O PREÇO DO PALCO

(O chão de linóleo range sob os passos de Val. Ela entra descalça, salto na mão, café na outra. Olheira gritando. Boca seca. Alma acesa.)

As pessoas param. Aplaudem.

Técnicos, maquiadoras, estagiários — todo mundo viu, todo mundo sentiu.

Técnico de som (gritando da ilha):

— Val! Tu salvou minha fé na televisão!

Produtora (balançando o celular com o replay do programa):

— Tua fala virou meme… e discurso motivacional no mesmo vídeo!

Val ri, faz o sinal de “joia” e segue.

Mas antes de chegar à própria sala…

Lorena surge do nada. Elegante, séria — mas com um brilho no olhar que não disfarça.

Lorena:

— Val. Sala 3. Agora.

Val arregala os olhos.

Val (murmurando):

— Pronto, lá vem.

(Entra. Eduardo já está lá. Pasta na mão. Tablet na outra. Tela aberta: gráficos, tweets, prints de matérias.)

Eduardo (sem rodeios):

— Valentina, você foi brilhante.

Val pisca, desconfiada.

Val:

— Vocês tão elogiando sem vírgula? Sem “mas”?

Lorena (sorrindo):

— Sem “mas”.

O programa foi um estouro.

Audiência recorde, mídia repercutindo, redes sociais fervendo.

Eduardo:

— A melhor estreia da faixa em cinco anos.

Val senta na beirada da cadeira, como quem ainda não acredita.

Val:

— E eu achando que ia levar bronca por ter chamado o coach de boleto ambulante.

Lorena:

— Pode até ter sido...

Mas ninguém tira que foi verdadeiro.

E o público reconhece quando é de verdade.

Eduardo:

— Você mostrou que dá pra fazer jornalismo com coragem, ritmo e alma.

É entretenimento, sim. Mas com espinha dorsal.

Você cutuca, provoca, mas informa.

E isso, hoje, vale ouro.

Val respira fundo. Olha para eles, mais suave, ainda ela.

Val:

— Sempre disseram que eu falava demais.

Agora tão me pagando pra isso.

Cá entre nós... demorou, né?

Lorena:

— Demorou.

Mas chegou.

Eduardo:

— Então aproveita. O país tá ouvindo.

E a gente tá contigo.

Val se levanta com calma, vai até a porta. Antes de sair, se vira com um sorriso contido:

Val:

— Se a verdade incomoda, que bom.

Porque eu ainda tenho muita pra entregar.

Sai. Fecha a porta. Atravessa o corredor com a leveza de quem sabe que venceu por ser quem é.

(Narração — Valentina, em off. Tom firme, íntimo, sincero.)

— Tem gente que se pergunta de onde vem essa coragem.

Essa língua afiada. Essa sede de justiça misturada com sarcasmo.

— Já me chamaram de exagerada.

De barraqueira.

De insuportável.

— “Val fala demais.”

“Val se acha.”

“Val tá passando dos limites.”

— Mas ninguém pergunta de verdade de onde eu vim.

Ninguém quer saber o que tem por trás do salto, do microfone, do close.

— Então anota aí, Brasil:

— Antes de ser Valentina na TV,

eu fui só Val.

— Filha de dona Lúcia, nascida em Tejucupapo, interior de Goiana.

Onde mulher aprende cedo que respeito não vem no grito —

vem no olhar firme e na coragem de ficar de pé, mesmo com o mundo empurrando pra baixo.

— Eu não cresci na bolha.

Cresci com os pés no barro, sim.

Mas também com livro na mão, ideia na cabeça, e resposta na ponta da língua.

— Quando cheguei em São Paulo, disseram que meu sotaque era problema.

Que meu jeito era “forte demais”.

Que jornalismo era pra quem sabia se calar.

— Mas eu vim pra fazer barulho.

— E se hoje eu tenho um palco,

não é porque fui domesticada.

É porque sobrevivi sem me moldar.

— O que eu faço não é fofoca disfarçada.

É jornalismo de verdade, com ritmo, humor e coragem.

É notícia que entra como piada, mas cutuca como denúncia.

— O Price News não é só programa.

É o microfone que roubaram da quebrada.

É a voz que calaram no meio da redação.

É a pauta que ninguém quis bancar — e eu banquei.

— Então se preparem.

Porque a Val tá só começando.

— E se incomoda, ótimo.

Notícia boa nunca foi confortável.

Continua...

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