Capítulo 1
NARRAÇÃO (voz interna de Valentina):
Nasci numa família conservadora, dona de uma loja de roupas... Mas isso é só a fachada.
Por trás dos provadores, nos fundos do estoque, entre etiquetas e manequins —
somos os guardiões do Véu.
O Véu... é uma membrana invisível entre o mundo físico e o espiritual. Uma película fina, frágil,
que se rompe cada vez que o equilíbrio é ameaçado.
E quando se rompe... algo escapa.
Vocês já se perguntaram por que pessoas simplesmente somem? Sem rastros, sem lógica?Elas atravessam o Véu. Ou pior — são engolidas por ele.
Lá dentro, existem criaturas que devoram tudo: humanos, animais, o próprio tempo.
Minha família existe para impedir isso.
Servimos nas sombras. Agimos em silêncio.
E agora... “Chegou a minha vez.”
Faz mais de cem gerações que não, nascia alguém como eu.
Fui abençoada pelos deuses no momento em que respirei pela primeira vez.
Cabelos longos, ruivos, que brilham como fogo vivo.
Olhos que queimam na escuridão como brasas.
Uma marca de nascença em forma de chama gravada na minha coxa.
Sou Valentina.
A última Guardiã da Linhagem Ardente.
Era para ser só mais um dia comum. Aula, tédio e suspiros no corredor.
Então eu senti... o ar rasgar.”
(Valentina olha discretamente para o relógio. 10:47.)
“O Véu estava abrindo. E estava perto.”
Ela caminha até a sala de dança vazia. O som desaparece. O chão vibra. O teto range.
“Atrás da música... estava a ruptura.”
(A atmosfera distorce). O ar ao redor dela parece ondular como calor.
“É aqui.”
(Ela solta os cabelos. Os fios ruivos se espalham como labaredas. Seus olhos brilham.)
Valentina entra em silêncio. Fecha a porta atrás de si. Cabelo solto. A luz fraca reflete nos fios ruivos como se fossem brasas.
Valentina — Venha, criatura do vazio. Vamos dançar.
A criatura surge: sem forma definida, feita de sombra líquida e ossos desconexos. Vários olhos acesos como faróis vermelhos.
Valentina não se move. Somente observa.
A criatura ruge, lançando-se para frente com garras feitas de fumaça sólida.
Com um giro suave. Valentina escapa do ataque como se estivesse dançando. Seu corpo gira, o cabelo acompanha como uma labareda viva.
Dos dedos dela, fios incandescentes surgem — finos como seda, cortantes como aço.
Ela desfere um golpe com os fios em arco, cortando o ar. A criatura salta para trás, mas parte do seu ombro é rasgado.
SFX: ZAAAK
Ela gira no chão, os fios traçam padrões no ar.
A criatura ataca com velocidade brutal. Ela desvia como se a criatura estive-se lenta.
Um salto com o corpo torcido no ar — os fios a seguem como tentáculos flamejantes.
Valentina para no centro da sala. Respiração calma. Os fios formam um círculo em volta dela.
Ela estende o braço (aparentando uma imagem de uma menininha indefesa). Os fios se contraem.
Valentina (fria):
“Você vai apagar… sem nunca ter existido.”
A criatura é cercada pelos fios. Um último movimento de Valentina — ergue um dos braços no ar, depois puxando com força.
SFX: SHHHK-KRAAAK
A criatura se dissolve. Pedaços viram fumaça escura e desaparecem. Silêncio.
A criatura já desapareceu. Valentina permanece de pé no centro da sala.
Ela respira devagar. Seus fios incandescentes somem, um a um.
A brasa em seus olhos apaga.
Ela ainda não notou o estrago ao redor.
Valentina olha ao redor...
Espelhos estilhaçados, o chão queimado em círculos, paredes chamuscadas como se tivessem sido queimada por fogo.
Valentina (pensamento):
“... Fui longe demais”.
Sem perder a postura, respira fundo.
Amarra o cabelo ruivo novamente, prendendo o caos dentro de si como se fosse só mais uma parte do uniforme.
Ela caminha calmamente. Nenhum aluno notou. Ninguém imagina.
O cheiro de fumaça começa a se espalhar, mas a direção contrária.
Valentina senta, abre o caderno. A aula segue. Professores distraídos. Alunos entediados.
Tudo segue... Como se o mundo não tivesse tremido minutos atrás.
Na volta para casa. Valentina caminha sozinha. Sol caindo, sombras longas.
Ela lembra do movimento final: a explosão dos fios, o clarão laranja, o som do fogo consumindo.
Valentina (pensamento):
“Minhas chamas… não obedeceram. Elas... me dominaram.”
A mãe atende o telefone com um sorriso educado.
Do outro lado, a voz da diretora da escola.
Diretora (voz no telefone):
“Infelizmente... houve um curto-circuito. Um incêndio. Ninguém se feriu, mas as aulas estão suspensas por tempo indeterminado.”
Eles não dizem nada, mas entendem.
Pai (sussurra):
“Foi ela.”
Valentina entra na loja dos seus pais. O sino da porta toca baixinho.
Ela olha para os pais, parados no balcão. Nenhum cliente agora.
Valentina (séria):
“Eu... perdi o controle.”
Ele não se surpreende. Somente se vira, caminha até sua casa no funda da loja.
Pai (sério, em voz baixa):
“Chame o Ancião Igor. Agora.”
O homem entra pela porta dos fundos. Alto, magro, vestindo um casaco antigo cheio de bordados estranhos.
Os olhos dele são profundos, como se tivessem visto mais do que qualquer humano deveria.
Ele não cumprimenta, não sorri.
Ancião Igor (com voz baixa, firme):
“Valentina… venha comigo.”
Eles caminham por um corredor de pares de madeiras envelhecidas, muito mais velho do que qualquer estrutura da loja moderna.
Luzes nas paredes acendem sozinhas à medida que passam.
Uma porta de madeira ancestral, entalhada com símbolos em forma de chamas, olhos e espirais.
No centro da porta, o mesmo símbolo da queimadura de Valentina.
Ela se aproxima… sua marca brilha suavemente em resposta.
Ancião Igor:
“Esse lugar só se abre quando alguém da Linhagem Ardente... desperta fogo demais.
A porta range ao abrir.
Lá dentro, uma sala redonda, com paredes cobertas de tapeçarias, livros e armas antigas.
Nessa sala o tempo não passava normalmente. Lá dentro 1 semana, lá fora 5 minutos.
Valentina (pensando):
“Naquela noite… deixei de ser só herdeira.
Me tornei o que eles passaram gerações escondendo.
Um perigo.
Uma promessa.
Uma Guardiã desperta.”
Assim que ela entra, o símbolo na sua perna brilha intensamente — e o som ao redor parece se apagar.
O tempo desacelera. — e o som ao redor parece se apagar.
Narração (Valentina em pensamento):
“Dentro daquela sala… o tempo não era o mesmo.”
“Lá dentro, sete dias passam... e aqui fora, só cinco minutos respiram.”
O Ancião Igor a observa com expressão séria, mas não de medo — de cautela cerimonial.
Ele já viu isso antes? Talvez só uma vez? Talvez nunca.
Ancião Igor:
“Tudo o que você é… está gravado neste lugar.
Mas também tudo o que pode destruir.”
Enquanto ela se aproxima do centro da sala, ela se vê envolta de uma névoa
escura, começa aparecer imagens. Ela fica concentrada.
Ela vê o próprio reflexo distorcido: com olhos em chamas, cabelos dançando sozinhos, e uma segunda marca surgindo no ombro.
Valentina:
“Eu me vi. Não como sou. Mas como posso ser.
Uma Guardiã completa… ou uma ameaça sem freios.”
A névoa se dispersa depois de um tempo.
A caverna é vasta. O chão é de pedra negra, e no centro há um círculo de runas com uma chama flutuando no ar — viva, girando, consciente.
Essa é a Chama da Prova, um fogo espiritual deixado por antigos Guardiões.
Ancião Igor:
“Fique dentro do círculo.
Se a chama te aceitar, ela vai te guiar.
Se não... ela vai te consumir.”
Ela tira o casaco, de pé, somente com o uniforme ajustado, os pés descalços no chão frio.
O símbolo em sua perna começa a queimar suavemente.
O fogo no centro responde — se curva, gira, se ergue.
Valentina (pensamento):
“Não é só poder.
É identidade.”
Fagulhas dançam ao redor dela. A chama começa a se mover como se imitasse seus passos.
Ela gira levemente, e o fogo acompanha.
Não é uma luta. É uma coreografia.
Nas paredes da caverna tem coreografias entalhadas.
Valentina usando os fios flamejantes.
Criaturas do Véu tentando atravessar.
Ela perdendo o controle...
E depois recuperando, com respiração profunda e precisão nos movimentos.
Ela dança com o fogo como nas imagens na parede.
A chama toca seu peito.
Por um instante, ela grita, caída de joelhos.
Mas em vez de dor… ela sorri.
Ela aceita o fogo. E o fogo aceita ela.
Com isso o treinamento começa.
Ela treinando com fios flamejantes no ar.
Meditando flutuando a centímetros do chão.
Selando pequenas brechas do Véu com um simples gesto de mão.
Enfrentando projeções de antigos Guardiões... E vencendo todos.
Depois de tudo o fogo ao redor se curva, e depois apaga.
Valentina:
“Agora... o fogo dança comigo.”
Ela respira fundo.
A chama que antes flutuava no centro agora está dentro dela — parte do seu ser.
Sua pele não brilha, mas pulsa discretamente.
Ela abre os olhos. Os mesmos olhos em brasa… agora calmos.
Controlados.
“Um mês se passou ali dentro.
Mas não senti fome. Nem cansaço.
O tempo molda... quando o corpo é só um recipiente.”
Valentina sai lentamente da caverna.
A porta de madeira se abre sozinha.
A luz do mundo real entra ofuscante.
Ela cobre os olhos com a mão por um instante.
Valentina encontra um bilhete deixado à mão, com a caligrafia precisa do Ancião Igor.
Bilhete:
“O resto do caminho, você trilha sozinha.
Agora é você quem guia os que virão.
Não me procure.”
Ela lê. Respira fundo.
Nenhuma lágrima.
Apenas entendimento.
Ela dobra o bilhete e guarda com cuidado dentro do uniforme.
Valentina (pensamento):
“Então está na hora…
de voltar ao mundo real.”
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Suzy❤️Koko
Esperando o próximo capítulo como se fosse água no deserto. 🌵🏜️
2025-07-23
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