, a voz baixa, mas firme.
Augusta suspirou, como se carregasse um peso antigo.
— Seu pai a resgatou depois de um acidente. Ela perdeu os pais ainda menina. Desde então, Otávio cuidou dela como filha.
As palavras ecoaram em mim, mais fortes do que imaginei. Enquanto refletia, o som de passos apressados cortou o ar. Otto surgiu, os olhos vermelhos, o peito arfando.
— Dominique… — a voz dele falhou. — Ele partiu.
O mundo pareceu desmoronar. Uma lágrima solitária escapou antes que eu pudesse contê-la. Meu pai, meu pilar silencioso, já não estava mais. Respirei fundo, sufocado.
— Vou chamar Veronica. — murmurei.
Caminhei devagar até o jardim, o peso da notícia me esmagando. Ela chorava baixinho, o rosto escondido entre as mãos. Por um instante, fiquei parado, sem saber como abordar. Não éramos amigos, muito menos aliados. Éramos inimigos presos pelo mesmo laço: Otávio Callahan.
Sentei-me ao lado dela, mantendo a distância de um estranho.
— Veronica… — comecei, a voz rouca. — Preciso te dizer…
Ela ergueu os olhos, marejados, e bastou para que minhas palavras saíssem em sussurro.
— Ele se foi.
O grito dela atravessou a noite. Veronica correu para dentro, desesperada, o coração dela despedaçando diante de mim. Fiquei ali, imóvel, entendendo finalmente o que não quis ver antes: nos cinco anos em que estive longe, foi ela quem viveu à sombra dele. Foi ela quem esteve ao lado do homem que agora partira.
E essa verdade, mais do que qualquer contrato ou herança, me queimava por dentro.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Jane Silva
vc pode ter ajudado de longe, mas ela esteve no dia a dia
2025-10-06
0
Eliana Rantin
E cabra! o remorco dói pra caramba 🤭🤭🤭
2025-09-30
3
Dulce Gama
santo Deus quando ela descobrir que ele foi o assassino dos pais dela o que ele terá pra falar vai ser duro caraca 🌟🌟🌟🌟🌟🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁❤️❤️❤️❤️❤️👍👍👍👍👍
2025-10-08
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