AA luz do sol escorria pelas frestas da cortina fina, aquecendo o quarto pequeno com uma lentidão preguiçosa. Lá dentro, dois corpos estavam completamente embolados sob um cobertor fino no futon estendido. Respirações tranquilas. Rosto com rosto. Coração com coração.
Katsuki acordou primeiro.
Os olhos se abriram devagar, irritados com a claridade, mas rapidamente encontraram algo que compensava o incômodo: Izuku, dormindo de lado, rosto colado ao seu peito, cabelos verdes bagunçados, e o perfume doce invadindo tudo.
O alfa suspirou, tentando não acordar o outro. Mas não resistiu.
— Ei… coelho. — sussurrou, com a voz rouca da manhã.
Izuku soltou um murmúrio fofo e se encolheu mais, escondendo o rosto no peito quente de Katsuki. Aquilo fez o coração do loiro falhar uma batida.
— Tá de sacanagem que você é fofo até dormindo… — ele murmurou, puxando o outro mais pra perto.
Ficaram assim por alguns minutos. Katsuki observava as sardas nas bochechas do Izuku, contando de novo: quatro de cada lado. Sempre perfeitas. A pele branca como porcelana, os lábios entreabertos…
E então…
Um cheiro.
Quase imperceptível, mas ali. Doce. Aconchegante. Quente.
Os olhos de Katsuki se arregalaram um pouco. Ele aspirou de novo.
Merda.
Ele conhecia aquele cheiro.
Não era só o cheiro do Izuku… era algo diferente. Mais instintivo. Mais ômega.
— …Deku?
— Hn… Kacchan…?
— Você tomou o supressor ontem?
— Tomei sim… por quê?
Silêncio.
Bakugou engoliu em seco. Ele já tinha sentido esse tipo de “vazamento” antes. Era o corpo do ômega tentando se preparar pro cio, mesmo com os remédios. Um pré-aquecimento do inferno.
Izuku abriu os olhos, confuso.
— O que foi?
— Você tá começando.
— Começando o quê?
— O cio. — rosnou Katsuki, apertando a cintura dele com uma das mãos.
Izuku arregalou os olhos.
— Não é possível… ainda faltam uns dias!
— Então seu corpo tá adiantando. E eu tô aqui, porra. Sozinho com você.
— Cacete…
Bakugou se levantou num impulso e foi direto pro banheiro. Lavou o rosto, respirou fundo, trancou a porta. Queria evitar uma tragédia.
Izuku ficou no quarto, sentado, tentando acalmar a própria pulsação. Ele sentia calor, um formigamento sutil entre as pernas, e uma vontade quase incontrolável de se encostar de novo no peito do Kacchan.
— Só pode ser karma — ele murmurou, com as bochechas coradas.
—
15 minutos depois
Bakugou saiu do banheiro já de supressor tomado e pescoço molhado.
— Você vai ter que tomar outro, Deku. Hoje ainda é quinta. Não dá pra arriscar seu cheiro se espalhar na escola amanhã.
— Eu sei… vou tomar daqui a pouco.
— Vou ficar aqui até você se acalmar.
— Você já tá aqui. Vai embora agora?
— Porra… me deixa tentar ser responsável!
Izuku riu e puxou o braço dele.
— Fica. Só mais um pouco.
—
Eles estavam quase se beijando de novo quando a campainha tocou.
TIN DON.
Silêncio mortal.
— …Você ouviu isso?
— Porra, ouvi!
TIN DON.
— Izuku… você trancou a porta?
— Tranquei!!
Katsuki foi até a porta do quarto, pé ante pé, e colocou o ouvido na parede.
Então uma voz soou.
— DEKU, MEU FILHO, ABRE ESSA PORTA ANTES QUE EU MANDE CHUTAR!!
Era ela.
MITSUKI BAKUGOU.
— COMO ELA ME ACHOU?! — gritou Katsuki, em pânico.
— EU NÃO SEI!!
— CARALHO, ELA USOU O GPS DO CELULAR!! EU ESQUECI DE DESATIVAR ESSA PORRA!!
— ELA VAI ME MATAR!!
— VAI NADA!! Mas eu vou.
TIN DON TIN DON TIN DON!!
— ABRE, EU SEI QUE TEM UM ALFA AÍ DENTRO!! EU SINTO O FEROMÔNIO DE CACHORRO HORMONAL DAQUI DE BAIXO!!
Izuku correu até o interfone, ofegante.
— S-senhora Mitsuki!! A-Ah, desculpa! Eu tava no banho, já tô descendo!!
— TÔ SUBINDO ESSA MERDA DE ESCADA! SE EU ENCONTRAR O KATSUKI PELADO NESSE APARTAMENTO, EU JOGO OS DOIS DA SACADA!!
PÂNICO TOTAL.
— Kacchan, ESCONDE!!
— ONDE, PORRA?!
— No armário!! Vai!!
— EU TENHO 1,72 DE ALTURA E COSTAS DE LUTADOR DE MMA, IZUKU!!
— ENTÃO VAI PRO BANHEIRO!! DEITA NA BANHEIRA!!
Bakugou se trancou no banheiro de novo, resmungando tudo que era possível.
Izuku correu até a porta, destrancou com o coração na boca.
Mitsuki entrou com os olhos faiscando.
— …Cadê ele?
— Q-quem?
— O pirralho que eu pari e que disse que ia dormir na casa do Kirishima. Você acha que eu sou burra?
— E-eu juro, ele não tá aqui…
— Cadê o cheiro dele?
Izuku suava frio.
— E esse calor no ar? E o supressor no balcão? Você tá entrando no cio, ômega?
— S-senhora Mitsuki, eu juro que ele não dormiu aqui! Eu só acordei suado…
Ela olhou com suspeita. Olhou o quarto. A sala. A mochila jogada. O prato extra na pia.
Ela virou de volta pra ele. Nariz franzido. Olhos semicerrados.
— …Se eu descobrir que ele dormiu aqui, eu capoto vocês dois num balde de gelo e boto na varanda. Tô falando sério.
— S-sim, senhora.
Ela bufou e saiu, batendo a porta.
Bakugou saiu do banheiro com a cara mais amassada do mundo.
— Eu vou matar ela. Eu vou. Ela é um demônio.
Izuku ainda tremia.
— Você vai dormir aqui hoje de novo?
— Se for pra terminar o que a gente começou, eu durmo aqui o mês inteiro.
–
🐺🐰 Cena bônus: Mitsuki no elevador
— …Masaru, ele tá transando. Eu sei.
— Não foi você que disse isso ontem?
— Sim. Mas agora ele tá transando com emoção.
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Atualizado até capítulo 37
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