Meu Nome na Sua Mira

Meu Nome na Sua Mira

Vou viver!

Estou há vinte minutos na sala de espera, as mãos trêmulas e torcendo para não ser nada grave. Então escuto a enfermeira chamar o meu nome:

— Bruna Nogueira.

— Aqui! — Levanto e caminho até ela.

— Siga-me, por favor. — Caminhamos em silêncio até a sala do médico.

Ela se apresenta com um sorriso breve e profissional.

— Doutora Beatriz. Pode se sentar, Bruna.

Ela pega o envelope com meus exames, desliza os olhos pelas imagens e resultados com uma expressão cada vez mais séria. Meu estômago se revira.

— Então, doutora Beatriz, o que eu tenho?

Ela respira fundo antes de falar, como se escolhesse cuidadosamente as palavras:

— Bruna, os exames mostraram uma malformação cardíaca chamada Comunicação Interatrial. É uma abertura anormal entre as câmaras superiores do seu coração, que está causando hipertensão pulmonar.

— Isso é grave? — minha voz sai falha.

— Sim, especialmente no seu caso. Seu coração está sendo sobrecarregado. Por isso os sintomas: cansaço constante, falta de ar, dores no peito, tontura e os episódios de desmaio. E eu preciso ser muito clara com você: estresse emocional ou físico intenso pode desencadear uma falência cardíaca aguda.

— Então... eu posso morrer? — pergunto num fio de voz.

— Se continuar ignorando os sinais, sim. Mas há uma chance de correção. Você precisa de uma cirurgia o quanto antes para fechar essa comunicação entre os átrios e aliviar a pressão no coração.

— E quanto custa? — pergunto, embora minha intuição já saiba a resposta.

Ela desliza um papel com valores sobre a mesa. Eu leio o número e sinto o chão sumir.

— Isso... eu não tenho esse dinheiro.

Doutora Beatriz me olha com empatia, mas sem suavizar a realidade:

— Eu entendo, Bruna. Mas a verdade é que seu tempo está correndo. Quanto mais adiar, maior o risco.

Eu saio da sala devastada. Engraçado como o mundo consegue piorar justo quando você pensa que chegou no fundo do poço. Tipo final de temporada da Marvel — quando você acha que tudo tá resolvido e o vilão ainda tem uma carta na manga.

Olho o papel com o valor da cirurgia como se fosse um boletim com nota vermelha em cálculo quântico. Suspirei, ironizando a própria tragédia, porque é isso que eu faço: piada ruim para disfarçar dor real.

No caminho, mando uma mensagem curta para meu chefe:

"Precisarei me ausentar por questões médicas. Volto quando der. PS: não estou morrendo... acho."

Chego em casa quase cinco da tarde. Minha cabeça parece ter participado de três rounds contra o Thanos e perdido todos. Assim que abro a porta, escuto música alta no quarto da minha tia. Ela está se arrumando — o que é sinônimo de glitter, salto alto e perfume marcante invadindo o apartamento.

— Morango, você chegou? — ela grita do quarto.

"Morango", porque segundo ela, eu pareço doce, mas sou azeda o suficiente pra não deixar ninguém enjoar. Justo.

— Sim, tia! — respondo, tentando parecer animada. Ela sai do quarto empolgada, rodopiando.

— Olha meu look, garota! Tô pronta pra laçar um cowboy hoje! — diz ela, com um chapéu digno de rodeio de Las Vegas.

Dou uma gargalhada, sincera pela primeira vez no dia.

— Você tá um evento, só faltou o cavalo... — brinco. — Ou melhor, o Thor versão sertanejo.

Ela joga o cabelo e posa como se fosse capa de revista. Eu amo isso nela. A leveza. O jeito exagerado e feliz de viver. É como se o mundo sempre tivesse festa, mesmo quando tudo desaba.

Penso em contar. Por um segundo, minha garganta aperta. Mas travo.

Ela me criou sozinha. Quando minha mãe biológica me deixou — ainda bebê, sem saber nem quem era o pai — foi essa mulher que me pegou nos braços. Trocou fraldas, enfrentou escola, febre, coração partido, e o caos hormonal da adolescência com bravura.

Ela é minha casa. Minha melhor amiga. Minha única família.

E como você conta para sua base segura que seu coração está prestes a te trair — literalmente?

— Vai sair agora de noite? — pergunto, tentando soar casual.

— Claro, meu amor! Aproveitar, né? Vai que arrumo um gatinho novo... Quem sabe um cinquentão rico e divorciado?

— Tia! Até parece! — rio alto, indo em direção ao quarto, fingindo que está tudo bem.

Entro, fecho a porta e desabo na cama.

Lágrimas silenciosas descem enquanto abraço meu travesseiro do Homem de Ferro.

É irônico, né? Logo o coração, o ponto fraco do Tony Stark... agora também o meu.

Não consigo dormir. O teto do meu quarto já virou tela de cinema para todos os meus pensamentos catastróficos. A ansiedade martela, o peito aperta — ironicamente — e tudo o que me resta é rolar na cama como se isso fosse resolver alguma coisa.

Pego o celular, só pra me distrair, e vejo uma notificação.

Lorenzo.

O chefe mais ácido, rabugento e controlado que eu já conheci — e olha que sou fã de vilões. Há sete anos trabalho com ele, e nesse tempo a gente construiu… algo. Uma amizade estranha. Ácida, afiada, cheia de provocações e silêncios que dizem muito mais do que deveriam.

Ele é orgulhoso demais pra admitir qualquer afeto, e eu sou teimosa demais pra facilitar qualquer coisa. Um equilíbrio torto, mas nosso.

Abro a mensagem:

“Sumida. Ou você morreu mesmo ou só é irresponsável.”

Cinco segundos depois, outra mensagem:

“Aliás… você não vai morrer, vai?”

Sorrio de canto, mesmo com o coração uma bagunça. É típico dele: primeiro me xinga, depois demonstra preocupação como se estivesse comentando a previsão do tempo.

Penso em responder algo sarcástico, ou talvez dramático, mas tudo o que faço é mandar um emoji ridículo: aquele bonequinho levantando os ombros, como quem diz "vai saber".

Vejo que ele visualiza. Nenhuma resposta. Claro. Esse é o Lorenzo — orgulhoso até na preocupação.

Respiro fundo e encaro a janela do meu quarto. As luzes da cidade brilham como se tudo estivesse normal. Mas dentro de mim… tem uma guerra.

E no meio dela, me pego pensando no homem que passa os dias implicando comigo e as noites aparecendo no meu subconsciente como uma maldita lembrança com terno italiano e olhos que veem mais do que deveriam.

Espero por um milagre. Ou talvez, que ele venha.

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