Os dias transformaram-se em semanas, e para Victoria, cada amanhecer parecia um peso a mais nos seus ombros. O segredo da sua gravidez era um monstro que crescia dentro dela, e apesar das suas tentativas de o ignorar, os sintomas tornavam-se cada vez mais evidentes, já não encontrava forma de que os seus pais não a descobrissem. Martín, o rapaz que tinha enchido a sua vida de ilusões, tinha-a deixado na mais absoluta solidão, ignorando-a por completo. Na escola via-o rir e flertar com outras raparigas na escola, e isso atravessava-lhe o coração como um punhal.
Com cada dia que passava, a necessidade de falar com ele tornava-se mais intensa, mas cada vez que se aproximava, ele rejeitava-a.
—Não quero saber nada de ti, Victoria. Esquece-me —tinha-lhe dito numa ocasião, com o seu olhar frio como o gelo.
_Mas o bebé é... _Martín interrompeu-a.
_Não quero saber nada desse chicharro, já te disse: aborta ou diz a outro para carregar convosco.
Desesperada e sentindo-se mais sozinha que nunca, tomou a decisão mais difícil da sua vida: falaria com a sua mãe. Sabia que devia ser honesta, que não podia carregar com este peso mais tempo, uma gravidez não se podia ocultar por muito tempo e já tinha quase dois meses. Essa tarde, depois de chegar a casa, aproveitou que o seu pai estava ainda no trabalho e a sua mãe estava sozinha na cozinha, a preparar o jantar.
—Mãe, podes sentar-te um momento? Preciso de falar contigo —disse Victoria, notando que a sua voz tremia.
A sua mãe, com as mãos secas depois de se limpar com uma toalha, olhou-a com preocupação e convidou-a a sentar-se na mesa de jantar.
—Que se passa, filha? Vejo-te nervosa —perguntou, notando a angústia no seu rosto_. Não me digas que chumbaram alguma disciplina. Santo Deus, o teu pai mata-nos às duas!
Victoria engoliu em seco, sentindo que o medo a envolvia.
—Não é nada da escola, mãe… —murmurou, com lágrimas a acumularem-se nos seus olhos—. Preciso de te dizer algo importante.
A mãe olhou-a fixamente, inclinando-se para ela.
—Por favor, não me assustes. Partiste alguma coisa? Entraste no pequeno escritório do teu pai sem permissão?
—Não… não é isso —respondeu Victoria, sentindo que o seu coração batia com força—. Estou… estou grávida.
As palavras saíram como um sussurro, mas o impacto foi devastador. A expressão da sua mãe mudou drasticamente, e as lágrimas começaram a brotar dos seus olhos.
—O quê? —perguntou, com a sua voz entrecortada—. Como pôde acontecer isto? E o pai? Quem é?
—Ele não quer saber nada de mim —disse Victoria, afogando-se no seu choro—. Ignora-me e… e não sei o que fazer mãe, tenho muito medo.
A sua mãe cobriu o rosto com as mãos, sentindo o peso da situação.
—Santo Deus! Sempre te disse que devias esperar, que devias entregar-te só depois de casar. O que vou dizer ao teu pai quando souber disto? Vai castigar-nos às duas! Não soube educar-te!
Victoria, cheia de medo, pegou nas mãos da sua mãe entre as suas.
—Por favor, ajuda-me. Não sei como enfrentar isto.
—Primeiro, tenho que falar com o teu pai —respondeu a sua mãe, a sua voz tremia, tinha pavor do seu marido—. Isto não se pode ocultar por muito tempo e seja em qualquer momento, vai castigar-nos.
O medo fervilhava no interior de Victoria.
O jantar dessa noite foi um completo silêncio, com o ambiente tenso e carregado de incerteza. Victoria sentia-se presa entre o medo e a culpa, sabendo que a sua vida mudaria para sempre. Não se atrevia a comer muito, ou melhor dizendo nada lhe apetecia.
Ao finalizar o jantar, a sua mãe, com o coração pesado e cheio de temor, decidiu que era hora de falar com o seu esposo. Sentou-se frente a ele, com o seu rosto pálido e os olhos cheios de lágrimas. Sabia que a castigaria a ela por má mãe e à sua filha por desobedecer e não se saber comportar.
—Tomás, temos que falar sobre a nossa filha… —começou a sua mãe, sentindo que a ansiedade a inundava.
—Que se passa? —perguntou o seu pai, notando a seriedade no tom da sua esposa_. Precisa de dinheiro? _a mulher negou.
—Victoria... A nossa filha está... está grávida —disse, as palavras saíram rapidamente—. E... o rapaz não quer saber nada dela. Não quer responder _a assustada mulher falava com os olhos fechados.
A reação de Tomás foi instantânea e feroz. Levantou-se da cadeira, batendo na mesa com os punhos.
—O quê? Essa menina é uma desavergonhada! —gritou—. Como pôde deixar-se engravidar a esta idade? É que por acaso não lhe disseste que devia guardar-se para o matrimónio? _Tomás acusou a sua esposa enquanto esta tremia como uma folha.
Victoria, ao escutar a voz do seu pai, sentiu que o mundo lhe desmoronava ao seu redor pela segunda vez. Sabia que a ira do seu pai era iminente.
—És uma vergonha para esta família! —continuou ele, olhando-a com desprezo—. Tu não és minha filha! Vai-te embora da minha casa! Acabaste de morrer para esta família! Rua! _gritou forte para depois atirar toda a loiça ao chão.
Victoria, com o coração partido e lágrimas nos olhos, sentiu-se mais sozinha que nunca, queria morrer enquanto a raiva e a dor a consumiam. A decisão que tinha tomado levá-la-ia a um caminho incerto, e essa noite, enquanto a sua família se desmoronava ao seu redor, deu-se conta de que a sua vida tinha mudado para sempre.
Rapidamente fez uma pequena mala com o mais essencial e guardou o seu mealheiro, esse onde tinha poupado grande parte das suas mesadas.
A sua mãe tentou defendê-la, mas o seu pai não o permitiu e atirou-a para a rua como se não valesse nada.
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Atualizado até capítulo 83
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