O cheiro de incenso queimado e sangue seco ainda pairava no Santuário das Bruxas quando Lua Nightsshade abriu os olhos.
Ao seu redor, Raven, Eliza e Cleo encaravam o símbolo riscado no chão com sangue das quatro — uma estrela invertida com olhos ao centro e duas luas cruzadas. Era o novo selo da Noite Ascendente, a aliança formada para derrubar Valentine Corven do trono sombrio que mantinha dentro do internato Las Cumbres.
Mas ela sabia que formar um grupo era a parte fácil. A parte difícil era tomar o poder.
E Valentine não entregava nada sem um preço.
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A oportunidade veio mais rápido do que imaginavam.
Naquela noite, o Clube das Sombras convocou uma nova reunião, dessa vez em um local ainda mais secreto — as Termas Subterrâneas, uma construção esquecida sob a ala norte do castelo, onde espelhos de água escura refletiam luzes dançantes e as paredes eram cobertas por musgo e runas enferrujadas.
Lua entrou como quem não devia pedir permissão.
Todos os olhos se viraram.
Dante Hawthorne assobiou, encostado numa pilastra. Cleo lançou um olhar de desprezo para os outros membros do clube que murmuravam entre si.
E Valentine… estava sentado em um trono de pedra ao lado da fonte central. Um cálice vermelho em mãos. Os olhos semicerrados e o sorriso calmo demais.
— “Nightsshade... Que bom que veio. Estávamos prestes a começar a noite com um pequeno duelo. Sabe como é, o Clube precisa manter seus membros… afiados.”
— “Perfeito. Porque eu vim mesmo pra cortar garganta.”
A provocação ecoou como um trovão nas paredes úmidas do subterrâneo. Alguns riram, outros engoliram seco. Valentine não riu. Apenas ergueu o queixo, interessado.
— “Quem você quer desafiar?”
Lua deu um passo à frente.
— “Você.”
A respiração do clube inteiro ficou presa no ar. Raven fechou os olhos. Cleo sorriu discretamente. Eliza arregalou os olhos. Ninguém tinha ousado aquilo antes. Ninguém.
Valentine se levantou com a tranquilidade de um predador saciado. Lentamente. Como se estivesse prestes a dançar.
— “Você quer meu lugar?”
— “Quero seu poder. Seu domínio. Sua coroa podre.”
— “Então você terá que sobreviver ao duelo do Espelho Negro.”
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O Duelo do Espelho Negro era antigo. Um ritual proibido que colocava dois oponentes frente a frente em uma arena encantada. Mas, diferente dos duelos tradicionais, o campo refletia suas emoções mais profundas. O que estivesse enterrado... apareceria.
Lua e Valentine entraram em lados opostos da arena. Um círculo de pedra foi traçado com sangue vampírico. As águas escuras do local começaram a borbulhar. Velas negras se acenderam sozinhas. Os sussurros do passado ecoavam nas paredes.
E o Espelho Negro surgiu.
Era uma superfície líquida que se erguia do chão, flutuando. Ao tocar seu reflexo, os combatentes seriam transportados para dentro de suas mentes — onde o combate era tanto físico quanto psíquico.
Eles tocaram.
E sumiram.
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No plano do espelho, Lua caiu em um corredor escuro. As paredes pulsavam como carne. As sombras sussurravam segredos com a voz de sua mãe, morta há séculos. Do outro lado, Valentine a observava com olhos famintos.
— “Esse lugar mostra o que você teme... O que deseja. E o que nega. Cuidado para não se afogar em si mesma.”
Lua estendeu os dedos. Lâminas de sangue cristalizado saíram de suas mãos. Valentine convocou criaturas de sombras, fragmentos de todos os que matou. A batalha foi brutal. Cortes psíquicos. Mordidas de lembranças. Gritos de fantasmas.
Mas o que quase destruiu Lua não foi Valentine.
Foi a visão dela mesma.
Jovem. Inocente. Antes de se tornar apática. Antes de ser expulsa. Antes de ser marcada por morte e abandono. Antes de decidir nunca mais amar.
— “Você não precisa vencer sozinha…” — sua versão antiga sussurrou.
Lua hesitou.
E Valentine aproveitou. Apareceu atrás dela, os olhos brilhando com loucura. Tentou cravar os dentes em seu pescoço. Mas Lua girou o corpo, enfiando as lâminas vermelhas em seu tórax. Sangue negro jorrou.
O Espelho Negro explodiu.
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Eles foram cuspidos de volta à realidade.
Lua caiu de pé, ferida, mas consciente.
Valentine, de joelhos, com sangue escorrendo da boca. Ele riu.
— “Você me venceu… mesmo que por pouco. A Noite Ascendente está aqui, então.”
Ela se aproximou. Ajoelhou-se em frente a ele, mas não para mostrar respeito. Apenas para sussurrar em seu ouvido:
— “Se você me tocar de novo, Valentine… vai descobrir que até o inferno tem medo de mim.”
Ele sorriu, uma sombra do que já foi.
— “Você me enfeitiça, Lua. Mesmo me destruindo... me fascina.”
Ela se levantou, encarando o restante do clube.
— “A partir de agora, o Clube das Sombras tem nova liderança. E nova ordem.”
O silêncio foi quebrado por Dante, que aplaudiu lentamente. Depois Raven. Depois Cleo. Um por um, todos se curvaram — alguns por medo, outros por admiração.
Valentine continuou ajoelhado, olhos baixos, sorriso sombrio.
Mas, enquanto ela virava de costas, ele murmurou algo para si mesmo:
— “Você pode ter vencido o jogo, Lua... mas eu ainda sou o tabuleiro.”
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Naquela noite, na torre mais alta do internato, Valentine arrancou a camisa. As marcas do duelo brilhavam em seu peito — feridas profundas e negras. Ele encarou o espelho rachado.
E desenhou o nome dela com sangue.
Lua.
Ele não iria desistir.
E ela agora estava no centro de tudo.
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