Meu nome é Veronica Blake e, ao contrário da maioria das meninas da minha idade, eu sempre preferi o cheiro de feno ao perfume das lojas da cidade. Enquanto minhas amigas sonhavam com moda e celulares novos, eu sonhava com cavalos, galpões e bichos machucados para cuidar. Um dia vou ser veterinária, era isso que eu dizia para mim mesma toda vez que via um animal na estrada.
Naquela tarde, estávamos em casa. Meu pai, dono de uma empresa de contabilidade, revisava papéis no escritório enquanto minha mãe preparava café na cozinha. Eu encostei no balcão, animada.
— Pai, sabia que a universidade de Austin tem um curso incrível de veterinária? — falei, os olhos brilhando. — Eu quero estudar lá. Vou cuidar dos animais, das terras…
Meu pai ergueu os olhos dos papéis e sorriu de canto.
— Você e esses bichos, menina… — disse, balançando a cabeça. — Com tantos números no sangue, achei que seguiria meus passos.
— Números são frios, pai. Animais têm coração — retruquei, fazendo minha mãe rir.
— Ela é igual à sua avó, Thomas — comentou minha mãe. — Adorava o campo.
Mais tarde, decidimos dar uma volta de carro. O céu estava limpo e eu ia no banco de trás, falando sem parar sobre cavalos, rodeios, veterinária. Meus pais trocaram olhares cúmplices pela frente. Era um daqueles momentos comuns, uma noite qualquer.
Quando paramos para abastecer no posto de estrada, notei algo estranho. Meu pai saiu do carro com o semblante tenso, olhando em volta. As mãos tremiam um pouco ao segurar a bomba de combustível.
— Mãe… o que aconteceu com o papai? — perguntei, inclinando-me para frente. — Ele parece nervoso.
Ela me olhou pelo retrovisor, forçando um sorriso.
— Não deve ser nada, querida. Às vezes ele se preocupa demais com o trabalho.
Mas a maneira como ela apertou a bolsa contra o colo fez meu estômago apertar. Eu não sabia, mas aquela seria a última vez que eu o veria tranquilo.
Meu pai voltou para o carro, o rosto pálido. Tentou disfarçar, mas não enganou ninguém. A tensão grudava no ar como poeira. Engoli seco, mas antes que pudesse perguntar de novo, ele ligou o motor e saímos do posto.
A estrada estava quase deserta, cortando os campos em silêncio. Eu encostei a testa no vidro, observando as luzes distantes, até perceber que havia um carro atrás de nós. Primeiro parecia coincidência, mas quando aceleramos, ele acelerou também.
— Pai? — minha voz saiu pequena.
Ele não respondeu, apenas apertou o volante com força. Minha mãe esticou a mão e tocou a dele.
— Thomas… — murmurou, tentando acalmá-lo.
Então tudo aconteceu rápido demais. O farol forte atrás de nós, cegou meus olhos rapidamente. O carro bateu com violência em nossa traseira. O mundo virou de cabeça para baixo, vidro estilhaçado, metal retorcido, minha cabeça batendo contra o teto. O grito da minha mãe se perdeu no estrondo.
Quando o carro parou de capotar, o silêncio foi cortado pelo som da minha respiração entrecortada. Minha visão embaçada captou movimentos ao longe. Um homem caminhava em nossa direção. Alto, firme, a sombra dele desenhada contra os faróis.
Meu coração disparou. A lembrança é confusa, como fragmentos soltos: um rosto jovem, olhos frios, mãos decididas. Um tiro. O estalo ecoou. Depois, outro.
Eu tentei chamar minha mãe, mas a voz não saiu. O calor do sangue escorria pela minha testa. Antes que a escuridão me engolisse de vez, a última imagem que guardei foi a do estranho, metade anjo, metade demônio — pairando sobre a cena.
Depois, nada. Só o vazio.
Quando abri os olhos de novo, o mundo girava. O cheiro de gasolina e fumaça enchia o ar. Minha testa ardia, e quando levei a mão, senti o sangue escorrer. Olhei para frente: meus pais estavam desmaiados, imóveis.
— Pai? Mãe? — tentei chamá-los, mas a voz saiu fraca, embargada pelo desespero.
As portas estavam amassadas, o vidro quebrado. Empurrei o cinto com dificuldade e consegui sair do carro, tropeçando na beira da estrada. As pernas mal me obedeciam.
Foi então que uma figura se aproximou. Um homem, firme, mas com expressão carregada de dor, estendeu os braços para me segurar antes que eu caísse.
— Calma, menina… você está segura agora.
— Q-quem é você? — perguntei, com a voz trêmula.
— Otávio Callahan. — ele respondeu, firme. — Vou te ajudar.
Dois homens atrás dele lançaram olhares rápidos para dentro do carro capotado. Eu entendi, ainda que não tivesse forças para reagir: não havia mais nada a ser feito por meus pais.
— Sinto muito… — Otávio murmurou, erguendo-me com cuidado. — Vou levá-la ao hospital. Você não está sozinha.
Apertei os olhos, tentando conter as lágrimas, enquanto ele me conduzia até outro veículo. Entrei cambaleante, sentindo o corpo fraquejar. Otávio bateu a porta, entrou ao volante e acelerou pela estrada escura.
A cada quilômetro, a dor e o cansaço me puxavam de volta para a inconsciência. O último som que ouvi antes de apagar de vez foi a voz dele, firme, quase uma promessa:
— Você vai sobreviver, menina. Eu juro.
No hospital fui cuidada, ele se manteve ao meu lado, perdi a noção de quanto tempo passou quando acordei.
— Oi, eu sou Otávio Callahan, a polícia teve aqui, o acidente infelizmente levou seus pais, tiveram inúmeros mortos essa semana aqui na cidade e o clima está tenso, que idade você tem? Consegue me entender? Me diga se tem alguém que posso chamar?
Olhei confusa, o que mais chamava a atenção era o fato de ainda ser ele, e não alguém da polícia, ou assistente social, o chapéu em sua cabeça me fez sorrir, e só consegui falar sobre isso.
— Sabia que eu amo os animais, meus pais não gostavam, mas eu amo, sou Veronica Blake, e não tenho mais família, mas pode ir embora senhor, você me salvou e lhe devo a vida, mas agora vou esperar o fim triste de algum lar temporário.
— Posso cuidar de você até que a polícia venha e resolva isso, você não teve ferimentos graves, e eu também não tenho ninguém, então mesmo sem substituir seus pais, posso te ajudar, em troca você me ajuda a cuidar dos meus animais. — ele respondeu, era errado confiar? Não sei, mas ele me salvou, e sentia como se fosse Deus me dando ali uma nova chance.
Depois que ele assinou um termo com a assistente social do hospital viemos para a fazenda dele, pediu que uma senhora cuidasse do quarto e do que eu precisava e disse que ia ver na cidade sobre o funeral e cuidar de tudo, assenti emocionada e confusa, era inacreditável que nunca mais veria meus pais.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 29
Comments
Rita DE Cassia Gomes
na dor nasce uma amizade ❤️
2025-10-07
0
Dulce Gama
será que ele vai se envolver com ela apesar dele ter matado os pais dela 🌟🌟🌟🌟🌟🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁❤️❤️❤️❤️❤️👍👍👍👍👍
2025-10-07
0