Nunca havia passado uma noite tão relaxada quanto aquela. Acordei revigorada, e pela primeira vez em muitos anos, meu reflexo no espelho não carregava olheiras de exaustão ou marcas de preocupação.
Escolhi uma roupa que me deixasse leve para trabalhar e, claro, linda e elegante — uma calça de alfaiataria branca impecável, combinada com um body tomara que caia na mesma tonalidade, realçando a delicadeza da minha pele.
Por cima, um blazer bege alongado, estruturado, que transmitia seriedade sem abrir mão da sofisticação. Nos pés, scarpins nude de salto alto, e no pulso, apenas uma pulseira discreta de ouro.
O cabelo solto em ondas sutis e os brincos pequenos davam o toque final. Eu estava perfeita, pronta para enfrentar qualquer batalha — e, principalmente, mostrar ao mundo que não havia fragilidade em mim.
O interfone tocou, interrompendo meus pensamentos. Atendi, e a voz do Sr. Antônio da portaria do edifício soou preocupada.
— Sra. Helena, bom dia! Precisamos avisar que há vários repórteres na saída da garagem.
Fechei os olhos por um instante, respirando fundo. Como esses abutres descobriram tão rápido meu endereço. Não havia divulgado para ninguém. Não descartei que aquilo poderia ser obra de Frederick…
Ele sabia o quanto eu detestava estar em evidência, e sempre que algum escândalo explodia, me blindava de tudo. Agora, foi completamente diferente. Eu estava no olho do furacão
— Obrigada, Sr. Antônio!
Sorri de canto. Se ele esperava que eu me escondesse, ou gritasse por socorro. Mostraria que não estava sofrendo. Muito pelo contrário — estava feliz, radiante e decidida.
Era chegada a hora de transformar meu medo em escudo e minha liberdade em arma.
Ajustei o blazer nos ombros, peguei minha bolsa e caminhei em direção à porta. Hoje, quem controlaria a narrativa seria eu.
Assim que cheguei à garagem do edifício, pude ouvir o burburinho que vinha da rua. Claro, Frederick era um dos maiores empresários do petróleo, tido como bilionário, e qualquer notícia envolvendo o seu nome era escandalosa demais para ficar nos bastidores.
A traição estampada em sites de fofoca se transformara em combustível para jornalistas sedentos por um escândalo ainda maior.
Entrei no meu carro e me preparei para deixar a garagem, mas percebi que aquelas pessoas estavam determinadas a não me deixar passar sem conceder uma entrevista.
Luzes piscavam mesmo antes do portão abrir completamente. Assim que baixei o vidro, vários flashes foram acionados, cegando-me por um instante.
— Pessoal, sei que estão apenas fazendo o trabalho de vocês, mas no momento eu não tenho nada a declarar. Agradeceria se me deixassem passar, realmente preciso trabalhar — falei com firmeza, tentando manter a compostura. Mas as perguntas começaram a vir como rajadas de metralhadora…
— Senhora, como se sente ao ser trocada por uma garota com a idade de sua filha?
— Já solicitou o divórcio?
— Pretende processar o senhor Frederick?
Minha paciência se esgotava a cada grito, e percebi que não conseguiria sair dali sem dizer algo que encerrasse de vez aquela cena.
Respirei fundo, ergui o queixo e, com a voz firme, decidi dar o que eles tanto queriam — uma declaração.
— Tudo bem, pessoal. Já solicitei sim, o divórcio, e acredito que era algo que já devia ter feito anos atrás. A única coisa que posso dizer… é que desejo felicidades ao novo casal. — Fiz uma pausa, olhando diretamente para as câmeras. — Agora, por gentileza, estou atrasada para o meu compromisso.
Acelerei um pouco o carro, apenas o suficiente para deixar claro que precisava passar. A contragosto, abriram espaço, ainda atirando perguntas no ar e registrando cada movimento meu.
Mantive a postura até o último segundo, mesmo quando o portão se fechou atrás de mim e a rua ficou para trás.
No silêncio do carro, um sorriso leve escapou dos meus lábios. Frederick queria me ver encolhida, destruída, implorando para que a vergonha passasse rápido.
Em vez disso, eu apareci diante do mundo como o oposto — uma mulher firme, elegante e decidida a seguir em frente.
No hospital, as coisas não foram diferentes. Uma nova enxurrada de jornalistas aguardava minha chegada, câmeras e microfones apontados como se eu fosse um espetáculo à parte.
Mas eu sabia que, depois que passasse daqueles portões, eu não seria mais “a esposa traída do Bilionário do petróleo”. Ali, eu era apenas Dra. Helena, e isso bastava.
Foi complicado atravessar a portaria, flashes sendo disparados, pessoas diante do meu veículo e perguntas sendo jogadas de todos os lados. Mas, com a ajuda firme de dois vigilantes que praticamente arrastaram alguns dos mais insistentes, consegui enfim entrar.
Respirei aliviada assim que pisei no corredor principal, onde o silêncio profissional do hospital contrastava com o caos lá fora.
Ao chegar no meu consultório, encontrei Antonella já à minha espera. Seu semblante cansado revelava que o dia dela também havia começado cedo demais.
— Bom dia, doutora — disse, entregando-me uma pasta. Um olhar preocupado.
— Antonella, por favor, exclua qualquer recado que não tenha a ver com meus pacientes — larguei a bolsa na poltrona e tirei o blazer, revelando a blusa branca impecável por baixo. — Agora me diga, o que temos para hoje?
Ela pareceu aliviada por minhas palavras.
— A senhora tem uma visita programada e, logo depois, uma reunião com a equipe médica do senhor Nicolo para decidirem qual procedimento seguir. Além da visita e da reunião, alguns pacientes marcaram retorno.
— Me lembre o caso do senhor Nicolo.
— É o paciente que caiu enquanto esquiava. Fraturou o quadril, punho, costelas e clavícula.
Assenti, imediatamente lembrando do rosto simpático.
— Claro… como poderia esquecer? — um sorriso escapou dos meus lábios. — Um senhor de quase setenta anos, mas com espírito de vinte e cinco.
Recordei das últimas conversas. Mesmo com o corpo castigado pela dor, Sr. Nicolo encontrava espaço para arrancar risadas de toda a equipe. Ele fazia piadas com as talas, transformando um ambiente pesado em algo mais leve.
— Lembro que, na última vez que entrei no quarto, ele me perguntou se conseguiria esquiar no próximo inverno — balancei a cabeça, sorrindo sozinha. — É impossível não admirar a resiliência desse homem.
Antonella riu baixo, claramente partilhando da mesma simpatia pelo paciente.
— Pois é… ele insiste em dizer que vai voltar para as pistas, doutora, pelo menos foi o que o filho me disse sorrindo — disse ela, ainda sorrindo.
— Então vamos trabalhar para que isso aconteça — disse, agora com o humor melhorado.
— Doutora, a senhora realmente está bem? Quero dizer… depois de tudo que saiu na mídia.
— Antonella, faz muito tempo que deixei de me importar com o que publicam sobre meu marido. O que posso afirmar é que precisarei de algumas brechas na minha agenda para tratar de assuntos particulares com um advogado.
— Entendido, doutora. Vou organizar isso para a senhora — disse minha secretária, um sorriso surgindo em seu rosto.
Depois daquela conversa, meu dia seguiu em ritmo frenético. Precisei colocar o celular no silencioso, porque ele simplesmente não parava de tocar. Por várias vezes ouvi Antonella atendendo e inventando algum tipo de desculpa para se livrar das ligações insistentes.
Eu entendia a ânsia por um furo de reportagem, mas parecia impossível para eles compreenderem que, por trás da manchete, existiam pessoas tentando apenas viver suas vidas.
Enquanto tentava me concentrar em estudar o caso de uma criança que havia fraturado o fêmur, o celular vibrou novamente. Outra vez Eduarda. Um sorriso surgiu em meu rosto e atendi.
— Oi, meu amor! Acho que estamos começando a compensar o tempo que passamos sem nos falar — brinquei, sorrindo.
— Mamãe… é verdade que o papai vai ter outro herdeiro? — a pergunta dela me pegou de surpresa, fazendo meu humor sumir e gelando-me por dentro.
— Duda, eu realmente não sei dizer o que é verdade ou não — respondi com calma. — Eu saí de casa, meu amor, e tenho evitado ao máximo acompanhar as mídias. Aconselho você a fazer o mesmo.
Houve uma breve pausa do outro lado, antes que ela perguntasse em tom mais sério…
— A senhora já deu entrada no divórcio?
— Eu pedi o divórcio ao seu pai, mas ainda não procurei um advogado. Estou tentando arrumar uma brecha na minha agenda para isso. Seu pai, sinceramente, já não tem tanta urgência para mim — falei com um sorriso que, mesmo à distância, ela conseguiu perceber.
— A senhora está certa, mamãe. Estou muito orgulhosa da senhora. Apesar de ele ser meu pai, não tem como não me decepcionar por tudo o que ele fez a senhora passar.
— Esqueça isso, meu amor. A única coisa em que deve pensar é na sua carreira e na sua felicidade, Duda.
— Farei isso, mamãe. Amo a senhora!
— Também amo muito você, meu amor! — respondi, sentindo meu coração aquecido, apesar do turbilhão que me cercava.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Marcia Mota
🥰Até agora, gostando muito da estória!
2025-09-28
1
bete 💗
estou amando uma mulher decidida com garra e amor próprio ❤️❤️❤️❤️❤️
2025-09-29
2