Capítulo 4

Ariel olhou para ela com raiva, um olhar gélido que fez Mía se sentir terrivelmente mal, fazendo seu coração encolher dentro do peito. Ele nunca a havia olhado de forma tão dura e desdenhosa. É que ela nunca havia se comportado de forma rebelde com ele, sempre havia sido a esposa dócil e complacente que todos esperavam.

—Quer que eu coloque na sua boca?

Mía se encheu de um pavor inexplicável que lhe gelou o sangue. Estava completamente segura de que Ariel se certificaria de que ela engolisse, e se fizesse isso, se a forçasse a tomar, teria que gritar desesperadamente que estava grávida, e essa revelação, sem dúvida alguma, mudaria o rumo das coisas de uma maneira irreversível.

Talvez, se ele soubesse que levava um filho seu em seu ventre, não quereria se divorciar e ficaria ao seu lado. Isso, em vez de enchê-la de alegria como deveria ser, a entristecia profundamente, porque ela não era capaz de suportar a ideia de que ele ficasse ao seu lado unicamente pelo bebê que esperavam.

—Não é necessário que faça isso —disse agarrando a pílula com dedos trêmulos, em seguida a colocou na boca com fingida resignação. Pegou o copo de água e simulou beber, em seguida se virou para a janela e solicitou com voz quebrada—. Já pode ir embora, por favor.

Ariel soltou um suspiro profundo e carregado de emoções contidas antes de ir embora. Ao chegar no andar de baixo recomendou enfaticamente às empregadas que estivessem atentas a Mía e seu estado. Embora ela acreditasse firmemente que não lhe importava nem um pouco, a realidade era que sim lhe preocupava enormemente sua saúde e bem-estar. Afinal de contas, ela havia estado ao seu lado durante dois anos, sobretudo, se parecia com Zoe, e despreocupar-se de Mía, era como fazê-lo de Zoe.

Ao ficar completamente sozinha na imensidão de seu quarto, Mía tirou rapidamente a pílula da boca, foi mancando com dificuldade até o banheiro e a jogou no vaso sanitário, observando como desaparecia no redemoinho de água.

No passado, quando sua vida era diferente, ela jamais teria desperdiçado nem sequer uma simples pílula. Sua vida havia sido incrivelmente caótica e miserável durante tantos anos, que qualquer coisa que caísse em suas mãos, por insignificante que fosse, cuidava como o tesouro mais precioso do mundo.

Se sentia terrivelmente mal por ter jogado essa pílula no ralo sem consideração, quando lá fora havia tanta gente necessitada que poderia aproveitá-la melhor. Esperava fervorosamente que houvesse perdão divino para esse desperdício, mas era absolutamente necessário jogá-la, porque era o único lugar seguro onde Ariel jamais descobriria que havia mentido descaradamente para ele.

À noite, enquanto a lua se erguia no céu estrelado, a empregada de maior confiança lhe subiu o jantar em uma bandeja de prata, porque Mía não podia caminhar devido à dor lancinante em sua perna. A mulher a atendeu como sempre havia feito, com o devido respeito e a delicadeza que se devia usar para com a senhora da casa, porque para todos os empregados sem exceção, Mía era e continuaria sendo a senhora de Rodríguez, ninguém mais que ela.

Depois de jantar sem muito apetite, Mía revisou ansiosamente seu celular último modelo, presente de Ariel. Buscava desesperadamente em que se entreter para não pensar, mas não encontrou nada que pudesse distrair sua mente atormentada.

Sabia perfeitamente que Ariel não havia retornado para casa, que seguia lá fora fazendo quem sabe o quê, e lhe deu uma curiosidade imensa, quase doentia, de vigiá-lo mediante o GPS que haviam instalado em seu carro há tempo.

Suas mãos, delgadas e com dedos bem finos e elegantes, pressionaram nervosamente sobre o aplicativo de vigília que tantas vezes havia jurado não usar.

Mía observou com horror que o carro de Ariel estava estacionado justo na entrada principal da mansão dos Conde. Não podia entender que diabos fazia ali a essas horas. Desde que se casaram dois anos atrás, jamais havia voltado a pisar nessa casa por vontade própria, sempre que ela ia visitar sua avó materna, ele decidia terminantemente não acompanhá-la, alegando diversos pretextos.

Ao recordar com amargura que nesse mesmo dia lhe havia solicitado o divórcio sem maior explicação, compreendeu subitamente por que havia ido precisamente a essa casa que tanto detestava. Provavelmente estava falando nesse momento com seus familiares para fazê-los saber oficialmente que se divorciariam e, como se fosse um objeto emprestado, a entregaria de volta a sua família como quem devolve algo que já não necessita.

Logo o carro se ligou, Mía observou para onde Benjamín se dirigia. O esteve seguindo mediante o olhar na tela todo o caminho, até que parou.

Expandiu a tela e viu que parou em frente a uma confeitaria, na qual sempre lhe comprava bolos de leite que ela tanto gostava.

Iria lhe comprar bolo?

Pensar nisso fez com que Mía sorrisse e se enchesse de alegria. Talvez havia reconsiderado o divórcio, e estava lhe comprando bolos para que ela o desculpasse.

No passado, quando não podia responder suas ligações ou mensagens, e acreditava que ela estava brava, costumava comprar bolos para animá-la a desculpá-lo.

Ariel, se encontrava em frente à confeitaria favorita de Mía, deter-se nesse lugar não estava em seus planos, mas Zoe teve vontade de comer bolo.

Estavam se dirigindo ao hospital, porque Zoe, sua querida Zoe estava doente do estômago. Há dois anos lhe haviam detectado câncer de estômago, e ela, para não arrastá-lo a esse mundo doloroso, havia decidido ir embora para sofrer sozinha sua doença. Por isso foi embora, foi embora para não fazer sofrer seus familiares, menos a Ariel.

Ariel retornou com o bolo de leite, o estendeu a Zoe, e ela o observou com um sorriso.

—Ari, esqueceu que não gosto de leite? —Ariel não soube o que dizer. Não sabia desde quando havia esquecido o que Zoe gostava e havia se acostumado aos gostos de Mía— Minha irmã gosta, certo? —Zoe forçou um sorriso—. Não se sinta culpado. Viver dois anos com uma mulher aparentemente a mim, não significa que tenha meus mesmos gostos. Afinal de contas, compartilhou muito com ela —disse tratando de diminuir a importância.

—Zoe, perdoe —Ariel se sentia culpado por ter se casado com Mía e esquecer os gostos de Zoe. Sabia que não devia se casar com a irmã de Zoe por despeito, devia procurá-la, apoiá-la nesse momento difícil de sua vida.

Ao notar a culpa no rosto de Ariel, Zoe se aproximou e lhe acariciou o rosto.

—Não foi sua culpa, eu fui embora sem te dizer nada —disse ao soltar algumas lágrimas.

—Sim, é minha culpa —sussurrou Ariel—, mas logo corrigirei meu arroubo.

Zoe o abraçou, se aferrou ao seu corpo e, a aparência de tristeza de segundos atrás, se transformou em um sorriso. Retornar e fingir que estava doente, havia sido uma excelente ideia.

Capítulos
Capítulos

Atualizado até capítulo 74

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!