Sou Bianca Sintra. Completei 18 anos há duas semanas, mas me sinto mais velha do que deveria. Não no corpo — no coração. Desde que minha mãe morreu, há cinco meses, o mundo perdeu uma parte das cores que eu ainda tentava enxergar. Agora moro com meu pai, um homem que eu tento lembrar quem foi antes das dívidas, antes da garrafa, antes dos olhos perdidos.
Nasci em Santa Teresa, um bairro simples e bonito do Rio de Janeiro, onde os dias começam com cheiro de café preto e os vizinhos ainda conversam da calçada. Cresci com o barulho dos bondinhos e o som da minha mãe cantarolando enquanto passava a roupa. Ela sonhava por mim — dizia que eu era forte, que minha mente me levaria onde o bolso não podia levar.
Estou no terceiro ano do ensino médio. Estudo de manhã e trabalho à tarde numa papelaria. Guardo cada trocado num envelope escondido no fundo da gaveta — não é muito, mas é o meu plano de fuga: cursar Letras, quem sabe dar aulas, escrever livros... escapar dessa rotina que pesa como cimento fresco nos meus ombros.
Meus olhos — herança da minha mãe. Meus cabelos são cacheados e escuros — herança da terra, da alma nordestina dela. Vivo com um caderno na mochila onde escrevo sonhos, promessas, às vezes desabafos.
Minha infância foi simples.
E, por algum tempo, feliz.
Cresci em Santa Teresa, entre ladeiras coloridas e paredes descascadas que pareciam guardar segredos antigos. Minha mãe, Rosa, era o tipo de mulher que colocava música pra espantar a tristeza — e muitas vezes funcionava. Ela tinha mãos firmes e voz doce, e mesmo com pouco, transformava tudo em afeto. Me ensinou que dignidade não é algo que se compra, e que a gente podia ser pobre... mas nunca pequena.
Eu adorava estudar. Sempre fui a primeira da sala a entregar os trabalhos e a última a sair da biblioteca. Sonhava em ser escritora. Inventava mundos inteiros dentro de cadernos escondidos embaixo da cama. Às vezes, minha mãe lia meus rabiscos e chorava baixinho. Dizia que eu nasci com "alma grande demais pra esse mundo estreito."
Meu pai... bom, ele só voltou pra minha vida depois que ela foi embora. Antes disso, era uma lembrança distante — uma dívida emocional que nunca foi paga.
Quando minha mãe adoeceu, eu entendi o que era sentir medo de verdade. Não o medo de fantasmas ou de escuro... mas o medo do real: de não ter comida no armário, de não conseguir pagar o remédio, de perdê-la. E perdi.
Ela se foi numa manhã cinza, e junto com ela, uma parte de mim também. Desde então, fui morar com meu pai. Um homem quebrado, viciado em mais do que dívidas. Vivo contando os trocados que escondo entre os livros, dividindo o silêncio com ele e rezando pra que o amanhã traga qualquer coisa diferente.
Agora, com 18 anos recém-feitos, não tenho festa pra comemorar nem presentes na estante. Mas ainda carrego meus sonhos. Ainda tenho meus cadernos. Ainda quero escrever histórias com finais melhores do que os que a vida costuma oferecer pra meninas como eu.
E então, ele apareceu.
Tudo nele grita perigo. Tudo em mim deveria correr.
Mas alguma parte insana da minha alma... parou. E ouviu. E sentiu. Fúria e Desejo.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
Fernanda Nascimento
Olá, espero que esteja gostando do livro. Ela já morava em roma. Quem foi para Roma foi Santiago a mando de seu pai para fechar um acordo e foi ai que eles se conheceram. /Smile/
2025-07-09
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Samara Nogueira de Freitas
Então ela foi morar cm o pai em Roma?.
2025-07-09
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