Capítulo 3 - Corredores silenciosos

A noite caiu pesada sobre a mansão, e com ela, um silêncio ainda mais espesso do que durante o dia. Os funcionários haviam encerrado suas tarefas. A cozinha estava limpa, os lustres apagados e os tapetes alinhados. Cada canto brilhava, como exigido.

Luna se deitou em sua cama com o corpo exausto, os braços doendo após tantas horas esfregando chão e polindo móveis. Ainda não tinha se acostumado com o ritmo da casa mas não reclamava.

Ao contrário, sentia-se… viva.

Cansada, sim. Mas viva.

Na cabeceira, repousava a única foto que trouxe do Brasil: ela, aos 12 anos, ao lado de sua mãe, Joana. Um sorriso de duas mulheres que sabiam pouco sobre o que era descanso, mas muito sobre o que era lutar.

Joana fora a força, o alicerce, a mão que ensinou que dignidade não vinha do quanto se tinha, mas do quanto se era fiel a si mesma.

Luna fechou os olhos com a imagem da mãe ainda viva na mente, mas o sono não veio de imediato. Talvez por causa do novo ambiente. Talvez por causa da sensação de que alguém a observava… mesmo sem estar ali.

Quase meia-noite.

A sede venceu.

Luna levantou devagar, pegou um casaco e saiu de seu quarto, os passos leves sobre o piso frio dos fundos da casa. Conhecia bem o caminho até a cozinha, e não precisaria acender nenhuma luz.

A mansão à noite parecia ainda maior. Os quadros nas paredes pareciam observá-la, os móveis pareciam sussurrar segredos.

Ela alcançou a cozinha, pegou um copo e encheu de água. Bebeu lentamente, sentindo o líquido gelado aliviar o calor que subia por dentro. Só então percebeu que não estava sozinha.

— Costuma andar pela casa à noite?

A voz masculina soou baixa e rouca atrás dela, mas ainda assim, fez sua espinha se arrepiar.

Luna virou-se devagar.

Bernardo estava encostado no batente da porta, de braços cruzados. Usava apenas uma calça de pijama cinza, sem camisa. O cabelo levemente bagunçado e o peito exposto revelavam músculos bem definidos e cicatrizes discretas.

Ela engoliu seco.

— Sede. Não imaginei que alguém mais estaria acordado.

— Essa casa quase nunca dorme. Eu, muito menos.

Ele deu alguns passos para dentro, e Luna se afastou instintivamente, sem saber por quê.

— Algum problema com o trabalho? — ele perguntou, parando a poucos metros dela.

— Nenhum. Estou me adaptando.

— Rápido demais. A maioria dos novos erra nos primeiros dias.

Ela sustentou o olhar dele, mesmo sentindo o ar rarefeito entre os dois.

— Eu não posso me dar ao luxo de errar.

Bernardo a analisou com aquele olhar que parecia atravessar camadas. Como se tentasse entender o que havia por trás da calma dela. Do tom firme. Da boca que dizia pouco, mas dizia o suficiente.

— Por que está aqui, Santiago?

— Por que o senhor me contratou?

— Não. Por que aqui. Por que essa cidade, essa vida?

Ela hesitou. Por um instante, pensou em mentir. Mas havia algo na vulnerabilidade silenciosa daquela hora que a fez baixar um pouco a guarda.

— Porque eu precisava recomeçar. Longe de tudo o que me quebrava. E porque minha mãe me ensinou que dignidade a gente carrega na mala, não importa onde esteja.

Ele ficou em silêncio. Era raro alguém mencionar família perto dele. Raro ouvir algo com verdade nos olhos.

— E o que você fazia antes? — perguntou, mais baixo.

— Tentava sobreviver. Com mais coragem do que dinheiro.

Um silêncio se instalou entre os dois. Não era constrangedor. Era… denso. Intenso. Como se ambos se reconhecessem ali, naquela madrugada silenciosa e crua, onde ninguém estava fingindo.

Bernardo se aproximou mais um passo. Ela não recuou.

— Você me intriga, Santiago.

— Isso não soa como um elogio.

— Não é. Mas também não é uma crítica.

Ela sorriu de canto. E foi aí que ele notou pela primeira vez o brilho verdadeiro nos olhos dela. Não era só beleza. Era algo mais.

Algo que ele não conseguia nomear. E detestava não entender.

— Volte pro quarto. Funcionários devem descansar para render no dia seguinte.

Ela assentiu e passou por ele com calma, o ombro quase roçando no dele. Sentiu o calor da pele dele a milímetros da sua. E soube sem que precisasse olhar pra trás que ele também havia sentido.

Na porta, ela parou e virou o rosto de leve.

— Boa noite, senhor Vilela.

— Bernardo.

Ela arqueou uma sobrancelha, surpresa.

Ele a fitou, ainda parado no meio da cozinha.

— Pode me chamar de Bernardo… quando não tiver ninguém por perto.

Luna apenas sorriu.

E desapareceu pelo corredor.

Mas naquela noite, nem ela, nem ele, dormiram bem.

E pela primeira vez, o silêncio da mansão… parecia cheio demais.

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Comments

Amélia Rabelo

Amélia Rabelo

luna com o seu jeitinho tá conquistando o patrão

2025-08-28

1

Sônia Ribeiro

Sônia Ribeiro

👏👏👏👏 já tá deixando o patrão apaixonado 🤣🤣♥️♥️👏👏👏👏👏

2025-07-26

5

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 - A porta do impossível
2 Capítulo 2 - Primeiras impressões
3 Capítulo 3 - Corredores silenciosos
4 Capítulo 4 - Onde há silêncio, há inveja
5 Capítulo 5 - Confissões
6 Capítulo 6 - Cuidado ou controle?
7 Capítulo 7 - A escolha
8 Capítulo 8 - O quarto ao lado
9 Capítulo 9 - Feridas
10 Capítulo 10 - Desejo
11 Capítulo 11 - De volta ao silêncio
12 Capítulo 12 - O olhar de fogo
13 Capítulo 13 - Silêncios que falam
14 Capítulo 14 - Rendição silenciosa
15 Capítulo 15 - O toque depois do silêncio
16 Capítulo 16 - Um jantar para dois
17 Capítulo 17 - Entre olhares e silêncios
18 Capítulo 18 - O que não se diz em voz alta
19 Capítulo 19 - O dono do silêncio
20 Capítulo 20 - Um almoço, dois mundos
21 Capítulo 21 - Suspiros
22 Capítulo 22 - Confissões e desejos ardentes
23 Capítulo 23 - Um novo começo
24 Capítulo 24 - Um jantar, dois corações
25 Capítulo 25 - Promessas
26 Capítulo 26 - Planos emocionais… Sensuais?
27 Capítulo 27 - Jogo de olhares
28 Capítulo 28 - Quando o desejo vira amor (HOT)
29 Capítulo 29 - Amanhecer com gosto de nós dois
30 Capítulo 30 - Até logo com gosto de saudades
31 Capítulo 31 - Dois corações em distância
32 Capítulo 32 - De volta pra ela
33 Capítulo 33 - Inimigo a vista
34 Capítulo 34 - O inimigo silencioso
35 Capítulo 35 - Primeira jogada
36 Capítulo 36 - Entregues outra vez
37 Capítulo 37 - Mudanças de vida
38 Capítulo 38 - Oficialmente nós
39 Capítulo 39 - Primeiro dia
40 Capítulo 40 - Portas que se abrem
41 Capítulo 41 - Na boca dos leões
42 Capítulo 42 - Projeto VIVA
43 Capítulo 43 - Intenções
44 Capítulo 44 - Raízes
45 Capítulo 45 - Fome de você
46 Capítulo 46 - Sinais de tempestade
47 Capítulo 47 - Entre a tempestade e o desejo
48 Capítulo 48 - Fantasmas
49 Capítulo 49 - Do céu ao caos
50 Capítulo 50 - A voz da virada
51 Capítulo 51 - Você mexeu com a mulher errada
52 Capítulo 52 - A revolução tem nome
53 Capítulo 53 - O inimigo se move
54 Capítulo 54 - Depois da tempestade
55 Capítulo 55 - A queda do império Solari
56 Capítulo 56 - A voz da liderança
57 Capítulo 57 - O início da queda
58 Capítulo 58 - As máscaras estão caindo
59 Capítulo 59 - A fuga
60 Capítulo 60 - Depois da tempestade, o fogo
61 Capítulo 61 - Sede de você
62 Capítulo 62 - Entregues
63 Capítulo 63 - Promessas de amor
64 Capítulo 64 - Dois corações batendo juntos
65 Capítulo 65 - Laços eternos
66 Capítulo 66 - Primeira batida, primeiro amor
67 Capítulo 67 - O prazer de viver juntos
68 Capítulo 68 - Amor e medo
69 Capítulo 69 - Ameaças
70 Capítulo 70 - O fim da caça
71 Capítulo 71 - A calmaria depois da tempestade
72 Capítulo 72 - Entre sonhos e promessas
73 Capítulo 73 - Revelação
74 Capítulo 74 - Contagem regressiva
75 Capítulo 75 - Chegou a hora
76 Capítulo 76 - O primeiro choro
77 Capítulo 77 - A nova rotina com Isadora
78 Capítulo 78 - Preparativos
79 Capítulo 79 - Para sempre, meu amor
80 Capítulo 80 - Felizes para sempre
81 Epílogo - Onde o amor vive
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Atualizado até capítulo 81

1
Capítulo 1 - A porta do impossível
2
Capítulo 2 - Primeiras impressões
3
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4
Capítulo 4 - Onde há silêncio, há inveja
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Capítulo 5 - Confissões
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Capítulo 6 - Cuidado ou controle?
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Capítulo 7 - A escolha
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