CAPÍTULO 4

   No mundo em que eu vivo, aprendi desde cedo que confiar em alguém é um erro fatal. Principalmente em quem você não conhece. E por muito tempo vivi dessa forma.

   Ser herdeiro de um império não é tão simples quanto parece. Não quando sua cabeça vale seu peso em ouro. Era isso que significava ser um Kazama. Era isso que significava ser quem eu sou.

   O telefone tocou enquanto meu motorista me levava de volta à mansão, depois de uma tarde inteira de negociações que poderiam ter terminado em banho de sangue. Quando vi o número da clínica na tela, meu estômago se contraiu. Ligação de lá, naquela hora, só podia ser algo ruim.

   — Fala. — atendi, seco.

   Vi os olhos do meu motorista me observando pelo retrovisor. Aquele olhar que todos tinham quando estavam perto de um Yakuza. Medo misturado com respeito.

A voz do outro lado da linha me fez apertar o punho.

   — Senhor Kazama... houve um problema grave com suas amostras biológicas. Alguém invadiu nossos sistemas de segurança e... elas foram roubadas.

   Meu maxilar contraiu. O celular rangeu entre meus dedos.

   — Como assim, roubadas? — A voz saiu baixa, controlada, mas por dentro, meu sangue fervia. — Vocês me garantiram segurança máxima.

   — Senhor, foi algo muito bem planejado. Alguém com acesso interno conseguiu fazer isso. Estamos investigando, mas... todas as amostras principais foram levadas.

O silêncio que se seguiu foi mortal.

   — Vocês têm até meia noite para me explicar detalhadamente como isso aconteceu. E é melhor que tenham respostas. — Desliguei antes que ele pudesse responder.

   Eu sabia que essa merda ia acontecer. Sabia. Mas meu pai, Kanji Kazama, insistiu tanto para que eu congelasse aquelas amostras que acabei cedendo. Agora alguém havia roubado. E quem quer que fosse, pagaria muito caro pela ousadia.

...----------------...

   A tensão na sala principal da mansão estava sufocante naquela noite. Meu pai caminhava de um lado para o outro, completamente fora de si. Era raro vê-lo perder a compostura, mas aquilo havia tocado no ponto mais sensível: o futuro da família.

   — Quem teve a coragem de nos roubar dessa forma?! — rosnou ele, socando o punho contra a parede.

   Eu estava sentado no sofá de couro, bebendo saquê, mas não havia nada de calmo em mim. Cada gole era uma tentativa de conter a fúria que fervia por dentro.

   — Talvez tenha sido apenas um erro deles... — disse Sora, se aproximando da mesa. Alguns anos mais novo que eu, mas meu irmão de criação desde que seu pai o confiou ao meu pai ainda criança. — Vocês sabem como essas clínicas são negligentes. Pode ter sido só incompetência mesmo.

   Coloquei o copo na mesinha com um gesto calculado. Os olhos de todos se voltaram para mim.

   — Não foi erro. — levantei o olhar lentamente, encarando cada um na sala. — Isso foi planejado. Alguém quis nos atingir onde dói. E conseguiu.

   Meu pai parou de andar, me encarando com aquela expressão que eu conhecia desde criança. A mesma de quando tomava decisões que mudavam o rumo dos negócios.

   — Reúnam nossos melhores homens. Quero respostas até o amanhecer. — A ordem saiu gelada e definitiva. — E se for necessário queimar aquela clínica inútil para conseguir informações, que seja.

   Terminei a bebida de um gole só e me levantei. Já sabia exatamente por onde começar.

...----------------...

   A GenLife parecia um cenário de guerra depois que chegamos. Móveis revirados, vidros estilhaçados pelo chão, funcionários ajoelhados em fileiras tremendo como folhas ao vento. Eu caminhava de um lado para o outro, girando minha pistola entre os dedos. O som do metal contra minha pele era o único ruído no silêncio tenso.

   — Alguém aqui vai me contar exatamente o que aconteceu — disse, parando na frente do diretor da clínica. Ele suava frio, as mãos tremendo visivelmente. — E não aceito mentiras.

   — S-senhor Kazama... foi durante a noite. Os sistemas de segurança foram desativados por dentro. Alguém com acesso total...

   — Nomes. — cortei, apontando a arma diretamente para ele. — Quem tinha acesso? Quem conhecia a localização das minhas amostras?

   — Apenas três funcionários... e o técnico de laboratório, Hayashi, mas ele está de férias...

   — Tragam todos eles. Agora. — olhei para meus homens. — E quero cada câmera de segurança revisada. Cada entrada, cada saída. Alguém vai me dar respostas hoje.

O diretor engoliu em seco.

...----------------...

   Os minutos se arrastaram enquanto revisávamos as câmeras, uma por uma. Cada segundo daqueles últimos dias foi analisado com lupa. Até que uma gravação em especial chamou nossa atenção.

   Era de um funcionário entrando no local e depois saindo de forma suspeita, claramente nervoso. Quando bati os olhos nele, soube na hora. Eu conhecia gente desse tipo a quilômetros de distância.

   — Quem é esse desgraçado? — rosnei, quase esfregando a tela do tablet na cara do diretor que tremia ajoelhado no chão.

   Ele olhou para a imagem e depois para mim, engolindo seco.

   — Esse é... é o técnico de laboratório, Hayashi.

   Me afastei rápido, as mãos fechadas em punhos. A raiva queimava nas minhas veias.

   — Nossos homens já devem estar trazendo esse filho da puta... — disse Sora, acendendo um cigarro com gestos calculados.

   Eu não tinha paciência para esperar, mas não havia escolha.

   Os minutos se arrastaram como horas. Minha vontade era de mandar todo mundo pro inferno, mas controlei a fúria até que finalmente meus homens voltaram. Quase quebrei alguma coisa quando vi que traziam apenas três funcionários tremendo de medo, e nenhum deles era o maldito técnico.

   — Cadê o técnico? — rosnei, minha voz ecoando pela clínica destruída.

   Meu homem de confiança tremeu ao ver minha expressão.

   — O técnico está morto, senhor.

Franzi o cenho, encurtando a distância entre nós.

   — Como assim, morto? — inclinei a cabeça, essa história estava ficando cada vez mais estranha.

   — Foi o que descobrimos. Ele morreu há três dias... aparentemente suicídio.

    Isso me cheirava a queima de arquivo. Alguém estava limpando as evidências.

   — Merda... — praguejei entre os dentes, socando a parede mais próxima.

   Olhei para Sora, que retribuiu meu olhar. Alguém estava jogando conosco, mas quem? Havia tantos inimigos que podia ser qualquer um deles.

   — E agora? — Sora pisou no cigarro com força excessiva.

   Suspirei, olhando novamente para o diretor patético ajoelhado no chão.

   — Restou alguma amostra? — questionei-o, minha voz baixa e perigosa.

   Ele hesitou, como se realmente não soubesse como responder sem apanhar.

   — Havia... havia restado apenas uma, senhor... — a voz dele saiu quase inaudível.

Franzi o cenho, já irritado com as hesitações.

  — Onde ela está?

Ele engoliu seco, evitando meu olhar.

  — Uma funcionária... ela confundiu a amostra com outra que estava sendo preparada para inseminação... — engoliu em seco novamente enquanto meu maxilar contraía de raiva — acabou sendo usada por engano numa paciente...

   Eu mal consegui acreditar no que estava ouvindo. Por pouco não esmurrei a cara do desgraçado. Apenas parei meu punho a centímetros do rosto dele, agarrando seu jaleco e o puxando como um boneco de pano.

   — Vocês usaram a única amostra que restava? A última porra que eu tinha? — cuspi as palavras com ódio.

Ele assentiu desesperado.

   — Não foi culpa minha, senhor Kazama... por favor...

   Larguei ele antes que perdesse completamente o controle. Minha mente funcionava a mil por hora.

   — Isso significa que alguma mulher está carregando seu filho, Ren... — disse Sora, sua voz carregada de implicações.

   — Quem foi a mulher? — virei para o diretor com olhos assassinos. — Quero informações!

   — Precisamos de um tempo para localizar as informações... os registros estão...

   — Você tem até o amanhecer — cortei, minha voz gelada como gelo. — Quero saber tudo sobre ela. Nome, sobrenome, onde mora, onde trabalha, com quem se relaciona. Tudo. — Me inclinei mais perto dele. — Porque se eu não tiver essas informações na minha mesa até às seis da manhã, você vai descobrir, do pior jeito, o que acontece com quem me decepciona.

   Com um olhar final que prometia dor, virei as costas e gesticulei para meus homens. Saímos da clínica deixando os destroços para trás.

   Mas por dentro eu estava um caos. Alguma mulher andava por aí com meu filho crescendo na barriga dela. E ela nem fazia ideia de que sua vida havia mudado para sempre.

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Comments

Amanda

Amanda

E como vai mudar...🫣🫣🫣
Agora me pergunto será que podemos realmente confiar em Sora? Será que não teria sido ele para se tornar o líder "o herdeiro " 🤔🤔🤔🤔

2025-09-11

4

Carolina Luz

Carolina Luz

ai ai autora agora vão ter que descobrir em qual delas foi feito a inseminação porque as duas tinham o mesmo nome, acho que a outra já fazia parte do plano mas deu errado, porra Hadassa meu cérebro já tá se embrenhado com os cabelos,😵‍💫😵‍💫🤔🤔

2025-09-12

1

Lyllie J.

Lyllie J.

Até agora estou em choque 🤭, já começou do jeito que a gente gosta🤣

2025-09-11

4

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