Capítulo 3

Ariel acariciava lentamente a ferida de Mia com os dedos trêmulos, enquanto ela o observava com os olhos iluminados pelas lágrimas. A suave luz do entardecer que se filtrava pela janela fazia com que seus olhos brilhassem como cristais quebrados, refletindo toda a dor que sentia em seu coração.

Por que ele se comportava assim? Por que continuava mostrando que se importava quando seus pedidos diziam o contrário? Seus gestos de preocupação só serviam para confundi-la mais, para aprofundar o abismo que se abria entre eles a cada segundo que passava.

— Já não continue — pediu Mia, com a voz embargada pela emoção dolorosa, enquanto suas mãos se agarravam com força aos lençóis de algodão branco que cobriam a cama que haviam compartilhado durante tanto tempo.

Supostamente, ela acabava de pedir o divórcio, o que significava que ele não a amava mais e que não se importava nem um pouco com o que pudesse acontecer com ela. Por que continuava se comportando de forma tão contraditória? Estava confundindo-a mais do que já estava, fazendo com que seu coração se debatesse entre a esperança e a resignação.

— Boba, deixe que eu te cure — respondeu ele com voz doce, enquanto continuava aplicando a pomada com delicadeza sobre a pele machucada —, você é muito estabanada, deveria prestar atenção por onde anda. Lembre-se de que eu não estarei mais para cuidar de você quando tudo isso terminar. Suas palavras, embora ditas com doçura, cravaram-se como adagas no coração de Mia.

Isso entristeceu mais Mia, que sentia como as lágrimas se acumulavam em seus olhos, ameaçando transbordar a qualquer momento. Tinha vontade de chorar, de chorar muito até ficar sem fôlego, até que a dor em seu peito se tornasse tão intensa que a deixasse insensível.

— Não quero que me cure! Apenas vá embora. Vá embora daqui, Ariel — exclamou com toda a força que pôde reunir, embora sua voz soasse mais como uma súplica desesperada do que como uma ordem.

Ariel franziu a testa, enquanto suas mãos paravam bruscamente sobre a pele machucada de Mia. Como se atrevia a expulsá-lo daquela maneira tão brusca? Aquele também era seu quarto, sua casa, o lar que haviam construído juntos durante dois anos de casamento, havia esquecido que era seu marido e que compartilhavam a mesma cama há tanto tempo?

Mia se virou bruscamente, deixando as costas para Ariel, em uma tentativa desesperada de ocultar as lágrimas que já não podia conter. Ao se virar, queixou-se involuntariamente, porque o golpe em sua coxa havia sido mais forte do que pensava, e havia deixado um grande hematoma púrpura que, quando tocado, doía seriamente, como se mil agulhas se cravassem em sua pele.

Mia soltou um gemido lastimoso, estava chorando sem poder evitar, e disso se apercebeu imediatamente Ariel, que apertou os punhos com impotência ao vê-la sofrer daquela maneira.

Este saiu do quarto sem dizer palavra, seus passos ressoando no silêncio da casa, e Mia chorou com mais força, abafando o choro no travesseiro que ainda conservava o aroma de ambos, misturado com o sabor salgado de suas lágrimas.

Em outro momento, em dias mais felizes, Ariel não teria ido embora deixando-a assim, embora ela lhe pedisse mil vezes que se fosse, ele teria ficado obstinadamente ao seu lado até que sarasse completamente. Mas agora havia ido embora sem mais nem menos, deixando-a sozinha com sua dor, sem se importar com nada. Definitivamente não a amava mais como antes, e esse pensamento doía mais do que qualquer ferida física.

Ariel regressou depois de um minuto que pareceu eterno, havia ido apressadamente buscar um remédio no andar de baixo, atravessando o corredor e descendo as escadas de dois em dois. O coração de Mia deu um salto de alegria ao ouvir seus passos regressando.

Na realidade, ele não a havia abandonado como ela temia, havia ido buscar remédio, queria dar-lhe um comprimido para que não sofresse mais dor. Esse pequeno gesto de preocupação fez com que seu coração se enchesse de esperança novamente.

Recordando os resultados de seu teste de gravidez que havia visto naquela manhã, a alegria de Mia pelo regresso de Ariel dissipou-se tão rápido como havia chegado. Ela não podia tomar comprimidos, estava grávida de seis semanas, levando em seu ventre um segredo que mudaria tudo.

Ariel não sabia, e se ele soubesse, certamente não pensaria em dar-lhe medicamento que pudesse danificar o bebê. A ironia da situação a atingiu com força: estava a ponto de divorciar-se do pai de seu filho, e ele nem sequer sabia.

— Este comprimido ajudará a que melhores, beba-o — disse ele, estendendo a mão com o medicamento e um copo de água que havia trazido da cozinha.

— Não quero — respondeu ela, virando o rosto para evitar olhá-lo nos olhos, temendo que pudesse ler a verdade em seu olhar.

— Mia, vai se comportar de forma grosseira comigo nestes últimos momentos? — perguntou ele com um toque de tristeza em sua voz que não passou despercebido.

Ela não devia comportar-se desse modo com ele, sabia perfeitamente. Havia sido um bom marido com ela durante todo o seu casamento, havia cuidado dela com devoção nesses dois anos, protegendo-a de tudo e de todos. Não devia estar agradecida a ele por ser tão bom com ela, mesmo agora que tudo terminava?

— Já não deve preocupar-se comigo, deveria ir embora e deixar-me sozinha com minha dor. Mais, deveríamos discutir os termos do divórcio de uma vez por todas, para assiná-lo e acabar com esta agonia — disse quase que com a voz embargada, enquanto suas mãos inconscientemente se pousavam sobre seu ventre, protegendo o segredo que guardava.

— Discutir os termos? — indagou com a testa franzida, a confusão evidente em seu rosto — Não são suficientes? — Ela queria mais do que ele havia oferecido? Perguntou-se para si mesmo, sem entender que o único que Mia queria era seu amor, não seus bens materiais.

Mia ia dizer-lhe que não necessitava absolutamente nada dele, que seu dinheiro e suas propriedades não iam recompensar jamais sua ausência em sua vida, mas o celular de Ariel tocou interrompendo seus pensamentos, e perante seu evidente nervosismo, coisa que foi notória já que ele nunca se comportava assim de ansioso por uma chamada, as palavras de Mia engasgaram em sua garganta como se fossem pedras pesadas.

— Sairei por um momento, mas antes de ir embora quero assegurar-me de que toma o comprimido para a dor — declarou com firmeza, segurando o frasco em sua mão como se fosse uma arma.

— Não o tomarei — respondeu ela com determinação.

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Atualizado até capítulo 74

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