1 — O Cheiro do Café e o Sabor da Vingança**
O sol ainda bocejava sobre os campos de café quando o sino da vila operária tocou pela primeira vez. O som ecoou por entre as casinhas de pedra e telhado avermelhado, anunciando o início de mais um dia de trabalho na **Fazenda Pérola Negra**, a joia suja da máfia Nangreta cravada no coração da Toscana.
Katrina abriu os olhos devagar, sentindo o corpo latejar da noite mal dormida. A madeira do colchão estalava sob suas costas, e o cobertor fino já não barrava o vento gelado que soprava pelas frestas da janela. Sentou-se, esfregou os olhos e ficou ali, quieta, por alguns segundos, ouvindo os galos cantando e o ranger das rodas de carroça na estrada de terra.
O quarto era pequeno, quase claustrofóbico. Uma cômoda com a gaveta quebrada, um espelho manchado pendurado por um fio e um altar improvisado com a foto desbotada de **Lucrécia**, sua mãe, que a observava de cima como uma sombra que nunca partia. O olhar de Lucrécia naquela foto não era doce — era um olhar cansado, desconfiado, de quem sabia demais sobre a crueldade do mundo.
Katrina passou os dedos pela imagem.
— Hoje não, mãe. Hoje eu não vou chorar.
Se vestiu com a mesma roupa de sempre: jeans encardido, camisa branca amarrotada e um lenço preso ao cabelo castanho. Pés enfiados nas botas grossas de couro, rachadas na sola. No espelho, uma jovem de 21 anos lhe encarava de volta com olhos escuros, fundos, e uma beleza amarga, de traços marcantes. Não era uma beleza de salão, como a das filhas das senhoras italianas da cidade. Era uma beleza crua, feita de sol, terra e raiva acumulada.
Na cozinha, **Marimar** já estava com a chaleira no fogão. Ela usava um avental florido por cima da calça surrada, e cantarolava uma música napolitana qualquer enquanto cortava pão velho com uma faca cega.
— Tá viva, desgraça? — disse ao ver Katrina entrar.
— Mais ou menos — respondeu, pegando uma caneca e servindo café.
Marimar era a única coisa boa naquele lugar. Moreno clara, cabelo preso num coque bagunçado e uma boca afiada como navalha. As duas se conheciam desde adolescentes e, depois da morte de Lucrécia, foi ela quem abriu espaço na casinha humilde e no coração. Eram inseparáveis. Sofriam e riam juntas. Se protegiam no meio do campo de lobo em que viviam.
— Hoje é dia de inspeção. Fica esperta — avisou Marimar. — Disseram que o novo capo chega pra ver como anda o império.
— Outro velho com cara de padre e alma de demônio?
— Não. Esse é diferente. É o filho do Caporello. Vai herdar tudo.
Katrina levantou a sobrancelha.
— E vai vir aqui? Nessa espelunca?
— Vai. Ele quer conhecer cada parte da estrutura. O sangue novo tá cheio de sede de poder.
Elas saíram juntas, os passos batendo firme no chão de pedra da vila, descendo pelas vielas de cascalho que levavam até a estrada principal. O céu era um azul opaco, o ar cheirava a grão seco e esterco. Os primeiros tratores já estavam ligados, homens gritando ordens em italiano sujo, as sacas de café sendo empilhadas nos galpões.
A fazenda era gigantesca. Com seus campos espalhados por morros e planícies, se estendia por hectares. Cada centímetro daquele solo já tinha visto sangue, suor e suborno.
**Era ali que a máfia Nangreta lavava milhões sob o disfarce da exportação legal.**
Katrina e Marimar passaram pelo portão lateral onde os trabalhadores entravam. Mostraram as identificações velhas, receberam os jalecos da cooperativa e seguiram para o setor sul, onde os cafezais formavam túneis escuros e perfumados.
Começaram a colheita com as mãos rápidas. Os dedos se enfiando entre os galhos, puxando os frutos vermelhos e os jogando nas cestas amarradas à cintura. O silêncio entre elas era comum no início da lida — cada uma presa nos próprios pensamentos.
Foi no meio da colheita, já com as costas ardendo do sol e a pele grudada de suor, que **ela o viu**.
Na curva do morro, descendo de uma SUV preta com placa diplomática, ele surgiu como se fosse um quadro renascentista pintado à base de pecado.
**Bernardo.**
Alto, ombros largos, cabelos negros penteados com um toque de desleixo calculado. Vestia uma camisa cinza dobrada nos cotovelos, calça preta justa e botas italianas reluzentes. Tinha o corpo de um homem que conhecia tanto a academia quanto a violência. Os olhos eram duas pedras frias, cortantes, cravando o ambiente como se tudo lhe pertencesse. Ele caminhava como se não precisasse pedir licença pra existir.
Atrás dele, vinham dois seguranças — tipos carecas, de terno preto e cara de enterro. Ele, porém, não sorria nem acenava. Apenas observava, inspecionando, julgando.
Katrina congelou.
— Quem é esse, Mari? — perguntou sem desgrudar os olhos.
Marimar sorriu, sarcástica.
— Você tá de brincadeira, né?
— Tô perguntando sério. Quem é o rico da vez?
— Katri… impossível que tu não reconheça. Esse aí é o **Bernardo Caporello**. O novo capo da máfia Nangreta. Filho único do velho.
Katrina quase largou a cesta.
— Ele mesmo?
— Ele. O futuro rei. E se prepara que dizem que o jantar beneficente desse mês vai ser pra anunciar oficialmente a sucessão.
Bernardo agora parava diante do supervisor da área, apertava mãos, recebia relatórios, sem trocar um sorriso. Frio. Sério. Imponente.
— E ele é casado? — perguntou Katrina, a voz mais baixa agora.
— Não. Mas… — Marimar sorriu com malícia — dizem que já tem uma mulher reservada pra ele.
— Quem?
— **Kethelyn Moretti.** Filha do Maldonado e da Janaína.
Ao ouvir os nomes, o corpo de Katrina enrijeceu.
— A princesa de olhos azuis. Aquela Barbie de porcelana que vive em Florença, estudando moda e fazendo campanha beneficente pra "ajudar as crianças da Síria". Tudo fachada. Vive em festa, salão e loja cara. Nunca encostou um dedo numa enxada, mas já dizem que será a próxima dama da máfia.
— Eles têm algo?
— Ele é obcecado nela. Cresceram juntos em eventos da alta. Mas só agora, com ele assumindo, o velho Caporello quer fazer a união oficial das duas famílias.
Katrina ficou em silêncio.
Olhou de novo pra Bernardo.
Depois fechou os olhos por um instante e respirou fundo.
— Então no jantar beneficente ele vai escolher a noiva…
— É o que dizem. Todo mundo aposta que será ela. Loira, perfeita, rica. O par ideal.
Mas Katrina já não ouvia mais.
A mente dela trabalhava como uma engrenagem velha e barulhenta.
Aquele era o momento.
Aquele homem era a chave.
Se ela conseguisse entrar naquele mundo… nem que fosse por uma noite.
Se engravidasse dele…
Se a linhagem da máfia se misturasse com o sangue bastardo de Lucrécia…
— Tá pensando o quê, sua doida? — perguntou Marimar, percebendo o olhar da amiga.
— Nada — mentiu Katrina, com um sorrisinho no canto da boca. — Só achei curioso.
— Curioso, é? Aquilo ali é perigoso, mulher. É tipo morder cobra achando que é cinto.
— E quem te disse que eu tenho medo de cobra?
Marimar ficou séria por um instante.
— Katri… cê sabe que esse jogo não é pra gente.
— Eu sei.
Mas ninguém vai me impedir de jogar.
E enquanto o sol italiano queimava as costas das duas, e os grãos de café caiam um a um nas cestas, **Katrina já planejava sua guerra.**
Uma guerra silenciosa, feminina, suja.
Ela não queria justiça.
Queria deixar Maldonado ajoelhado. Queria ver a boneca de olhos azuis implodir.
E queria usar o herdeiro da máfia como isca, arma e troféu.
Ela sorriu para si mesma, os olhos fixos em Bernardo.
— Vai ser difícil — murmurou. — Mas eu nasci pra esse tipo de dificuldade.
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Atualizado até capítulo 32
Comments
N😍S😍S😍 Minhas Pedras precio
Eita vai ter muita reviravolta nessa história ainda em ansiosa aqui 😍😍😍
2025-07-25
4
Carla Santos
Sinceramente essa história vai dar o que falar já estou vendo pelos menos uma mulher forte determinada mesmo na dó vai se vingar isso aí mulher séria tão bom se tivesse um aliado
2025-07-31
2
Aldeir Rodrigues
autora q ela consiga se vingar e ele se apaixonar por ela
2025-07-25
2