Cinco anos haviam passado desde a noite em que sai de casa, a dois anos de fato assumi as rédeas da organização. Aos vinte e três anos, já não era apenas o executor, era o líder. O velho que me pagava, ele era o líder, confiara a mim seu legado, e eu não hesitei em eliminar quem ousou tramar contra ele. O sangue derramado naquela noite cimentara minha posição, eu o salvei e ele me guiou ao topo. Desde então, todos me temiam, todos me respeitavam. Eu tinha dinheiro, armas, homens me servindo e qualquer mulher aos meus pés… tudo que qualquer outro ambicionaria.
Tudo, menos meu pai.
Eu mantinha contato à distância, por um de seus homens de confiança da fazenda. Mandava dinheiro, cuidava de dívidas, mantinha o lugar de pé sem que ele sequer soubesse que partia de mim, quantias pequenas para que o velho teimoso não recusasse.
De vez em quando, ouvia relatos curiosos: meu pai estava sempre acompanhado de uma tal de Veronica, uma mulher que parecia lhe trazer paz. Talvez fosse bom para ele ter alguém assim por perto. Eu nunca pedi detalhes. Nunca quis saber mais.
Naquela noite, eu negociava com dois aliados, homens de famílias poderosas de Chicago. Discutíamos carregamentos, rotas e valores como se estivéssemos falando de negócios limpos. A sala estava cheia de fumaça de charuto, copos de uísque pela metade, olhares pesados. Um jogo de poder corriqueiro, nada que me abalasse.
Foi então que meu celular vibrou na mesa. O número era familiar. Atendi.
— Senhor Callahan… é sobre seu pai. — a voz, tensa, hesitou. — Ele está muito mal. Não sabemos se resiste até amanhã, ele quer te ver.
Por um instante, tudo ao meu redor sumiu. O barulho, os homens, o peso da liderança. Restou apenas o temor frio, a lembrança do homem que me criou, e a culpa que nunca me deixou.
— Preparem o carro. — minha voz soou firme, mas por dentro eu desmoronava.
Pela primeira vez em anos, não era o chefe da organização que falava. Era apenas um filho, correndo contra o tempo para não perder o último olhar do pai.
Antes de partir, tracei as rotas alternativas. Ninguém poderia saber do meu destino. Meus homens acreditariam que eu estava fora do país em negociações. Para eles, seriam somente alguns dias de silêncio. Para mim, era a viagem mais importante da minha vida.
A estrada até a fazenda parecia interminável, cada curva trazendo de volta lembranças de quando eu ainda era somente um garoto que sonhava em sair dali. Só que agora eu voltava diferente: carregado de pecados e poder, mas vazio onde mais importava.
Ao chegar, a visão da casa me atingiu como um soco. Não era mais o mesmo lugar vibrante que guardava memórias da minha mãe; agora parecia pesado, silencioso. Entrei sem pedir licença, e antes que pudesse dar dois passos, algo veio em minha direção.
Um vaso estourou contra meu braço, os cacos voando. À frente, uma jovem de olhos claros me encarava com fúria e coragem.
— Saia daqui! — gritou, erguendo outro objeto como se fosse uma arma. — Não vou deixar que faça mal a ele! Malditos abutres, já falaram que ele está partindo? Mas ele não vai, Otávio não vai me deixar.
— O que está fazendo? — retruquei, controlando o impulso de reagir. — Eu sou o filho dele, quem pensa que é?.
— Mentira! — os olhos dela faiscaram. — Otávio não tem filho. Eu cresci ao lado dele, eu saberia!
O choque me paralisou por um instante. Como assim? Antes que pudesse responder, passos ecoaram pelo corredor. O velho empregado de confiança surgiu, ofegante, e a cena congelou.
— Veronica, pare! — disse, segurando o braço dela. — Esse é Dominique Callahan… o filhodo Otávio, ele foi embora a cinco anos, pouca coisa antes de você chegar.
Ela piscou, atônita, ainda sem largar o objeto. O homem então se virou para mim, a voz pesada de significado:
— Dominique, essa é Veronica Blake. Há cinco anos, Otávio a cria como filha.
O silêncio que se seguiu foi mais cortante que qualquer lâmina. De repente, eu não era apenas o herdeiro ausente. Era um estranho invadindo um lar que já tinha outra guardiã.
— Venha filho, seu pai tem algo a dizer. — ele falou e seguiu corredor adentro.
Ainda atordoado pela revelação, o segui. O cheiro de medicamentos e o ranger da porta denunciaram a fragilidade do lugar.
Meu pai estava ali, deitado, a respiração pesada, o rosto envelhecido além do que eu lembrava. Mas, ao me ver, seus olhos marejados brilharam como se voltassem a ser os de antes.
— Dominique… — sua voz falhou, mas carregava emoção. — Meu filho…
Me aproximei, engolindo a culpa como veneno. Toquei sua mão, e senti a pele frágil, mas o calor familiar.
— Estou aqui, pai.
Ele olhou para Veronica, que estava imóvel no canto do quarto, ainda com a expressão de desconfiança.
— Veronica… ele é meu filho. Foi embora há cinco anos. Nunca te contei porque… porque doía demais falar.
Ela franziu o cenho, cruzando os braços.
— Não deviam ter chamado ele. — disse, ríspida. — Quem abandona não merece voltar. Você ficou sozinho porque ele quis.
Meu sangue ferveu. Dei um passo à frente, encarando-a com dureza.
— Cale a boca. — rosnei. — Não fale como se soubesse de alguma coisa. Você não passa de uma interesseira vivendo à sombra do meu pai.
Ela ergueu o queixo, ofendida.
— Interesseira? Eu estive ao lado dele quando você decidiu virar as costas! Eu cuidei dessa casa, dessa fazenda, enquanto você vivia a sua vida perfeita longe daqui!
Meu punho fechou, a raiva latejando, mas antes que eu pudesse retrucar, a voz cansada de Otávio ecoou, mais forte que a briga.
— Chega! — ordenou, com esforço. — Se vocês me respeitam… vão me ouvir, só uma vez.
— Mas Otávio, ele está me provocando, não vê? — ela reclamou cruzando os braços, seus olhos azuis como o infinito brilhavam com uma fúria impressionantemente atraente.
O quarto mergulhou em silêncio. Ele, o homem que fora o pilar de tudo, exigia a atenção dos dois filhos — de sangue e de coração.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Eliana Rantin
A briga vai ser ferrenha bem 🤣🤣
2025-09-30
1
Dulce Gama
será que o velho vai obrigar eles se casarem vai ser cão e gato 👍👍👍👍👍❤️❤️❤️❤️❤️🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹🌟🌟🌟🌟🌟
2025-10-08
0
Marilia Carvalho Lima
quando ela souber que ele matou os pais dela vai surtar.😔
2025-09-30
1