SANTIAGO
Ela não deveria ter respondido.
Mas respondeu.
Bianca Sintra. O nome ainda vibrava nos meus ouvidos quando entrei no carro, minutos depois. O motorista perguntou para onde íamos, mas minha mente não estava mais no volante do dia — estava nela. Na forma como ela me olhou sem se curvar. Nos olhos intensos que não baixaram diante dos meus.
Era só uma garota. Mais nova. Ingênua, provavelmente.
Mas havia algo ali... algo que fez meu instinto acender como um alarme silencioso.
Quando cheguei em casa, fui recebido com os sorrisos falsos de sempre, a segurança nas portas, as paredes grossas que fingem proteger quando, na verdade, aprisionam. Entrei no escritório e encarei o retrato do meu pai, ainda jovem, ainda cruel.
— Ela tem nome — murmurei, sozinho.
E isso bastou para saber que aquilo não ia passar.
°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°
BIANCA
Eu nem contei pra minha melhor amiga.
Não dava pra explicar sem soar como loucura: “Um homem apareceu do nada, me encarou e disse que meu nome era ingênuo demais.” Quem fala isso?
E por que... por que eu senti que queria ouvir mais?
Passei o dia tentando apagar aquele momento. Mergulhei nos livros, nos exercícios, no uniforme suado e nas anotações para a última prova do trimestre. Mas, à noite, ao deitar, seus olhos surgiram por trás das minhas pálpebras. Verdes, afiados, frios e intensos.
Havia alguma coisa errada.
Ou certa demais pra fazer sentido.
Na manhã seguinte, o colégio parecia o mesmo — alunos preguiçosos com mochilas pendendo dos ombros, professores resmungando sobre tarefas não entregues, o cheiro de café da cantina misturado com giz velho. Mas alguma coisa em mim havia mudado.
Não dormi direito. O nome dele, o olhar dele, ficou preso entre meus pensamentos como uma página marcada à força. Era irracional. Era incômodo. E, ainda assim, real.
— Bia, tá tudo bem? — perguntou Mariana, minha melhor amiga, me observando de lado enquanto abríamos os cadernos na aula de literatura.
Assenti, sem dizer nada. Como explicar que tinha sido atravessada por um estranho que parecia ter saído de um romance proibido? Como dizer que alguém tão... inacessível, havia enxergado mais do que deveria?
Suspirei e mergulhei na aula, fingindo normalidade. Até o nome do autor no quadro pareceu ironia: “Romeu e Julieta — William Shakespeare.”
Trágico demais pra ser coincidência.
°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°
SANTIAGO
Meu celular apitou.
> “O colégio aceitou o patrocínio. A presença do senhor Ravelli é requisitada na cerimônia de abertura do novo laboratório de informática.”
Castelli sabia como me manter preso. Nada era casual. Tudo era estratégia. O colégio, o patrocínio, a proximidade com um mundo que não era o meu.
Mas agora eu tinha um motivo pessoal.
Bianca.
O nome me escorria na garganta como vinho proibido.
Não fazia sentido nenhum. Mas também não importava. Eu queria vê-la de novo. Queria observar aquela resistência silenciosa que ela carregava nos ombros, aquele tipo de pureza que incomodava. Porque ela não era frágil. Não como parecia.
E eu... nunca soube resistir ao que me desafiava por dentro. O que será que está acontecendo...
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 50
Comments