Sem sinal

- Pode entrar. – respondi depois de uma batida na porta.

                Eric abriu e me encontrou deitada na cama embaixo das cobertas. Ele franziu a testa e se aproximou.

                - Você está bem?

                - Meu celular não pega. – resmunguei.

                - É, tem esse detalhe. – Eric sorriu – Mas não é o tempo todo.

                Ele me chamou para jantar e, sem nenhuma fome, tive que descer até uma sala grande com uma mesa de jantar de madeira onde todos já estavam.

                Eric sentou ao meu lado, Susan e Robert estavam cada um em uma ponta, Otávio eu já sabia quem era – e ele nem olhava na minha direção naquele momento.

                - Meninos, essa é a Samantha. – Susan me apresentou.

                - Oi. – Otávio me olhou de relance.

                O outro, sentado ao seu lado, só podia ser seu irmão gêmeo. Eram parecidos, sim, mas como Susan havia dito, impossíveis de se confundir. Oliver era mais baixo e tinha olhos castanhos.

                - Oliver. – ele disse seu nome com um aceno de cabeça.

                - Prazer em conhecer. – Murilo sorriu.

                Ele era diferente dos demais, bem mais alto e magro. Também era loiro, mas o cabelo era comprido e liso, e os olhos eram muito azuis.

                Susan tentou puxar assunto comigo o tempo todo, mas eu não estava com vontade de conversar sobre minha família, a antiga escola ou as coisas que costumava fazer. Deixei a mesa antes de todos, dando a desculpa de estar com dor de cabeça.

                A chuva continuava a cair e o celular seguia sem sinal. Abri as janelas e saí para a varanda, pensando no que estaríamos fazendo se meus pais não tivessem morrido. O que Kevin estava pensando?

                Otávio tinha deixado o cobertor em cima do sofá, então fui ocupar o lugar em que ele estivera horas antes. Continuei olhando as nuvens cincas, sabendo que demoraria para passar.

                Me permiti lembrar da noite anterior. Fazia apenas poucas horas, mas já parecia distante demais. Kevin e eu tínhamos confessado nossos sentimentos, tínhamos ficado juntos em uma reviravolta que eu não esperava.

                Mas, e agora?

                - É bom, não é?

                Otávio, mais uma vez me assustando, vinha andando pela varanda com as mãos nos bolsos.

                - É. – respondi, desejando que ele fosse embora.

                Mas ele não pareceu se incomodar com a secura da minha resposta e se sentou bem ao meu lado. Tão perto que senti o perfume exalando de sua pele.

                - Você não parece muito feliz por estar aqui. – seus olhos se fixaram nos meus.

                - Vocês são todos estranhos para mim. – rebati, irritada com sua aproximação.

                Otávio continuou me olhando, vasculhando meu rosto como se estivesse tentando me ler.

                - Samantha? – a voz de Eric veio de dentro do meu quarto.

                Otávio não se moveu, mas eu me levantei bem a tempo de esbarrar com Eric vindo para a varanda.

                - Está tudo bem? – ele olhou do irmão para mim.

                - Só estávamos nos conhecendo melhor. – Otávio se levantou com um sorrisinho.

                Eric encarou o outro, meio preocupado, e não disse nada até ele desaparecer, virando a varanda no fundo da casa.

                - Essa varanda está em toda casa, é? – perguntei.

                - Ele chateou você? – Eric se virou para mim, preocupado.

                Fiquei um pouco surpresa com a pergunta.

                - Ele não fez nada. – dei de ombros – Mas não o achei muito simpático.

                Eric piscou por alguns segundos.

                - Sim, a varanda faz a volta na casa toda.

                - Ah... – falei, confusa.

                Eric me levou para dentro, tinha colocado um prato com uma torta de morango em cima da cama. Eu não estava com vontade, mas comi – sabendo que o sabor era incrível e ele ficaria feliz.

                Eric e Susan realmente estavam preocupados com a minha adaptação, Robert queria que eu ficasse confortável e o resto dos garotos parecia distante. De alguma forma, eu gostaria de deixar os três tranquilos para que não ficassem em cima de mim.

                - A escola é legal? – perguntei para puxar assunto.

                - Ah, é só a escola. – Eric deu de ombros, sentado no sofá.

                - É longe? – coloquei o prato vazio de lado.

                - Vinte minutos.

                Nesse momento, Otávio abriu a porta do quarto. Estava molhado, com gotas de chuva escorrendo pelos cabelos.

                - Peguei suas malas. – ele empurrou todas para dentro – Pensei que ia precisar antes de dormir.

                Eric olhou para o irmão, surpreso.

                - Ah, obrigada. – levantei da cama, um pouco sem graça.

                - Não foi nada. – Otávio balançou a cabeça em sinal positivo.

                Eric continuou no sofá, olhando o irmão. Parecia haver reprovação em seus olhos, mas era difícil entender.

                - Até mais. Tenho que ir.

                Otávio não esperou resposta, apenas deu as costas e saiu.

                - Acho que vou arrumar minhas coisas. – andei até as malas lentamente – Também preciso de um banho.

                - Claro. – Eric sorriu e se levantou – Até depois.

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Comments

Solange Borkovski

Solange Borkovski

Algo me diz que esse Otávio esconde algo

2025-09-02

1

Solange Borkovski

Solange Borkovski

Sinto que tem algo por vir...

2025-09-02

1

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