capítulo 5

Heranças que Ferem

O silêncio no escritório era insuportável.

Marco fechou a porta, deixando Dante e Elena sozinhos.

Ela estava pálida. As mãos trêmulas. O coração batia alto demais.

— Fala. — A voz dela saiu mais firme do que ela esperava. — O que você sabe sobre o meu pai?

Dante recostou-se na escrivaninha. Não tentou se aproximar.

Seu rosto carregava um peso diferente agora.

— O nome dele era Carlos Costa, certo? Trabalhava como mecânico. Mas ele também fazia pequenos serviços… fora da lei. Lavagem de dinheiro, transporte para gente que queria ficar invisível.

Elena balançou a cabeça em negação.

— Não… meu pai era honesto. Ele… ele só queria sustentar a gente!

— Eu acredito nisso. Mas ele se envolveu com pessoas erradas. Fez um trabalho para uma célula ligada a uma facção rival da minha. E foi pego no fogo cruzado de uma dívida antiga.

Ela sentiu o chão sumir.

— Você está me dizendo que ele… morreu por culpa de vocês?

Dante olhou nos olhos dela.

— Ele morreu por culpa de um mundo que eu ajudei a construir.

Elena deu dois passos para trás. Estava prestes a desmoronar.

— Você sabia disso desde o começo?

— Não. Descobri hoje, com você aqui. Se eu soubesse antes, talvez… — ele parou. Respirou fundo. — Talvez eu tivesse feito tudo diferente. Ou talvez não.

Ela o olhou com raiva, dor, confusão.

— Eu te odeio.

— Pode odiar. Eu mereço.

Ela se virou para sair, mas ele segurou seu braço. Não com força, mas com necessidade.

— Elena, me escuta. O seu pai não era um santo. Mas ele tentou proteger você. Fez o que achou que era certo. E eu… eu jurei nunca mais machucar inocentes.

— Tarde demais pra isso.

Ela se soltou, mas não saiu. Ficou ali, de costas, respirando rápido. Em guerra com tudo dentro de si.

— Por que não me matou, Dante? — a voz dela veio baixa, ferida.

— Porque no segundo em que vi seus olhos naquela noite,

eu soube que você ia mudar tudo.

E eu deixei.

Ele se aproximou devagar, colocando a mão sobre o ombro dela. Elena não se afastou.

— Você tem todo o direito de me odiar. Mas se quiser respostas… eu vou te dar. Todas. Eu não vou esconder nada mais de você.

Ela se virou, lentamente. Seus olhos estavam marejados.

— E se eu não aguentar o que descobrir?

— Então eu carrego esse peso por nós dois.

Houve um longo silêncio entre eles. Ela não o abraçou. Ele não a beijou. Mas algo aconteceu. Algo mais forte do que desejo.

Confiança quebrada. Mas não destruída.

Dor compartilhada. E isso os uniu.

Naquela noite, Elena não dormiu. Ficou sentada na janela do quarto, olhando o céu escuro sobre Nova York, sentindo o mundo desmoronar. Mas, no meio da angústia, uma certeza crescia:

Ela não era mais apenas uma garota perdida em um mundo de máfia.

Agora, ela era parte dele.

E, talvez… parte dele também.

Já passava da meia-noite. A casa estava silenciosa, mas o coração de Elena batia alto demais para deixá-la dormir.

Sentada no parapeito da janela do quarto, com os joelhos abraçados e o cabelo solto, ela olhava para o jardim escuro lá embaixo. As luzes da cidade piscavam ao longe, frias e distantes. Tão diferentes da pequena vida que ela tinha no Brooklyn.

Agora ela estava ali. No centro de um mundo que parecia de cinema — e que, na verdade, era feito de sangue, mentiras e promessas quebradas.

Ela ouviu passos.

Virou o rosto e viu Dante parado na porta, sem paletó, camisa semiaberta, olhos cansados. Mas, mais do que isso… vulneráveis.

Era a primeira vez que ele parecia um homem comum, e não um império vestido de carne.

— Não consegui dormir — ele disse, parando na entrada. — E pensei que você também não.

Ela não respondeu. Mas não disse para ele ir embora.

Dante entrou, fechou a porta atrás de si. Sentou-se na poltrona perto da janela. O silêncio entre eles era cheio. Denso. Quase terno.

— Quando perdi meu irmão — ele começou, a voz baixa — prometi que nunca mais me apegaria a ninguém. O apego, no meu mundo, é fraqueza.

Mas aí você apareceu. E, pela primeira vez em anos, eu... senti medo de novo. Medo real. De perder. De falhar. De te ferir como feri tantos outros.

Elena o olhava, em silêncio. Havia dor no olhar dela… mas também havia escuta. Ele percebeu isso e continuou.

— Eu construí isso tudo com as mãos sujas. Com escolhas erradas. Mas mesmo no fundo disso tudo, há algo em mim que ainda quer... redenção. E você trouxe isso. Você me obriga a me olhar no espelho.

Ela desceu da janela devagar, se aproximando.

— E se eu quiser ir embora, Dante? Você me deixaria?

Ele fechou os olhos por um instante.

— Eu deixaria. Se isso te fizesse feliz.

Mas eu passaria o resto da vida querendo que você voltasse.

O peito dela apertou.

Ela parou diante dele, com os olhos fixos nos dele.

— Eu não sei se posso te perdoar. Ou se consigo viver com tudo isso.

— Eu não te peço isso agora. Só… não me odeie por tentar ser diferente com você.

Elena estendeu a mão. Tocou o rosto dele com leveza. Dante a segurou, como se aquele gesto fosse a única coisa que ainda o mantinha inteiro.

— Não sei o que está acontecendo entre nós — ela sussurrou. — Mas estou com medo de descobrir.

— Então a gente descobre junto.

E naquele momento, não houve beijo. Nem promessas.

Só o toque de duas pessoas quebradas… tentando segurar uma à outra no meio da queda.

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Comments

Pluto

Pluto

Romântico que aquece! 💕

2025-07-27

1

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