Capítulo 5: O Refúgio no Trabalho e um Convite Inesperado

Os dias seguintes ao encontro com Rafael foram um exercício de foco e contenção. Letícia mergulhou de cabeça no trabalho com uma ferocidade que surpreendeu até ela mesma. As planilhas, os relatórios, as intermináveis reuniões virtuais tornaram-se seu refúgio. Era um mundo de lógica e ordem, onde problemas tinham soluções claras e métricas definidas, um contraste bem-vindo com a bagunça emocional que assolava sua vida pessoal.

Ela se voluntariava para projetos extras, trabalhava até mais tarde, buscando na exaustão física uma fuga da agitação mental. Seus pais observavam, preocupados, mas respeitavam seu espaço, contentando-se em garantir que ela comesse e dormisse o mínimo necessário.

Foi em uma dessas noites de trabalho tardio, com Benício já dormindo e a casa em silêncio, que um ping em seu computador a tirou da concentração. Era uma mensagem no Slack, a ferramenta de comunicação da empresa.

Diego (Líder Técnico): Letícia, você ainda online? Preciso de uma visão sua sobre os números do último sprint antes da reunião de amanhã.

Letícia sorriu levemente. Diego. O Líder Técnico de uns 30 e poucos anos, que sempre parecia incrivelmente calmo em meio ao caos das entregas. Ele era inteligente, direto e, não que ela permitisse que seus pensamentos vagassem muito por esse caminho, extremamente atraente. Tinha aquele ar de quem sabia o que estava fazendo, com uma barba bem cuidada e olhos que pareciam sorrir mesmo quando seu rosto estava sério.

Letícia: Claro, Diego. Estou aqui. Quer que eu compartilhe minha tela?

Diego: Melhor ainda. Pode ser rápida uma call de voz?

Seu coração deu um pequeno salto. Uma call de voz após as 22h? Era estritamente profissional, ela sabia, mas era... diferente.

Letícia: Sem problemas.

Em segundos, a conexão foi estabelecida.

— Diego (voz suave, um pouco cansada): Oi, Letícia. Obrigado por estar disponível. — Ele dispensou as formalidades. — Estou olhando a sua análise de custo-benefício da nova feature. Os números são sólidos, mas a equipe está preocupada com o tempo de desenvolvimento. Você vê espaço para negociar prazos com o cliente, ou é tudo ou nada?

Ela se surpreendeu. Ele não estava questionando seu trabalho; estava pedindo sua opinião estratégica, tratando-a como uma igual, uma parceira na decisão.

— Letícia: Olha, Diego — ela começou, sua voz profissional tomando conta. — Se cortarmos a fase de testes automatizados na primeira entrega, ganhamos duas semanas. Mas é um risco. A outra opção é entregar em fases, mas aí o cliente pode achar que estamos enrolando.

— Diego: Hmm. O diabo sempre mora nos detalhes, não é? — ele riu, um som baixo e agradável que fez algo se contrair em seu baixo ventre. — Você prefere arriscar a raiva do cliente ou um bug em produção?

A pergunta era direta e prática. Letícia gostava daquilo.

— Letícia: Entre a fúria do cliente e a minha, eu fico com a do cliente. — ela brincou, surpresa com sua própria ousadia.

Diego riu novamente. — Diego: Resposta de quem conhece os códigos... e as pessoas. Ok, vou defender a entrega em fases. Sua análise me deu munição. Obrigado.

— Letícia: De nada. Estou aqui para isso.

Houve uma pausa breve. Letícia podia quase ouvi-lo pensar do outro lado da linha.

— Diego: Já é tarde. Você mora longe do escritório? — a pergunta saiu natural, sem segundas intenções aparentes.

Letícia congelou por um segundo. Como responder? "Moro com meus pais e meu filho de seis anos"? Soava... tão distante da imagem da profissional competente que ela lutava para projetar.

— Letícia: Não, não. É perto. — ela mentiu, sua voz um pouco mais aguda do que o normal. — E você?

— Diego: Uns 40 minutos de metrô. Mas valeu a pena ficar até agora para resolver isso. Bom, não vou tomar mais seu tempo. Boa noite, Letícia. E de novo, obrigado.

— Letícia: Boa noite, Diego.

A call terminou. Letícia ficou olhando para a tela escura do computador, seu coração batendo um pouco mais rápido do que o justificável. A interação foi rápida, profissional, mas... agradável. Ele a tratou com respeito e inteligência. Pediu sua opinião. Riram juntos.

Era um contraste brutal com a pesada energia de Rafael e com a dinâmica familiar, por mais amorosa que fosse. Foi um gostinho de normalidade adulta, de reconhecimento profissional, de flerte sutil? Ela não sabia. Mas fez bem.

No dia seguinte, durante a reunião, Diego apresentou o plano de entregas em fases, citando nominalmente a "análise precisa da Letícia" como base da decisão. Ela sentiu um calor de orgulho percorrer seu corpo. Era pequeno, mas significativo.

Após a reunião, outra mensagem no Slack.

Diego: E aí, sobreviveu à reunião? O cliente comprou a ideia.

Letícia: Sobrevivi. Graças à sua lábia e aos meus números.

Diego: Equipe imbatível. — Houve outra pausa. — Olha, sei que é meio aleatório, mas o time de tech vai tomar uma cerveja depois do trabalho na sexta, para comemorar o sprint. Você topa vir? Seria legal ter a visão de negócio lá também.

Letícia leu a mensagem três vezes. Um happy hour. Com o trabalho. Era normal. Profissional. Mas era também um convite para um mundo social do qual ela se sentia excluída há anos.

Sua mente imediatamente começou a criar obstáculos. Benício. Seus pais. A babá? Ela nunca precisou de babá. O que vestir? Como se comportar?

Mas então, ela lembrou do caderno. Lembrou da decisão de não deixar Rafael ou suas próprias inseguranças definirem sua vida.

Letícia: Adoraria! Me passa os detalhes.

A resposta foi quase um ato de rebeldia contra a própria rotina. Um passo minúsculo para fora do porto seguro. Ela mal podia acreditar que tinha aceitado.

Quando contou para Camila à noite, sua mãe ficou radiante. — Camila: Claro que você vai! Nós cuidamos do Benício. Você merece sair, se divertir com pessoas da sua idade. — Seus olhos brilhavam. — E esse Diego... ele é solteiro?

— Mãe! — Letícia riu, sentindo um rubor subir em seu rosto. — É um happy hour de trabalho.

— Camila: Tudo é networking, querida — disse Camila com um sorriso matreiro. — Até encontrar o amor.

Letícia abanou a cabeça, rindo, mas uma centelha de excitação, a primeira em muito tempo, acendeu dentro dela. Sexta-feira parecia de repente muito mais interessante. Era apenas um happy hour, mas era dela. Um evento seu, em sua vida adulta, independente de seu papel de mãe ou filha. Era um começo.

Capítulos
1 Capítulo 1: Raízes e Asas
2 Capítulo 2: Fantasmas no Corredor
3 Capítulo 3: A Mensagem que Mudou Tudo
4 Capítulo 4: O Peso da Herança
5 Capítulo 5: O Refúgio no Trabalho e um Convite Inesperado
6 Capítulo 6: O Primeiro Passo Para Fora
7 Capítulo 7: O Sussurro e o Grito
8 Capítulo 8: A Quarta-feira que Virou Sexta
9 Capítulo 9: A Doce Agonia do Segredo
10 Capítulo 10: O Convidado Inesperado
11 Capítulo 11: O Porto Seguro e a Tempestade
12 Capítulo 12: A Primeira Ferramenta da Liberdade
13 Capítulo 13: A Mudança e a Nova Página
14 Capítulo 14: O Jantar e a Realidade
15 Capítulo 15: O Primeiro Encontro
16 Capítulo 16: O Ritmo do "Nós"
17 Capítulo 17: A Sombra e a Luz
18 Capítulo 18: A Primeira Viagem
19 Capítulo 19: A Herança que Floresce
20 Capítulo 20: O Anel e a Escolha
21 Capítulo 21: Os Preparativos e a Comunhão
22 Capítulo 22: O Dia "Sim"
23 Capítulo 23: A Lua-de-Mel no Apartamento
24 Capítulo 24: A Rotina do Corpo e da Alma
25 Capítulo 25: O Sabor do Poder
26 Capítulo 26: A Tempestade Perfeita
27 Capítulo 27: A Marca na Pele
28 Capítulo 28: O Corpo que Habito
29 Capítulo 29: O Sussurro do Futuro
30 Capítulo 30: A Semente do Amanhã
31 Capítulo 31: O Ninho
32 Capítulo 32: A Chegada da Luz
33 Capítulo 33: A Dinâmica do Quatro
34 Capítulo 34: O Reencontro Inevitável
35 Capítulo 35: A Herança que se Conta em Histórias
36 Capítulo 36: O Amanhecer de uma Nova Era
37 Epílogo: O Círculo que Nunca se Fecha
Capítulos

Atualizado até capítulo 37

1
Capítulo 1: Raízes e Asas
2
Capítulo 2: Fantasmas no Corredor
3
Capítulo 3: A Mensagem que Mudou Tudo
4
Capítulo 4: O Peso da Herança
5
Capítulo 5: O Refúgio no Trabalho e um Convite Inesperado
6
Capítulo 6: O Primeiro Passo Para Fora
7
Capítulo 7: O Sussurro e o Grito
8
Capítulo 8: A Quarta-feira que Virou Sexta
9
Capítulo 9: A Doce Agonia do Segredo
10
Capítulo 10: O Convidado Inesperado
11
Capítulo 11: O Porto Seguro e a Tempestade
12
Capítulo 12: A Primeira Ferramenta da Liberdade
13
Capítulo 13: A Mudança e a Nova Página
14
Capítulo 14: O Jantar e a Realidade
15
Capítulo 15: O Primeiro Encontro
16
Capítulo 16: O Ritmo do "Nós"
17
Capítulo 17: A Sombra e a Luz
18
Capítulo 18: A Primeira Viagem
19
Capítulo 19: A Herança que Floresce
20
Capítulo 20: O Anel e a Escolha
21
Capítulo 21: Os Preparativos e a Comunhão
22
Capítulo 22: O Dia "Sim"
23
Capítulo 23: A Lua-de-Mel no Apartamento
24
Capítulo 24: A Rotina do Corpo e da Alma
25
Capítulo 25: O Sabor do Poder
26
Capítulo 26: A Tempestade Perfeita
27
Capítulo 27: A Marca na Pele
28
Capítulo 28: O Corpo que Habito
29
Capítulo 29: O Sussurro do Futuro
30
Capítulo 30: A Semente do Amanhã
31
Capítulo 31: O Ninho
32
Capítulo 32: A Chegada da Luz
33
Capítulo 33: A Dinâmica do Quatro
34
Capítulo 34: O Reencontro Inevitável
35
Capítulo 35: A Herança que se Conta em Histórias
36
Capítulo 36: O Amanhecer de uma Nova Era
37
Epílogo: O Círculo que Nunca se Fecha

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