Na metade da noite, depois daquele dia tumultuado, enquanto tentava relaxar com uma taça de vinho, meu celular começou a tocar com insistência. Pensei em ignorar. Ninguém respeitava mais nem as minhas horas de descanso?
Mas, ao olhar o visor, senti um arrepio percorrer toda a minha espinha 7— a ligação não era local, vinha da Itália. Pelo fuso horário era madrugada lá. Meu coração de mãe disparou, certo de que algo havia acontecido.
Atendi com as mãos trêmulas e a voz do outro lado confirmou meu pior pressentimento. Era a polícia de Milão. Informaram que Eduarda havia sofrido um grave acidente de carro.
As palavras seguintes me dilaceraram — minha filha havia capotado o carro e agora lutava pela vida em um hospital de Milão.
Disseram que apenas dois números constavam para emergências — o meu e outro ao qual não conseguiram contato. Imaginei que fosse o de Frederick — que, provavelmente, não atendeu imaginando ser algum jornalista.
Mal consegui respirar ao desligar. As lágrimas nublavam minha visão, mas eu sabia que não tinha tempo a perder.
Tentei ligar para ele, mas todas as chamadas foram rejeitadas. Desesperada, peguei meu MacBook e comprei uma passagem para Milão dali há algumas horas.
Quando cheguei ao hospital San Marco di Milano — para onde Eduarda fora levada — meu coração parecia querer escapar do peito. O táxi mal havia parado junto à entrada quando eu saltei para fora.
Vários jornalistas já se aglomeravam do lado de fora, e eu tinha quase certeza de que esperavam por notícias sobre Eduarda. A suspeita se confirmou no instante em que um deles me reconheceu.
Fui completamente cercada por eles, baixei a cabeça e continuei a andar, enquanto perguntas eram lançadas para mim e vários microfone surgiam diante de meu rosto.
Assim que passei pelas portas automáticas, o barulho cessou. Arrastei minha mala de viagem, sem sequer notar os olhares curiosos.
Respirando fundo, aproximei-me da recepção e, com a voz trêmula, me identifiquei…
— Bom dia, me chamo Helena Vaughn, sou a mãe da Eduarda Vaughn… preciso falar com o médico responsável pelo caso dela, imediatamente.
A atendente lançou-me um olhar carregado de pesar — provavelmente já havia lido algo nos sites de fofoca e compreendeu meu desespero.
Em seguida, pediu que eu aguardasse, pois entraria em contato com o médico. Em poucos minutos, fui levada até um consultório.
— Bom dia, Sra. Vaughn, sou o médico responsável pelo caso de sua filha, Dr. Luca Moretti.
— Bom dia, Dr. Moretti, agradeço por me receber — disse, tentando manter a voz calma, embora a ansiedade me corroesse por dentro. — Também sou médica, cirurgiã, e gostaria de obter informações mais reais sobre a situação da minha filha.
— Entendo sua preocupação. Já fui pai de paciente também, e sei como é devastador estar desse lado da mesa. — Assenti, sentindo um nó na garganta.
Senti minhas mãos tremerem, e por um instante temi que minha voz falhasse.
Não importava quantos anos de experiência eu tivesse em centros cirúrgicos, nada me preparava para ouvir sobre minha filha naquele estado.
— A sua filha sofreu um acidente gravíssimo — disse o doutor, seu olhar sério e pesaroso. — Ela capotou que ela dirigia capotou e ela sofreu múltiplas fraturas, hemorragia interna e um trauma craniano severo. O estado dela é crítico.
Meu mundo desabou. A voz na minha cabeça se recusava a aceitar aquele diagnóstico — não enquanto eu não a visse com meus próprios olhos.
Ele respirou fundo, como se buscasse palavras mais claras antes de prosseguir.
— Preciso ser absolutamente honesto com a senhora, tanto como pai quanto como colega de profissão. As fraturas nos membros superiores e inferiores, são as que menos nos preocupa nesse momento. Mas as lesões torácicas já comprometem a função pulmonar. Por isso, está sob ventilação mecânica para garantir a oxigenação adequada.
— Então… foi realmente muito grave — murmurei, mais para mim mesma do que para ele, embora sentisse seu olhar atento acompanhar cada palavra.
— Sim, Sra. Vaughn. A hemorragia interna exigiu transfusões emergenciais, mas o risco de instabilidade hemodinâmica ainda é alto. Acredito que entenda do que estou falando.
Meu coração acelerou, um aperto sufocante tomou conta do meu peito.
— Sim, doutor. Ela… ela ainda tem chances reais de sobreviver? — perguntei, com a voz embargada, quase implorando por uma resposta que pudesse me sustentar de pé.
— O trauma cranioencefálico é grave. Identificamos um edema cerebral difuso e, neste momento, estamos monitorando a pressão intracraniana de forma intensiva. Eduarda encontra-se em coma induzido, o que nos permite controlar melhor as funções vitais, mas ainda não podemos prever quais serão as possíveis sequelas neurológicas e se elas existirão.
Senti minhas pernas fraquejarem. Era como se cada palavra dele arrancasse um pedaço do meu coração.
— Sei que não é comum permitir que familiares participem tão de perto, mas tenho experiência em situações complexas e já conduzi muitas cirurgias de risco. Não quero interferir no seu tratamento, mas desejo estar ciente de cada decisão para compreendê-la. — Ele me observou por alguns segundos.
— Posso ver em seus olhos que fala tanto como médica quanto como mãe. Mas deve ter conhecimento de que não posso, eticamente, permitir que esteja envolvida diretamente nas decisões. Seria um conflito para a equipe e para a senhora mesma. — Suspirei, já esperando aquela resposta.
— Eu compreendo, doutor. Na verdade, já imaginava que seria assim. Só preciso estar a par de tudo, sem surpresas. — Um leve sorriso surgiu em seus lábios.
— Sim, isso é possível. Autorizarei que acompanhe de perto as atualizações e participe das discussões sobre o quadro clínico. Sua experiência será respeitada.
Um alívio percorreu meu corpo, e pela primeira vez em horas consegui respirar um pouco melhor.
— Muito obrigada. Isso significa muito para mim… e para minha filha. — Ele assentiu, em tom compreensivo.
— Estaremos nos reunindo amanhã no primeiro horário, para reavaliar a paciente. Se desejar estar presente, terá acesso às informações e poderá sugerir. Só lhe peço uma coisa, Dra. Helena… mantenha a força. Eduarda vai precisar disso mais do que nunca.
— Prometo que manterei. Posso… posso vê-la por alguns minutos? — perguntei, com a garganta apertada e os olhos marejados.
— Ela está na UTI. Mas posso levá-la para vê-la — respondeu Dr. Moretti com um sorriso pesaroso.
Entrei na UTI, e lá estava ela — minha filha, deitada entre fios e tubos, o corpo coberto por ferimentos, a respiração pesada marcada pelo respirador.
Por ser médica, ficou mais fácil entender os termos técnicos enquanto o doutor começava a explicar a situação detalhadamente.
Cada palavra era precisa, e como mãe, não consegui evitar que um arrepio percorresse minha espinha. Sabia exatamente o que significava cada trauma. Compreendia a gravidade e a complexidade do caso da minha menina. E o pior era que nada podia fazer.
Ela estava, literalmente, entre a vida e a morte. Por mais que minha mente racional avaliasse possibilidades e prognósticos, não conseguia encontrar um tratamento diferente do que ela já estava recebendo.
Meu coração de mãe se contraía a cada segundo, a cada bip do monitor, martelando a lembrança cruel da minha impotência naquele momento.
Após alguns minutos, o doutor me olhou com firmeza…
— Doutora, precisamos sair agora. Não é permitido visitas permanecer neste setor.
Meu desejo era ficar ali, ao lado da minha filha, segurando sua mão, sentindo cada respiração. Mas sabia que aquelas regras existiam por uma razão. Respirei fundo e assenti, mesmo com a dor de ter que me afastar.
Assim que saí do hospital, ainda abalada, um grupo de jornalistas ainda estavam ali.
— Sra. Helena, uma única declaração, por favor… Como está sua filha? Ela está viva? Já sabe o que pode ter causado o acidente? — perguntou um dos repórteres, a voz ansiosa, quase invasiva.
Parei por um instante, sentindo a dor transbordar até se transformar em raiva. Eu entendia o papel deles, mas não podia esquecer que, naquele momento, eu não era apenas uma profissional, era uma mãe com a filha na UTI.
— Não tenho nada a declarar. Mas, como mãe, faço um pedido: o estado da minha filha é crítico, e tudo o que peço agora é que respeitem a nossa dor. Deem-nos espaço para respirar, sem nos rodearem como urubus sobre uma carniça. — Olhei cada um deles nos olhos antes de me afastar.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
bete 💗
muito triste espero que se recupere ❤️❤️❤️❤️❤️
2025-09-29
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