SANTIAGO
Roma não estava no meu itinerário, mas o velho Castelli sempre soube manipular meus passos. Acordei naquela manhã com a ordem já cumprida por mim — motorista pronto, terno passado, relógio marcando a hora exata em que minha liberdade seria adiada mais uma vez.
O colégio parecia pequeno demais para o nome que carregava. Um favor, ele disse. Uma visita política, ele disse. Eu, no fundo, sabia o que ele realmente queria: me manter perto. Me manter sob controle.
Meus olhos verdes percorreram o pátio como se eu fosse o dono do lugar — e talvez fosse, sem querer ser. E foi ali, no meio de adolescentes distraídos, que eu a vi pela primeira vez.
O mundo ao redor pareceu afundar em ruído branco. Ela caminhava entre as outras garotas como quem dança sem saber, com um livro contra o peito e os olhos intensos que os céus da Sicília.
Ela não me viu. Mas eu vi. E isso foi o bastante pra sentir que algo perigoso havia começado ali.
°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°
BIANCA
Estava tarde para um dia de prova. O céu parecia prestes a desabar, e meu caderno estava cheio de anotações riscadas à pressa. Sentei-me no banco de sempre, de frente para a figueira velha que dava sombra e silêncio — dois luxos naquele colégio.
Não foi um barulho que me avisou. Foi um arrepio.
Ergui os olhos, e ele estava ali.
Alto. Impecável. Perigoso.
O terno escuro parecia desenhado para ele, como se tivesse nascido vestindo poder. Os olhos — verdes e frios — percorreram o pátio como quem escolhe o que destruir primeiro. E por um segundo, apenas um, eles pousaram em mim.
O mundo, naquele instante, parou de fazer barulho.
Era como se os meus sentidos gritassem antes da razão: corre.
Mas eu fiquei.
Fiquei olhando aquele estranho que parecia pertencer a outro universo.
Ele não era daqui. Nem deste mundo.
Ele era tempestade disfarçada de homem.
E eu... só soube sentir.
Com o maior prazer, Fernanda! Vamos continuar essa cena carregada de tensão silenciosa — onde os olhares dizem mais do que qualquer palavra. É o início da combustão entre dois mundos destinados a colidir.
Na primeira vez que nossos olhos se cruzaram, eu soube.
Não o tipo de certeza que vem da razão, mas daquela intuição quase insana que só quem sobrevive à dor entende. Havia alguma coisa nele — não era beleza (apesar de evidente), nem o terno caro. Era presença. Era a forma como o mundo ao redor parecia perder importância onde ele estava.
E por algum motivo que até agora não entendo, ele me viu.
Me viu.
— Qual é o seu nome? — a voz dele era baixa, rouca, como se não estivesse acostumada a fazer perguntas simples.
Demorei um segundo a entender que ele falava comigo.
— B-Bianca... Bianca Sintra.
Ele repetiu meu nome como se estivesse provando a textura.
E então sorriu. Mas não foi um sorriso. Foi uma ameaça discreta, vestida de charme.
— Bonito nome... — ele disse. — Ingênuo demais pra ser seu.
Eu deveria ter me ofendido. Deveria ter recuado.
Mas não consegui.
E no fundo de mim, alguma coisa — talvez tola, talvez perigosamente viva — quis descobrir por que ele achava isso.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 50
Comments