Festinha particular

Ver minhas coisas arrumadas naquele quarto estranho me deu outra onda de desânimo. Cada segundo me lembrava que aquilo não era uma viagem. Tudo era permanente: a casa, as coisas, aquela família.

                Vesti meu pijama, mas não consegui dormir. Peguei o celular, mas ele continuava sem sinal.

                Saí do quarto. O andar de cima estava silencioso e apagado. Vi através da chuva caindo pela janela da sala, o caminho pelo qual havíamos chegado. Parecia uma eternidade.

                Pensei em ligar a televisão, mas era quase meia noite e eu não fazia ideia de como o som se espalharia. Ainda me sentia uma mera intrusa, então não queria atrapalhar ninguém.

                Sendo assim, desci as escadas e comecei a perambular no andar de baixo. Dei outra olhada na sala, na cozinha, sala de jantar... Passei por mais um banheiro e uma lavanderia muito bem equipada.

                No fundo da casa, encontrei um cômodo todo feito de vidro, lindo com toda aquela chuva. Haviam prateleiras com livros, mais sofás e uma outra porta ao fundo.

                Escutei som de água apenas quando já estava vendo a piscina, por causa do som da chuva abafando tudo. E, tarde demais, percebi que não estava sozinha.

                Um corpo atravessava a piscina com graciosidade, os cabelos compridos esticando-se pela água.

                - O que está fazendo aqui? – uma voz irritada de mulher me sobressaltou.

                Uma garota estava sentada em uma espreguiçadeira, com os cabelos pretos caídos pelas laterais do rosto – o que me fez demorar para perceber que não estava usando nenhuma roupa.

                - Me desculpe. – pedi, gaguejando e andando para trás.

                - Samantha?

                Me virei e dei de cara com Murilo saindo da piscina, em iguais condições.

                - Ah, meu Deus. – cobri os olhos com as mãos.

                Quase corri ao passar pela porta, terrivelmente corada, e bati em algo duro. Cairia, se não fossem pelas mãos que me agarraram.

                - Acho que você invadiu a festinha particular do Murilo. Acertei? – Otávio tinha um sorriso malicioso no rosto.

                Me desvencilhei dos seus braços e continuei andando.

                - Ei, Sam... Não é para tanto.

                Parei ao ouvir meu apelido. Me vi de novo com Kevin no quarto, nos declarando um para o outro. E agora eu não conseguia nem mesmo conversar com ele.

                - Isso não foi nada. – a mão de Otávio tocou meu ombro.

                E então eu estava lá de novo, numa casa estranha. Sozinha. Completamente sozinha. Mais sozinha do que já tinha estado em toda a minha vida.

                Voltei a andar, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Tudo aquilo era demais. Meus pais, Kevin... Eu queria minha vida de volta, minha casa. A simplicidade, a cidade, outro tempo que não fosse chover, chover, chover.

                Os soluços já escapavam sem controle quando subi as escadas correndo.

                - Samantha? – Eric veio andando da sala superior – O que aconteceu?

                Não tive tempo de formular uma resposta, os olhos de Eric miraram um ponto atrás de mim.

                - O que você fez? – seu tom era acusatório.

                - Nada... – Otávio respondeu, mais perto do que imaginei que estaria – Ela viu Murilo na piscina.

                Eles continuaram falando, as não me importava. Segui meu caminho até meu quarto, me enfiei na cama e cobri a cabeça.

                - Samantha. – Eric surgiu pouco depois, sem se preocupar em bater – Você está bem?

                O colchão se moveu com o peso dele e logo a coberta saiu do meu rosto.

                A expressão de Eric era genuinamente preocupada.

                - É demais. – sussurrei, tentando controlar as lágrimas – Tudo isso. Meus pais, a mudança, vocês todos...

                Ele pegou uma de minhas mãos.

                - Eu sinto muito. – seu toque era suave – Eu não consigo nem imaginar o quanto tudo isso é enlouquecedor para você.

                Eu só queria um abraço, e naquele momento aquele garoto gentil pareceu a melhor opção de todas. Me joguei em seus braços e enterrei o rosto em seu peito. Eric me envolveu carinhosamente.

                - Se acalme. Vai ficar tudo bem. – ele sussurrou.

                Sua mão acariciou meu cabelo por um longo tempo, tanto que minhas lágrimas secaram e comecei a relaxar. O toque foi se tornando a porta para o sono que eu precisava.

                Nesse momento, o celular tocou.

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Comments

Solange Borkovski

Solange Borkovski

Esse parece ser o mais legal dos quatro.

2025-09-02

1

Solange Borkovski

Solange Borkovski

meu lugar perfeito /Drool//Drool//Drool/

2025-09-02

1

Solange Borkovski

Solange Borkovski

/Blush//Blush//Blush//Blush/

2025-09-02

1

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