ESPOSA DE CINZAS
🌑 Prólogo
Eu achava que a dor tinha limites. Que depois de tanto suportar, em algum momento, o coração simplesmente se acostumaria. Mas estava enganada.
Naquele dia, ao abrir a porta do quarto que eu mesma ajudei a decorar, vi meu mundo desabar diante dos meus olhos. Eduardo, o homem por quem lutei em silêncio durante cinco anos, e Alice, minha própria irmã, entrelaçados nos lençóis que ainda carregavam o cheiro da minha presença.
Eu gritei.
Eu tremi.
Eu morri.
Não era apenas uma traição. Era a certeza de que todo o meu esforço, cada noite em claro ao lado dele, cada renúncia da minha vida, tinha sido ridicularizada.
As palavras que se seguiram ecoam até hoje:
— Hora, querida, por que o espanto? Você sabia que eu não a desejava.
O riso dele.
O olhar dela, cheio de desprezo.
E eu, quebrada em mil pedaços.
Naquela noite, chorei até a exaustão nos braços da minha melhor amiga. Mas quando o sol nasceu, algo dentro de mim também nasceu: uma chama que não se apagaria jamais.
Eu não seria mais a mulher que todos pisavam.
Eu não seria mais a esposa de cinzas.
Capítulo 1 — Helena
O som do salto ecoava pelo corredor da empresa como se cada batida fosse um lembrete de quem eu era: Helena Vasconcelos, diretora financeira — sim, as vezes eu até me esquecia de quem eu era ali naquela empresa, era esse o nome da minha função, responsável pela contabilidade e pelas finanças da companhia que meu pai e o pai de Eduardo ergueram juntos.
Era irônico pensar que, dentro daqueles escritórios frios, eu tinha respeito, autoridade, reconhecimento. Mas dentro da minha própria casa… eu era apenas uma sombra, um peso, um corpo invisível que se arrastava pelos cômodos tentando não incomodar o homem que deveria ser meu marido.
Eduardo.
Cinco anos cuidando dele, entregando a minha vida para estar ao lado de alguém que não me escolheu. Cinco anos guiando seus passos, descrevendo o mundo quando ele não podia mais enxergá-lo. Cinco anos sendo os olhos de um homem que, mesmo cego, ainda me olhava com indiferença.
E, ainda assim, eu fiquei.
Não por amor — ao menos não apenas por amor — mas porque eu acreditava que aquilo nos tornaria algo mais, que um dia ele olharia para mim e enxergaria não a esposa conveniente que os pais impuseram, mas a mulher que não o abandonou quando todos os outros o fizeram.
Mas eu estava enganada.
Depois da cirurgia, quando a visão voltou, tudo que eu recebi em troca foi frieza. Eduardo se transformou em um estranho: palavras cortantes, risos sarcásticos, olhares que me despia não de desejo, mas de desprezo.
“Você está pálida, Helena… magra demais… parece um cadáver ao meu lado.”
Essas palavras ecoavam na minha mente a cada vez que eu me olhava no espelho.
Ainda assim, eu resistia. Fingindo que era forte, fingindo que não doía, fingindo que o casamento ainda tinha alguma razão para existir.
Naquele dia, eu tinha saído mais cedo do trabalho. A cabeça latejava depois de uma reunião interminável com investidores, e tudo o que eu queria era chegar em casa, tomar um banho quente e talvez… talvez ter alguns minutos de silêncio, sem precisar ouvir Eduardo zombando de mim por qualquer detalhe.
Subi as escadas devagar, segurando a pasta contra o peito. O apartamento estava silencioso demais, como se guardasse um segredo. E, de alguma forma, eu sabia. Antes mesmo de abrir a porta do quarto, algo dentro de mim já gritava que eu não deveria fazê-lo.
Mas eu fiz.
E encontrei o inferno.
Eduardo estava lá, com Alice.
Minha irmã.
Meu sangue.
Os corpos entrelaçados sobre a cama que deveria ser nossa. O som abafado dos gemidos que cessaram assim que a porta bateu contra a parede. Meus olhos arderam, mas não consegui desviar. A cena ficou gravada em mim como fogo na pele.
— Meu Deus… — minha voz saiu como um sussurro quebrado, antes de se transformar em um grito. — SEUS DESGRAÇADOS!
Alice se afastou dele como se nada tivesse acontecido, ajeitando os cabelos com aquele ar de superioridade que sempre carregou. Eduardo, por outro lado, não se levantou de imediato. Ele riu.
Ele teve a coragem de rir.
— Ora, querida, por que o espanto? Você sabia que eu não a desejava.
Meu estômago se revirou.
— Cala a boca, Eduardo! Seu nojento! Imundo! — minha voz tremia, mas era pura raiva. Olhei para Alice, e o que senti foi algo que jamais pensei ser capaz de sentir por minha irmã. — E você… sua vagabunda nojenta! Vadia de quinta! EU SOU A SUA IRMÃ, PORRA!
Alice cruzou os braços, sem um pingo de remorso.
— Ai, Helena, menos. Você sempre foi o patinho feio. Sempre invejosa. Não tenho culpa que o Eduardo sempre me quis. Você sabe muito bem que esse casamento só existiu porque nossos pais assinaram aquele contrato idiota.
As palavras dela foram como facadas.
Eduardo se levantou, andando até mim com aquele olhar cruel.
— Não se faça de vítima. Você nunca foi suficiente, Helena. Nunca.
Senti meu corpo tremer. Não chorei ali, não diante deles. Se chorasse, seria a vitória deles sobre mim. Então apenas respirei fundo, engoli a dor, e virei as costas.
Saí correndo.
Lembro-me de pegar o carro sem nem perceber para onde dirigia. Minhas mãos tremiam no volante, a visão turva pelas lágrimas que, dessa vez, não consegui segurar. Acabei estacionando diante do prédio da Maísa, minha melhor amiga, e quando ela abriu a porta eu simplesmente desmoronei.
Chorei.
Chorei como nunca tinha chorado antes.
E, naquela noite, afoguei a dor em taças de vinho que queimavam minha garganta como se pudessem apagar o buraco que se abria dentro de mim.
— Ele não te merece, Lena — Maísa repetia, segurando meu rosto entre as mãos. — E sua irmã… Deus, que tipo de pessoa faz isso com a própria irmã?
Eu não respondia. Apenas bebia, apenas chorava.
Mas quando a manhã chegou, junto com a dor de cabeça e os olhos inchados, eu me olhei no espelho do banheiro da Maísa e vi algo diferente.
Vi raiva.
Vi força.
Vi a fagulha de alguém que não aceitaria ser destruída.
Naquele instante, jurei.
Não importava o quanto doía, não importava o quanto eles tentassem me esmagar. Eu não seria a vítima da história deles. Eu não seria a esposa de cinzas.
Eu queimaria de volta.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
BIBI🌕🌑
minha gente já começa assim eita Deus certeza que esse livro vai bombar e eu vou amar você já começou assim não quero nem imaginar o resto do livro deve ser muito bom🤭🤭
2025-10-05
1
Jaqueli Pereira Martins
autora comecei hj espero que ela não fique com no final ela precisa se vingar desses dois e que aparece um amor de vdd pra ela
2025-08-30
1
jane
li um livro seu e amei esse aqui ja tô amando no primeiro capítulo
2025-09-18
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