CAPÍTULO 3

📖 Capítulo 3 — Helena

Eu não tremi quando segurei a caneta. Não hesitei quando o advogado colocou os papéis diante de mim. Era como se minha mão soubesse o que precisava fazer antes mesmo de minha mente dar a ordem. A ponta da caneta deslizou pelo papel e com cada traço eu sentia o peso de cinco anos de devoção se desfazendo. Não havia lágrimas não havia dor visível não havia sequer lembrança de amor. Havia apenas frieza.

Quando terminei fechei a pasta e caminhei pelo corredor até a sala dele. A cada passo eu lembrava de tudo que suportei. O silêncio das madrugadas enquanto ele dormia em paz e eu chorava ao lado dele. As humilhações escondidas nos olhares que ele não via porque era cego mas eu sentia porque estava inteira. O peso da minha entrega diária transformada em desprezo. Eu não era mais a mesma mulher e naquele instante eu precisava mostrar isso para ele.

Abri a porta da sala e ele levantou os olhos. Eduardo estava sentado atrás da mesa de madeira escura impecável em sua gravata ajustada em seu semblante de homem que acredita dominar tudo e todos. Eu não sorri eu não vacilei apenas estendi os papéis diante dele.

— Está feito — minha voz saiu calma como se estivesse comentando sobre um contrato qualquer.

Ele pegou a pasta abriu leu por cima e seus olhos estreitaram quando encontrou a cláusula que eu havia feito questão de acrescentar.

— Vice presidente — ele murmurou com aquela incredulidade arrogante.

Eu cruzei os braços. — Sim. Eu não serei mais sua diretora financeira Eduardo. Eu não vou mais viver à sombra da sua assinatura. A partir de hoje eu sou vice presidente e você sabe que não pode me negar isso.

Ele respirou fundo como se contivesse um grito. Eu o conhecia bem demais para não perceber a tensão em seus ombros. Eduardo não suportava perder não suportava ver alguém fora do controle dele. Mas o estatuto da empresa era claro. Eu tinha direito e ele sabia disso. Se ousasse contestar se ousasse me empurrar de volta para a posição submissa eu levaria a justiça comigo e ele sabia que isso significaria manchetes escândalos e uma guerra que poderia enfraquecer a imagem perfeita que ele tanto preservava.

— Você está me desafiando Helena — disse por fim sua voz baixa carregada de veneno.

Eu o encarei. — Não Eduardo. Eu apenas estou tomando o que é meu por direito. Você já me tirou o bastante.

Ele fechou a pasta devagar e por um instante pensei que iria me enfrentar. Mas o orgulho dele não era maior que o instinto de preservação. Eduardo sabia quando recuar mesmo que isso lhe custasse noites de raiva. E naquele momento ele recuou.

Eu me virei e saí da sala sem olhar para trás. A cada passo eu me sentia mais leve como se as correntes que me prenderam por cinco anos estivessem finalmente se desfazendo.

Horas depois estava no apartamento da minha amiga Maísa. Ela me recebeu com os braços abertos e um olhar de quem sempre soube que esse dia chegaria. Nos sentamos em seu sofá e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ela segurou minhas mãos.

— Amiga você precisa se olhar no espelho — disse com firmeza. — Precisa enxergar a mulher que existe aí dentro. Porque a Helena que eu conhecia sumiu nesses cinco anos e você precisa trazê la de volta.

Eu suspirei cansada. — Eu não sei se consigo Maísa. Eu me sinto vazia. Gastei tudo que tinha nessa relação e no final não sobrou nada.

Ela sorriu de leve e apertou minhas mãos. — Sobra sim. Ainda sobra você. Você é linda Helena só está escondida por trás do peso de tudo que passou. Você não perdeu a beleza só perdeu a vaidade e isso é fácil de recuperar.

Eu balancei a cabeça. — Não acho que maquiagem roupas ou salão de beleza vão resolver o que sinto por dentro.

— Não é sobre maquiagem — ela respondeu. — É sobre se reconectar com você mesma. É sobre lembrar que existe vida depois de Eduardo que existe desejo que existe liberdade. Você se esqueceu disso mas eu vou lembrar você.

Fiquei em silêncio por alguns segundos até que ela completou: — Você vai tirar férias.

— Férias? — perguntei surpresa.

— Sim. Trinta dias em um spa longe daqui longe da empresa longe de Eduardo longe dos olhares de pena. Você precisa de tempo para você. Para cuidar do corpo da mente da alma. Para se olhar no espelho e reconhecer quem você é.

— Maísa eu não posso — protestei. — A empresa exige minha presença.

Ela riu com ironia. — Você acha mesmo que Eduardo vai ter coragem de contestar uma ausência sua agora depois do cargo que assumiu? Você tem direito a férias Helena. E vai tirar.

Por um instante hesitei. Eu não sabia mais como era viver para mim. Eu havia me esquecido de como era respirar sem estar presa ao peso de outro alguém. Mas o olhar firme de Maísa me fez ceder.

— Trinta dias — sussurrei.

Ela sorriu. — Trinta dias. Vai ser como nascer de novo.

E assim ficou decidido. Eu não sabia o que me esperava naquele spa não sabia se realmente conseguiria deixar para trás os fantasmas que ainda me perseguiam. Mas pela primeira vez em muito tempo eu estava escolhendo algo para mim.

E isso já era um começo.

EDUARDO 30 ANOS.

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Comments

Maria Luísa de Almeida franca Almeida franca

Maria Luísa de Almeida franca Almeida franca

Ele é um crápula miserável

2025-08-29

2

Nilzete Costa

Nilzete Costa

Estou amando na expectativa de mais capítulo por favor 😍

2025-08-29

0

Bianca🌹

Bianca🌹

Tem cara de homem mimado e arrogante.

2025-08-30

0

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