Capítulo 3

A Festa Continua

 Gregori

Voltar para o salão foi como mergulhar em outro universo.

A música alta, os flashes, o som dos saltos sobre o mármore... tudo parecia falso demais depois do que senti com Valentim naquela varanda. Meu peito ainda estava acelerado. Meus lábios trêmulos, como se qualquer brisa pudesse revelar o que havia acontecido entre nós.

Valentim caminhava ao meu lado. Rosto sério. Postura firme. Ele estava no modo “Dom” agora. E eu sabia o que isso significava.

Apenas quem nos conhecia de verdade — como nossos pais — saberia que algo havia mudado. Que aquele toque, aquele olhar no meio da multidão, não era mais só posse… era amor. Amor com cheiro de pólvora e gosto de sangue.

— “Atenção,” — murmurou ele, enquanto passávamos por um grupo de aliados da máfia turca. — “Alguns aqui não vieram apenas para celebrar.”

Assenti, atento. Nossos olhos vasculharam o salão como dois predadores caçando. A herança Mikhailov e Petrov queimava em nossas veias como veneno — e poder.

 Aline

Da varanda superior, com uma taça de vinho tinto na mão, eu observava tudo. Meus filhos. Meus homens. E agora… aqueles dois.

Gregori sorria por fora, mas seu olhar estava fixo em Valentim. Ele não disfarçava mais.

— “Eles cruzaram a linha.” — murmurei para Nikolai.

Ele assentiu, tranquilo. Como se já esperasse isso.

— “Eles se pertencem. Isso sempre foi óbvio.”

— “E quando os inimigos perceberem?”

— “Aí... que tentem separar.” — ele disse com um sorriso sombrio. — “Mas vão morrer tentando.”

Demitire

— “Alexei,” — chamei, com a voz baixa. — “Está vendo o que estou vendo?”

— “Sim. E confesso… nunca senti tanto medo e orgulho ao mesmo tempo.”

Gregori e Valentim caminhavam lado a lado como dois generais prestes a tomar o trono de um império. O filho de Robert De La Cruz nem ousava mais olhá-los.

Cuba já havia recuado. Mas a guerra maior era silenciosa… e estava só começando.

Valentim

— “Quer dançar?” — perguntei, quebrando o silêncio.

Gregori me olhou, surpreso.

— “Dançar? Aqui, agora?”

— “Você disse que nunca teve um baile de verdade.”

Ele sorriu, tímido, e me entregou a mão.

A música mudou, como se o destino conspirasse.

Ao som de um jazz lento, nossos corpos se moveram com uma sincronia natural. Meus dedos em sua cintura. Os olhos dele nos meus. A pista inteira parou. Os convidados fingiam não olhar, mas todos estavam assistindo.

Ali, no meio do salão dos magnatas, sob o olhar de mafiosos do mundo inteiro, nós dançamos.

Sem medo.

Sem máscaras

Gregori

Era mais que uma dança. Era uma declaração. Um grito silencioso de que eu pertencia a ele. Que, mesmo que o mundo ruísse, mesmo que os inimigos tentassem nos destruir…

Nós estaríamos juntos.

No fim da música, ele me puxou para mais perto. O calor da mão dele em minha nuca me fez prender a respiração.

— “Eu te amo,” — ele murmurou, para que só eu ouvisse.

E eu sorri.

Porque, pela primeira vez, não precisávamos mais esconder nada.

Os aplausos tímidos ainda ecoavam pelo salão quando um homem de meia-idade, vestindo um terno branco com detalhes em dourado, atravessou a multidão como se fosse dono do lugar. Seu nome era Vicente Palacios, um dos figurões do cartel colombiano, conhecido por sua língua afiada e a mania de achar que podia opinar sobre tudo — mesmo o que não lhe dizia respeito.

Ele se aproximou dos dois herdeiros com um sorriso forçado, carregado de veneno disfarçado.

— É admirável ver tanto carinho… entre rapazes tão jovens. — As palavras vieram envoltas em falsa cordialidade, mas o tom era provocador. — Certas tradições, porém, merecem ser preservadas. Há coisas que ainda precisam de limites…

As últimas palavras mal haviam saído da boca dele, e o salão inteiro congelou.

As taças pararam no ar. Os sorrisos desapareceram. A tensão se espalhou como pólvora.

Os primeiros a se erguerem foram Alexei e Demitire. Seus passos eram lentos, mas determinados, como tempestades prestes a cair. Nikolai se afastou de Aline, enquanto ela se colocava à frente do trio com os olhos estreitos. Nenhum deles dizia nada, mas a aura que emanavam bastava para deixar qualquer um em silêncio.

Entretanto, antes que os quatro se aproximassem, Valentim deu um passo à frente.

Gregori sequer tentou detê-lo. Sabia que era inútil.

O jovem de olhos azuis se aproximou de Vicente Palacios com uma postura impecável, ereta, fria e autoritária. Quando parou diante do homem, não havia arrogância em seu olhar. Havia algo muito pior: controle absoluto.

— Está querendo ditar regras na minha casa, senhor Palacios? — A voz saiu baixa, firme. — Ou está apenas tentando provocar a máfia russa por pura burrice?

Vicente arqueou uma sobrancelha, surpreso com a ousadia. Tentou rir, mas o som morreu na garganta.

— São só… observações. Aconselho cuidado. Esse tipo de união pode causar ruídos.

Valentim se aproximou mais. Agora estavam frente a frente.

— O único ruído que esse salão vai escutar hoje — disse ele, quase num sussurro — será o som do seu corpo batendo no chão, se continuar falando como se estivesse em posição de opinar.

O salão ficou em silêncio sepulcral.

— Eu aprendi com os melhores, senhor Palacios. — Os olhos azuis cintilaram de forma sombria. — Meus pais não criaram um diplomata… criaram um monstro com educação.

Gregori permaneceu ao lado, imóvel. Mas seus olhos estavam fixos nos de Valentim como se dissesse silenciosamente: "Eu sabia que era você quem colocaria todos de joelhos."

Alexei, Demitire, Aline e Nikolai se aproximaram, mas pararam a alguns passos, observando em silêncio.

Palacios, suando agora, deu um passo para trás. Depois mais um. Não disse mais nada. Apenas se virou e sumiu por entre os convidados, o orgulho ferido e a dignidade deixada para trás.

Valentim se virou lentamente, encarando todos os presentes no salão.

— Que isso sirva de aviso para quem ainda tiver dúvidas.

O silêncio virou respeito. Ou medo. Ou ambos.

Gregori se aproximou e, sem dizer uma única palavra, segurou a mão de Valentim novamente. Os dois voltaram ao centro da pista, sem necessidade de música ou de aplausos.

Eles não pediram espaço.

Eles tomaram.

E o mundo soube, ali, naquele instante, que os Herdeiros do Caos estavam prontos para assumir seu trono.

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Comments

Elenilda Soares

Elenilda Soares

sempre tem gente com espírito suicida só pode 🤣🤣🤣🤣

2025-09-10

0

Gabi Barbosa

Gabi Barbosa

resumindo mais um que quer morrer

2025-07-29

1

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