O sol começava a nascer no horizonte de Goiânia, espalhando seus primeiros raios sobre as colinas verdes da Fazenda Montenegro. O mugido do gado ecoava pelos campos, misturado ao tropel dos cavalos e ao barulho distante dos peões que já estavam na lida. A vida na fazenda despertava cedo, como sempre acontecera desde que aquela terra fora conquistada pela família, décadas atrás.
A casa-sede erguia-se imponente no centro da propriedade. Construída em estilo colonial, com varandas largas e paredes pintadas de branco, carregava a imponência de um lar que guardava não só uma família, mas também histórias de poder, orgulho e disputas. Cada pedra do alicerce parecia carregar o peso do sobrenome Montenegro.
Do alpendre, Alberto Montenegro, o patriarca, observava o movimento da fazenda com o olhar firme e silencioso. Aos sessenta e dois anos, o corpo já não tinha a mesma agilidade da juventude, mas sua presença ainda se impunha como a de um comandante em campo de batalha. Era um homem de voz grave, olhar duro e gestos contidos, respeitado pelos funcionários e temido pelos rivais.
Por trás de sua rigidez, escondia-se um passado marcado por escolhas difíceis — e uma ferida antiga que nunca cicatrizara: a juventude perdida para a rivalidade com os Bittencourt.
Ao lado dele, sua esposa, Eva, de cinquenta anos, se movia com elegância natural. Era uma mulher de beleza sóbria, ainda marcante, e dona de uma postura altiva. Para muitos, Eva parecia ser o coração da casa, mas quem a conhecia bem sabia que sua força vinha de uma rigidez quase tão inflexível quanto a do marido. Conservadora, apegada às tradições e ao nome da família, ela era guardiã dos costumes e das aparências, mesmo que isso custasse a felicidade dos filhos.
Na sala de jantar, já posta para o café da manhã, os filhos iam se reunindo.
O primeiro a surgir fora Ricardo, o primogênito. Com vinte e sete anos, herdara a seriedade do pai e a determinação da mãe. Seu rosto trazia a firmeza de quem crescera com a responsabilidade de carregar o futuro da família. Ricardo raramente sorria; era reservado, observador, e muitos funcionários da fazenda o respeitavam quase tanto quanto ao próprio Alberto. Para ele, viver sob o peso do sobrenome Montenegro era um dever inescapável.
Logo depois, vieram as gêmeas, tão iguais na aparência quanto diferentes em essência.
Mia era a primeira a se sentar, trazendo consigo um livro de capa gasta que não largava nem nos horários de refeição. Seus olhos claros refletiam a serenidade de quem vivia mais no mundo das palavras do que na dureza da realidade. Aos dezoito anos, ainda guardava a inocência intocada da juventude, e seu sorriso tímido revelava um coração que sonhava com amores impossíveis, mesmo sem nunca tê-los vivido.
Pérola, por sua vez, entrou alguns minutos depois, apressada, ajeitando os cabelos diante de um pequeno espelho de mão. Sua beleza vibrante e seu olhar ousado a diferenciavam da irmã. Também tinha dezoito anos, mas já se via como alguém destinada a voos maiores do que as cercas da fazenda. Pérola não escondia o desdém pela rotina do campo; falava abertamente em estudar fora, em conhecer o mundo, em não se prender às correntes da tradição que sua família tanto prezava.
As duas gêmeas, embora inseparáveis em sangue, eram o reflexo de extremos: a suavidade e a inocência de Mia contrastando com a determinação e a ousadia de Pérola.
Enquanto a família se reunia, o silêncio respeitoso dos funcionários se fazia presente. A família Tavares, que há anos trabalhava para os Montenegro, era quase uma extensão da casa. Helena, a governanta, cuidava da ordem doméstica com dedicação, enquanto seus filhos, Marcos, de vinte e oito anos, e Alice, de quinze, cresciam ao lado dos Montenegro, ainda que em posições muito distintas. Marcos, agora um peão habilidoso, era frequentemente visto nos campos, de chapéu na cabeça e mãos calejadas, responsável por boa parte do trabalho pesado da fazenda.
A mesa estava cheia, mas não era apenas o pão ou o café quente que alimentava aquela família — era também o orgulho. Orgulho de suas terras, de seu sobrenome, de sua história. Um orgulho que, por vezes, se confundia com arrogância.
— O movimento na fazenda está bom — disse Ricardo, em tom sério, enquanto se servia. — O pasto está forte este ano, o gado vai engordar rápido.
Alberto assentiu, satisfeito. — É assim que tem que ser. Os Bittencourt que se preocupem com as terras deles.
Ao ouvir o nome da família rival, um silêncio pesado pairou sobre a mesa. Não era preciso muitas palavras para que todos ali sentissem o peso daquela rivalidade antiga. Mia, como sempre, baixou os olhos, evitando se envolver. Pérola, por outro lado, ergueu o queixo, desafiadora, como se desejasse enfrentar qualquer um — fosse vizinho, fosse tradição.
A vida dos Montenegro parecia seguir o mesmo ciclo de sempre: trabalho, deveres, festas sociais onde o nome da família precisava brilhar. Mas naquele dia, sem que ninguém desconfiasse, o destino começava a se mover em silêncio.
Uma visita inesperada, uma amizade improvável e um amor proibido logo bateriam às portas daquela casa, mudando para sempre o rumo de suas histórias.
Obs: Todas as imagens foram retiradas da Internet: Pinterest.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 39
Comments
Maria Luiza Marques
Vamos começar 27/08!!!!
2025-08-27
1