Perderia o trono

A madrugada estava silenciosa demais para o meu gosto.O uísque descia forte, queimando a garganta como eu gostava.

O terno já estava jogado sobre a poltrona, e a cobertura inteira mergulhada em meia luz. A festa havia sido exatamente o que eu esperava: longa, entediante e cheia de sorrisos falsos.

Eu não queria conversa. Só silêncio.

Mas, como sempre, meu pai não se importava com o que eu queria.

O celular vibrou sobre o balcão de mármore da cozinha gourmet.

Giuseppe Moretti.

O nome piscava como uma ameaça.

Atendi sem pensar duas vezes, com a mesma voz fria de sempre.

Adam - Pai.

Giuseppe - Adam. Espero que esteja sóbrio. Temos uma decisão a tomar.

Adam - É madrugada. Você quer tomar decisões ou declarar guerra?

Giuseppe- Quando se lidera uma holding de bilhões, o relógio não apita pro descanso.

Revirei os olhos. Ele não muda. Nunca mudou.

Adam - Fala logo.

Giuseppe - O conselho aprovou sua ascensão à presidência.

Adam - Ótimo. Já era hora.

Giuseppe- Com uma condição.

Fiquei em silêncio por um segundo.

Adam - Que condição?

Giuseppe- Você precisa se casar.

Soltei uma risada seca.

Adam - Você está brincando.

Giuseppe - Não.

Adam - Isso é ridículo. Eu não vou me casar pra agradar o conselho, muito menos você.

Giuseppe- Vai, se quiser o que é seu por direito.

Cerrei os dentes.

Adam - Isso é chantagem.

Giuseppe- Isso é precaução. — a voz dele era gélida.

Giuseppe- A imagem pública importa. Solteiros não transmitem estabilidade. Investidores olham para o pacote completo. Um homem casado gera confiança. Um CEO com aliança no dedo assusta menos que um playboy que troca de companhia a cada semana.

Adam - Eu sou competente. Entreguei resultados por anos.

Giuseppe- Mas ainda é jovem demais aos olhos do mercado. E solteiro demais para sentar sozinho no topo.

Caminhei até a sacada da cobertura. São Paulo brilhava abaixo de mim, indiferente à estupidez que meu pai acabava de jogar no meu colo.

Adam - Eu não vou me casar.

Giuseppe- Então não assuma a presidência. Martino ainda está disponível.

A raiva subiu como uma labareda.

Martino era a última pessoa que deveria sequer pisar naquele cargo. Um covarde bajulador, incapaz de tomar uma decisão sem consultar a esposa, a mãe e o cachorro.

Adam - Isso é um jogo sujo.

Giuseppe- Isso é o mundo, Adam. Você se adapta ou perde. Tem três meses. Arrume uma esposa ou abra mão do trono.

E ele desligou.

Simples assim. Sem discussão.

Sem segunda chance.

Fiquei parado ali, encarando a cidade, o copo ainda cheio na mão.

Casamento.

Uma palavra que eu sempre fiz questão de manter fora do meu vocabulário.Eu sabia negociar contratos. Sabia controlar empresas. Sabia comandar tudo menos a ideia de dividir minha vida com alguém por conveniência.

Mas meu pai havia deixado claro.

Ou eu encontrava uma solução…

Ou perderia tudo.

Lily narrando ..

Lily- Eu ainda tô tentando entender como um homem pode ser tão bonito… e ao mesmo tempo tão insuportável.

Me joguei no sofá da sala do Mário como se o peso da noite anterior ainda estivesse grudado nas minhas costas ou nos meus saltos.

Ele riu.

Mario - Você tá falando do Adam?

Lily- Não, do padeiro da esquina. Claro que é do Adam! — revirei os olhos.

Lily- Aquele olhar dele me atravessou como se estivesse me julgando por existir. E o tom de voz então? Gelado. Ele devia vir com alerta: risco de hipotermia.

Mario - Você adorou, vai — ele disse, jogando um travesseiro em mim.

Mario - Te conheço, Lili. Quando você fica toda cheia das respostas afiadas assim, é porque o cara te atingiu.

Lili - Atingiu? — gargalhei.

Lili - Mário, por favor. Eu sou movida a ironia, não a testosterona em ternos de grife. Ele não serve pra mim.

Cruzei as pernas com classe, tomando um gole do meu café e soltando meu veredito:

Lili - Adam Moretti não é o tipo de homem que eu quero.

Lili- Ele é o tipo de homem que eu só olho… agradeço por existir… e passo direto.Uma beleza dessas deveria ser exibida num museu. Interação proibida.

Mario - Mas que beleza, hein?

Lili - Um escândalo. — suspirei, jogando a cabeça no encosto.

Cabelos escuros, penteados com disciplina militar. Barba bem feita. Ombros largos. Um terno que parecia ter sido desenhado diretamente no corpo dele…

Mario - Tá vendo? Tá derretida.

Lili - Derretida, não.Curiosa, talvez.

Mário arqueou a sobrancelha.

Mario - Curiosa?

Lili - Ué, eu poderia me divertir com ele… apenas — dei de ombros, mordendo o canto do lábio com fingida inocência.

Lili - Mas só se ele prometesse não abrir a boca.

Rimos juntos.

Mario - Você é um caso perdido, Lilian Nogueira.

Lili - Sou um caso consciente. — me levantei com energia.

Lili - E homens como Adam Moretti… são uma complicação que nem meu horóscopo recomenda. Sabe o que ele parece?

Mario - O quê?

Lili - Aquela sobremesa caríssima e linda que a gente fotografa, mas nunca pede porque sabe que vai se arrepender depois da primeira mordida.

Dei uma piscadinha dramática.

Lili - Eu sou mais do tipo que vai no básico: doce simples, bem feito e que não vem com manual de uso.

Mário gargalhou.

Mario - Você vai engolir essas palavras.

Lili - Talvez. Mas pelo menos com classe.

E foi assim que eu decidi — naquele domingo de ressaca e sarcasmo que Adam Moretti era só mais um homem bonito demais para ser levado a sério.

Mal sabia eu…Que ele estava prestes a levar a sério o que ninguém jamais me propôs:

Um casamento. De mentira. Mas com consequências bem reais.

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Comments

Arilene Vicente

Arilene Vicente

A hora que esses.dois se pegarem, sai de baixo que vai pegar🔥🔥

2025-07-08

1

Fátima Lima

Fátima Lima

Se prepare Lílian Nogueira 😈

2025-07-06

1

Dulci Oliveira

Dulci Oliveira

que comecem os jogos

2025-07-08

1

Ver todos

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