Ser líder era mais difícil do que vencer.
Lua Nightsshade sentia isso na pele.
Desde que tomou o controle do Clube das Sombras, as coisas estavam... intensas. Os duelos agora eram controlados. As punições por transgressão, justas. O uso de poderes fora das zonas neutras era proibido. Ela reestruturou tudo com uma frieza militar e um senso de justiça que misturava autoridade com o caos que ela carregava no peito.
Mas liderar um clube feito de criaturas paranormais, egos inflados e mentes desequilibradas era como domar um bando de feras famintas com uma coleira de vidro.
Raven virou sua segunda em comando. Cleo, responsável por interações diplomáticas (e espionagem social). Eliza cuidava dos registros ocultos, dos rituais e da biblioteca secreta do clube.
E Lua... bem, Lua estava em todos os lugares. Controlando. Testando. Observando.
Só havia uma coisa que ela não conseguia controlar.
Valentine.
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Ele sumiu durante uma semana.
Sem deixar vestígios. Nenhum bilhete. Nenhum vestígio de magia. Nem os fantasmas conseguiram rastreá-lo.
Lua fingiu não se importar. Seguiu como se tudo estivesse sob controle. Mas à noite, quando a lua cheia tocava as janelas do castelo, ela se pegava observando a escuridão entre as árvores. Esperando.
Querendo.
E odiando esse querer.
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Na noite da oitava reunião sob sua liderança, Lua anunciou:
— “A partir de agora, nenhum membro do clube poderá invocar magia de sangue sem supervisão. E qualquer ritual feito nas áreas proibidas será considerado traição. O clube existe para proteger os nossos. Não para alimentar o ego de psicopatas antigos.”
O silêncio foi respeitoso. Mas tenso. Alguns membros não gostavam de regras. Outros não gostavam de serem lembrados que não eram mais os predadores.
Foi quando ele reapareceu.
Valentine.
Entrou pela porta lateral da cripta, vestido com um sobretudo preto e uma rosa azul presa à lapela. O rosto mais pálido que antes. Os olhos mais fundos. Mas o mesmo sorriso encantador e destrutivo.
— “Peço desculpas pelo atraso... mas precisei visitar alguns velhos amigos no subsolo.”
Lua congelou por um segundo.
Ele caminhou direto até ela. Parou a poucos centímetros.
— “Vejo que reorganizou bem a casa, minha rainha de olhos vermelhos.”
— “Você não é mais membro do clube.”
— “Oh... mas eu nunca deixei de ser parte dele. Você só está no meu lugar temporariamente.”
O ar ficou mais pesado. Mas Lua não recuou.
— “Se continuar desrespeitando minhas ordens, eu mesma vou te colocar pra dormir. De vez.”
Valentine a olhou fundo. Havia algo diferente naquele olhar. Não só provocação. Não só ameaça. Havia... saudade?
— “E se eu disser que sonhei com você todas as noites, mesmo sem dormir?”
Lua não respondeu. Apenas se virou, ordenando que a reunião continuasse.
Mas por dentro… seu coração, que há muito ela jurava estar adormecido, deu um único batimento doloroso.
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Nas noites seguintes, Lua começou a ter sonhos. Estranhos. Intensos. Sempre com Valentine. Em alguns, ela o matava. Em outros… se rendia a ele.
Era como se ele estivesse dentro dela. Plantando memórias. Distorcendo desejos.
Na biblioteca proibida, Eliza confirmou seus medos.
— “Ele está usando magia de sussurro. Invadindo seus sonhos. Conectando-se à sua mente enquanto você dorme.”
— “Então ele quer brincar com fogo. Eu vou queimar tudo ao redor dele.”
— “Cuidado, Lua. Sentimentos confusos são o portal perfeito para manipulação.”
Lua ficou em silêncio. Sabia disso. Mas também sabia que os sentimentos não estavam apenas sendo plantados. Eles estavam nascendo.
E ela odiava isso.
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Enquanto isso, Valentine se encontrava com um velho aliado.
Mestre Thorne, um vampiro exilado, escondido nas catacumbas que o próprio internato esqueceu. Um antigo mentor de magia proibida, capaz de manipular almas e recuperar memórias que não deveriam ser lembradas.
— “Você quer o Codex Mortalis?”, perguntou Thorne, encarando Valentine com olhos cegos e sorriso faminto.
— “Sim. Com ele, trarei de volta o que perdi. E tomarei o que é meu. A liderança… e ela.”
— “Lua Nightsshade não é um artefato, Valentine. Ela não pode ser controlada como as outras.”
— “Ela é diferente. Por isso preciso dela. Por isso... vou quebrá-la com cuidado. E então, reconstruí-la. Comigo.”
Thorne riu. Um som seco, podre.
— “Ou você vai morrer tentando. Como tantos antes.”
Valentine não respondeu.
Mas seus olhos queimavam com a certeza de quem nunca soube amar — apenas possuir.
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Enquanto isso, Lua descobria um fragmento do que procurava: uma página arrancada do Codex Mortalis, escondida no fundo da estufa de ervas mágicas do internato. Trazia um símbolo que reagiu ao seu toque.
E uma única frase:
> "Somente aquele que arde com o amor que destrói, será capaz de conjurar o selo final."
Ela não entendeu de imediato. Mas sentiu.
Sentiu que o caminho entre ela e Valentine não era mais apenas feito de ódio.
Era feito de desejo. E morte.
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Naquela noite, ele apareceu no quarto dela pela primeira vez.
Lua estava deitada, olhos abertos, respirando fundo. A janela abriu sozinha. A brisa gelada soprou.
Valentine surgiu na escuridão.
— “Você me sonhou. E eu vim.”
Ela se levantou, com os olhos vermelhos pulsando.
— “Sai daqui. Antes que eu me esqueça que você ainda respira.”
— “Eu sou seu reflexo, Lua. O que você esconde... é o que eu sou.”
Ele se aproximou. Lentamente. Com cuidado.
— “Se você me quiser morto... me mate agora.”
Lua o empurrou contra a parede. Olhos em chamas. Lábios trêmulos.
— “Eu deveria.”
— “Então por que não faz?”
O silêncio entre os dois foi mais cortante que qualquer lâmina. Ela o encarava. Ele a tocava com os olhos. E ali, no meio da fúria e da paixão, estava o perigo.
Porque ela sabia:
Se não matasse Valentine em breve… ia amá-lo.
E isso, no mundo de Las Cumbres, era o pior destino possível.
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