Sob o Domínio do Dom

Sob o Domínio do Dom

Capítulo 1 – Vendida ao Dom

O vento frio cortava as ruas estreitas de Palermo naquela noite. O céu estava pesado, as nuvens escondendo a lua, e o som distante das ondas contra o cais era o único lembrete de que a cidade ainda respirava.

O carro preto, com vidros escuros e cheiro de couro caro, seguia pelas vielas com passos lentos e calculados, como um predador rondando a presa.

Eu estava no banco de trás, as mãos fechadas em punhos no colo, tentando controlar a respiração. Ao meu lado, meu pai — o homem que deveria me proteger — mantinha o olhar fixo na frente, sem ousar encarar-me.

— Ainda dá tempo de se arrepender — murmurei, minha voz carregada de um desafio que eu não sentia de verdade.

Ele soltou um riso amargo, sem humor.

— Não é questão de arrependimento, Chloe. É questão de sobrevivência.

Olhei para ele, incrédula.

— Sobrevivência sua, quer dizer. Porque a minha… você acabou de vender.

O silêncio dele foi resposta suficiente.

O carro parou diante de um portão de ferro alto, vigiado por dois homens armados. Um deles fez um gesto, e os portões se abriram lentamente, revelando uma mansão iluminada por tochas laterais, como se estivéssemos entrando em outro século.

O motorista saiu, abriu a porta e fez sinal para que eu descesse. O salto fino do meu sapato ecoou contra o piso de pedras, e a sensação de estar sendo observada me arrepiou a pele.

Dentro da mansão, o calor das lareiras e o aroma de madeira polida tentavam enganar os sentidos. Homens vestidos de preto se moviam como sombras pelos corredores, alguns carregando armas à mostra. Eu conhecia as histórias. Sabia quem era Lorenzo Moretti. O Dom. O homem que regia o submundo de Palermo com mãos de ferro e sangue.

Fomos conduzidos até uma sala ampla, onde um homem estava sentado atrás de uma mesa de carvalho maciço. A primeira impressão foi de poder absoluto.

Ele usava um terno preto impecável, a gravata frouxa como se não precisasse de formalidades para intimidar. O cabelo escuro caía levemente sobre a testa, e a barba bem aparada desenhava sua mandíbula forte. Mas foram os olhos que me prenderam — frios, de um castanho profundo, como poços onde se afogava sem perceber.

Lorenzo não se levantou. Apenas cruzou os dedos sobre a mesa e nos observou em silêncio, como quem já sabe que está no controle.

Meu pai se adiantou.

— Lorenzo… eu trouxe o que prometi.

Aqueles olhos desviaram para mim, percorrendo-me lentamente, como se me despisse ali mesmo. Meu corpo reagiu de um jeito que eu não queria admitir — um arrepio misturado a raiva.

— Então esta é a sua filha — a voz dele era grave, arrastada, com um sotaque italiano marcado que tornava cada palavra mais perigosa.

Meu pai assentiu, evitando contato visual.

— Como combinamos, ela… ela é sua.

Meus lábios se entreabriram, pronta para protestar, mas Lorenzo ergueu a mão, me silenciando sem esforço.

— Não fale, piccola. Não quero ouvir desculpas ou mentiras. A partir desta noite… você me pertence.

A frieza daquelas palavras me atingiu como uma lâmina.

— Pertencer? — minha voz tremeu, mas o sarcasmo escapou — Desculpe, mas não sou um cavalo de corrida para ser comprado.

Um sorriso lento surgiu nos lábios dele, como se minha ousadia fosse apenas mais um tempero para o jogo.

— Não, você é mais rara que isso. E é por isso que vou mantê-la comigo… e ensinar a você o significado de lealdade.

Ele se levantou, e por um instante percebi o quanto era alto, o porte dominante que fazia qualquer um recuar. Aproximou-se, parando tão perto que pude sentir o calor de seu corpo e o aroma amadeirado do perfume caro.

— Você vai me odiar… e vai me desejar. E quando finalmente entender o que significa ser minha… não vai querer outra vida.

Meu coração batia como um tambor. Eu queria gritar, queria cuspir na cara dele… mas algo naqueles olhos me mantinha imóvel.

Lorenzo se virou para meu pai.

— O acordo está selado. A dívida… está paga. Agora saia.

Meu pai hesitou, me olhando por um segundo — talvez um resquício de arrependimento? Não. Apenas medo. Ele virou as costas e foi embora sem dizer nada.

As portas se fecharam atrás dele, e de repente, percebi: eu estava sozinha com o homem mais perigoso da Itália.

Lorenzo me encarou por alguns segundos, depois fez um gesto para um de seus homens.

— Leve-a para o quarto de hóspedes.

— Hóspedes? — soltei uma risada amarga.

Ele arqueou a sobrancelha.

— É temporário. Amanhã, você dorme na minha cama.

Enquanto era conduzida pelos corredores, senti a mistura de ódio e curiosidade me corroendo por dentro. Eu não sabia como, nem quando, mas prometi para mim mesma: meu pai pagaria caro por isso. E Lorenzo Moretti… eu ainda não sabia se seria meu carrasco ou meu aliado.

Mas no fundo, algo me dizia que ele seria os dois.

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Fatima Castro

Fatima Castro

começando 20/8/25

2025-08-21

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Atualizado até capítulo 33

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