Capítulo 4 — Café, Código Penal e Confissões Mal Contadas

Hanry

Springday tinha aquele ar de cidade interiorana onde todo mundo sabia da vida de todo mundo — menos, claro, quando se tratava da vida dupla dos Harper. Henry acordou naquela manhã de quarta-feira com o despertador tocando uma música irritante, que ele ainda não tinha conseguido trocar porque o aplicativo travava toda vez que tentava.

— Ah, vai se foder, celular — murmurou, virando-se de cara no travesseiro, antes de finalmente criar vergonha e se levantar.

Enquanto colocava a camisa social por cima do corpo ainda molhado da ducha rápida, ouviu a voz da mãe vindo do andar de baixo.

— Henry! Tem pão de queijo e suco de laranja! E o motorista vai te deixar na faculdade hoje, não se atrase!

— Já falei que não quero motorista, mãe! Eu tenho carro!

— Um carro com o retrovisor pendurado? Henry Harper, você não vai sair com aquela aberração — retrucou a mãe, com a voz doce demais pra ser levada a sério.

Henry bufou, pegou a mochila e desceu as escadas. Seus pais, sentados à mesa como se fossem a porra de um casal presidencial, tomavam café como se nada na vida os preocupasse.

— Bom dia, filho. Dormiu bem? — perguntou o pai, levantando os olhos do tablet.

— Dormi pensando em como vou pagar um retrovisor novo com o salário de estagiário.

A mãe revirou os olhos. — A gente pode mandar arrumar, amor. Sem drama.

— Sem drama? A senhora acha que um alfa brutamontes que joga a porra da moto no carro dos outros é "sem drama"?

Os dois pais se entreolharam por um segundo a mais do que deveriam. Henry estreitou os olhos, mas deixou passar. Eles sempre agiam assim quando ele falava de "problemas externos", como chamavam qualquer coisa que envolvesse confusão.

— Eu vou resolver, tá? Do meu jeito — disse ele, pegando um pão de queijo da cesta e enfiando na boca antes de sair pela porta.

---

Na faculdade de Direito, Henry era conhecido por duas coisas: suas respostas afiadas e sua capacidade de fazer sarcasmo soar como arte. E, naquele dia, ele estava especialmente ácido.

— Se mais um professor disser que estágio é oportunidade de aprendizado e não exploração, eu juro que rasgo meu próprio diploma — resmungou, jogando a mochila na cadeira ao lado de Katty.

— Bom dia pra você também, alma amarga — respondeu Katty, loira, cheia de tatuagens e com um pirulito na boca, como sempre. — Você ainda tá com a história do retrovisor?

— O brutamontes me deve trezentos conto e um pedido de desculpa. E, de preferência, ajoelhado.

— Eu adoraria ver isso — disse Benício, rindo, com a cara colada no notebook.

— Ele é o ômega mais perigoso que essa cidade já viu — comentou Alice, com aquele tom teatral. — Um Harper rejeitado pelo próprio carro.

— Vão todos se ferrar — murmurou Henry, mas estava rindo.

Jhone chegou por último, com dois copos de café e uma expressão de quem tinha passado a noite toda estudando ou transando — no caso dele, sempre era difícil saber qual dos dois.

— Olha, Henry, eu li sobre esse tal de “instinto de alfa” aí. Vai que o cara te seguiu por causa do cheiro? — disse ele, como se fosse um fato científico indiscutível.

Henry quase cuspiu o café que acabara de roubar da mão de Katty.

— Primeiro: ninguém “segue meu cheiro”. Segundo: ele nem sabe que eu sou ômega, e se soubesse, continuaria sendo um idiota.

— Você realmente acha que ninguém percebe? — provocou Alice. — Mesmo escondendo, você tem esse ar... selvagem.

— Selvagem? — Henry ergueu uma sobrancelha. — Eu uso hidratante com cheiro de lavanda, Alice. A única coisa selvagem aqui é minha paciência se esgotando.

Todos riram. A manhã passou com discussões acaloradas sobre teoria penal, piadas sobre o professor que esquecia os próprios slides e o plano mirabolante de Katty de abrir um escritório clandestino de divórcios na garagem da avó.

Na hora do almoço, o grupo foi ao restaurante universitário, onde tudo era seco demais ou molhado demais. Henry estava prestes a reclamar do feijão quando recebeu uma mensagem da mãe.

> "Seu pai quer que você venha jantar em casa hoje. Assunto de família."

Ele franziu a testa. Assunto de família? Isso soava mais como "vamos te contar que somos reis do tráfico" do que "seu cachorro vai ser castrado".

— Problemas? — perguntou Jhone, observando a cara tensa de Henry.

— Nada demais. Só um daqueles jantares em que meus pais me tratam como se eu fosse o novo herdeiro de alguma dinastia secreta.

— Vai ver você é — disse Katty. — E a gente só tá aqui porque você ainda não despertou o seu poder.

— Sim, Katty, isso é um anime agora. Vou despertar minha herança mafiosa no episódio 12.

Eles riram, mas Henry guardou o celular no bolso com um aperto no peito. Às vezes ele sentia que tinha algo errado. Como se não soubesse nem a metade da própria história. Como se a cidade inteira estivesse esperando algo dele — e ele nem sabia o quê.

O dia terminou entre mais anotações rabiscadas, planos para o fim de semana e a promessa de que Katty o obrigaria a sair para dançar no sábado.

Mas no fundo, enquanto fingia se concentrar nos livros de Direito Penal, a imagem de um alfa grosseiro e de olhar perigoso ainda surgia em sua mente. E isso o irritava profundamente.

Não porque ele queria distância.

Mas porque, mesmo sem saber, o tal alfa ainda estava grudado na memória dele como se tivesse deixado uma marca invisível.

E Henry odiava isso.

Odiava mais ainda o fato de parte dele... estar curiosa.

Curtam, comentem e compartilhem. 😘🥀

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Comments

Ana Carolina Ferreira

Ana Carolina Ferreira

tô gostando da história mais acho que faltou as fotos

2025-08-01

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Capítulos
1 Conheça Nossos Personagens
2 Capítulo 1 – Segunda-feira de Estresse
3 Capítulo 2 — Uma terça-feira qualquer (ou não)
4 Capítulo 3 – Café Amargo, Respostas Piores
5 Capítulo 4 — Café, Código Penal e Confissões Mal Contadas
6 Capítulo 5 - Silêncio de Ouro e Pratos de Prata
7 Capítulo 6 — A Tentação tem Tatuagens e Olhar de Psicopata
8 Capítulo 7 – Advogados, Ômegas e Outros Desastres Controlados
9 Capítulo 8 — Marcas de Asfalto e Veneno
10 Capítulo 9 – O Cheiro da Mentira
11 Capítulo 10 – A Queda da Máscara
12 Capítulo 11 – A Irrupção do Instinto
13 Capítulo 12 – O Fim da Farsa
14 Capítulo 13 – O Peso da Herança
15 Capítulo 14 – Uma Nova Realidade
16 Capítulo 15 – Marcas Visíveis e Uma Nova Rotina
17 Capítulo 16 – O Lado Escuro de Elaijh
18 Capítulo 17 – As Consequências e a Calmaria
19 Capítulo 18 – O Ninho do Lobo
20 Capítulo 19 – Ciúme e Confronto
21 Capítulo 20 – As Leis da Alcateia
22 Capítulo 21 – Ciúmes e Companheirismo
23 Capítulo 22 – O Preço da Nova Realidade
24 Capítulo 23 – O Tempo se Esgota
25 Capítulo 24 – Aliança Inesperada
26 Capítulo 25 – As Cicatrizes Invisíveis
27 Capítulo 26 – Amigos e o Conforto Inesperado
28 Capítulo 27 – A Vingança da Alcateia e o Caminho de Volta
29 Capítulo 28 – A Primeira Vez de Verdade
30 Capítulo 29 – O Nó e o Medo do Futuro
31 Capítulo 30 – Fantasmas do Passado e um Ômega Furioso
32 Capítulo 31 – A Fúria do Ômega Marcado
33 Capítulo 32 – A Verdade Revelada e a Paz Encontrada
34 Capítulo 33 – Novos Horizontes e Velhos Laços
35 Capítulo 34 – A Tempestade e o Encontro Inesperado
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Atualizado até capítulo 35

1
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2
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3
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