Acordei envolta em seus braços, com seu peito contra as minhas costas, e quis parar o mundo. Quanto tempo tínhamos desejado aquilo? E agora restava poucas horas e a Sra. Mistrelli não podia nos pegar.
Ainda era cedo, o sol estava nascendo, mas tudo parecia se esvair rápido demais.
- Sam? – Kevin chamou, a voz sonolenta.
- Sim? – sussurrei.
Senti o sorriso em seus lábios.
- Foi a sua primeira vez?
- Foi. – meu rosto esquentou.
Senti o corpo de Kevin se mover e fechei os olhos.
- Abra os olhos, Sam...
Abri lentamente, com um pouco de vergonha, e encontrei seus olhos cor de chocolate encarando os meus com uma felicidade encantadora.
- A minha também. – Kevin sussurrou.
Fui preenchida por uma sensação de alívio, um sorriso surgindo.
Ficamos naquela cama o máximo possível, e depois ele teve que ir para o seu quarto. Quando nos encontrássemos de novo, provavelmente seria uma despedida.
Eu não estava pronta para ir embora, jamais estaria.
- Samantha... – a Sra. Mistrelli bateu na porta antes de abrir.
Não respondi nada, apenas continuei sentada na cama onde Kevin e eu tínhamos dividido um momento importante das nossas vidas, cercada pelas malas com as minhas coisas.
- Vamos descer? – ela estava triste, embora não quisesse demonstrar tanto.
A Sra. Mistrelli, apesar de garantir que eu era bem vinda ali, sempre se mostrara otimista com minha mudança. Eu acreditava que era para não me desanimar.
- Ela chegou?
- Ainda não.
Vi Kevin atrás dela, me olhando intensamente. Era irônico que eu me sentia mais ligada a ele agora que estava indo embora.
Descemos com as minhas malas, sentamos na sala e tentamos manter uma conversa, mas não fluía. A tristeza era palpável.
A campainha soou e nós nos entreolhamos. A Sra. Mistrelli levantou e foi abrir. Kevin segurou a minha mão com força, mas não dissemos nada, apenas ficamos nos olhando.
Escutei a conversa cordial, mas não registrei nada, tamanho meu nervosismo crescente. E logo me vi diante de uma mulher alta e loira que me sorria com simpatia – e ela lembrava demais meu pai.
- Sra. Ross. – eu me levantei, soando formal demais.
- Susan, por favor. – ela avançou para mim – Me perdoe por não comparecer ao funeral, eu...
- Tudo bem. – eu não me importava e, principalmente, não queria falar do funeral.
A sra. Mistrelli serviu uma xícara de café para Susan enquanto conversavam amenidades. Kevin estava com o maxilar tenso, quase mal educado – com certeza escutaria uma bronca da mãe depois.
- Precisamos ir, Samantha. – Susan se levantou – É um longo caminho.
Todos a acompanhamos. Kevin acomodou minhas malas no carro, depois me puxou para um abraço. Nós queríamos mais, mas não ousamos com as duas mulheres observando.}
- Vou sentir sua falta. – sussurrou.
- Também vou sentir. – meus olhos arderam – Não desgrude do celular.
Depois de um abraço na Sra. Mistrelli, sentei no banco do passageiro e vi tudo que eu conhecia desaparecer pelo retrovisor com um embrulho no estômago.
Susan parecia tão desconfortável quanto eu no espaço pequeno. Duas estranhas que iriam conviver no mesmo ambiente por, pelo menos, os dez meses seguintes.
- Você gosta de torta de morango?
A escolha aleatória da pergunta me confundiu.
- Bom, sim... Claro. – dei de ombros.
Susan sorriu, as mãos inquietas no volante.
- Seu tio Robert está fazendo tortas de morango. – Susan começou a tagarelar – Ele queria fazer alguma coisa para marcar a sua chegada. Antigamente, ele costumava cozinhar o tempo todo. Agora o tempo é mais escasso.
A voz dela foi sumindo diante do meu silêncio, talvez se perguntando se estava me aborrecendo. E eu não queria ser maldosa, mas só conseguia pensar que toda minha família estava enterrada longe de mim – e as únicas pessoas que podiam me dar conforto, também estavam ficando para trás.
- Seus primos também estão animados em conhecer você. – Susan insistiu.
- Primos? – falei, vagamente prestando atenção.
Eu não tinha pensado sobre a família para qual estava indo. Será que eu teria que dividir quartos? Será que disputaríamos o banheiro pela manhã? Não tinha nenhuma experiência com isso.
- Sim! – Susan exclamou, aliviada por eu estar participando – Vou apresentar todos. Ou você já quer saber os nomes?
- Os nomes, claro. – concordei, meio inerte – só para mantê-la falando.
Isso pareceu deixá-la animada.
- Meu primogênito é o Murilo, ele tem vinte e dois anos. Já está na faculdade, então você não vai ver muito ele. O Oliver e o Otávio tem a sua idade, são gêmeos. Mas não se preocupe. – riu baixinho – Eles não são idênticos, então não vai confundi-los.
- Legal... – falei apaticamente.
- E o caçula é o Eric. Tem dezesseis anos. Acho que vai gostar dele, é muito gentil.
Balancei a cabeça, sem prestar atenção, mas então notei um detalhe.
- Quatro garotos? – virei o rosto para Susan – Só garotos?
Ela encolheu os ombros com um sorrisinho.
- Depois de três gestações desistimos de uma menininha.
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Solange Borkovski
Já pensou essa casa? 4 pia correndo pra cá e pra lá kkkkkkk
2025-08-29
1
Solange Borkovski
Eu te entendi Susan, também desistiria! 🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣
2025-08-29
1
Solange Borkovski
A Samantha vá esquecer rapidinho o Kevin
2025-08-29
0