Na manhã seguinte à chegada de Lua, o internato já parecia ter mudado. Havia mais olhares no corredor, mais cochichos abafados. E o que era para ser só mais um dia nublado no castelo sombrio virou uma sucessão de acontecimentos estranhos.
Logo na primeira aula de Controle de Habilidades Paranormais, Raven teve um colapso mental depois de tocar sem querer em uma relíquia antiga trazida pelo professor. Sangrou pelos olhos e caiu desmaiada, murmurando um nome com a voz entrecortada:
— Valen... tine...
Lua a segurou antes que caísse no chão de pedra.
— “Quem é Valentine?”, perguntou ela, franzindo o cenho.
O professor — um ancião meio troll, meio humano chamado Sr. Hemlock — se calou por alguns segundos, desviando o olhar.
— “Aula encerrada por hoje. Leve-a à enfermaria, Nightsshade.”
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Mais tarde, Lua ouviu boatos nos corredores.
— “Ela viu o rosto dele de novo.”
— “Dizem que ele voltou...”
— “Mas isso é impossível, o Conselho o baniu.”
Curiosa e sem paciência para rodeios, Lua puxou Eliza Moon para o lado em um dos corredores.
— “Quem é Valentine?”
Eliza hesitou, mas os olhos dela diziam que estava morrendo de vontade de contar.
— “Valentine Corven. Vampiro antigo. Um dos primeiros alunos de Las Cumbres. Cruel, instável... perigoso. Já matou três estudantes. Foi expulso mais de uma vez, mas sempre arruma um jeito de voltar. E boatos dizem que ele voltou... de novo.”
Lua sorriu, instintivamente interessada.
— “Parece divertido.”
— “Não é um tipo de diversão saudável, Lua. Ele é obcecado por sangue e caos. E por garotas com olhos vermelhos...”
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Naquela noite, o castelo parecia mais silencioso do que o normal. Lua recebeu outro bilhete, dessa vez colado na porta de seu armário:
> “O Clube das Sombras se reúne à meia-noite no antigo teatro.
Entrada apenas para os fortes.
E os verdadeiramente perdidos.”
Lua apareceu no teatro sem hesitar.
Era um salão antigo, escondido sob os escombros de uma ala abandonada, com velas negras flutuando no ar e runas desenhadas nas paredes. Cerca de doze alunos estavam reunidos, todos com olhares cortantes e posturas calculadas. Um deles se destacava imediatamente.
Alto, pele pálida como gelo, cabelo escuro caindo nos olhos, sorriso insolente e uma presença que fazia até as paredes parecerem se retrair. Ele a olhou como se já soubesse quem ela era.
— “Você é a nova Nightsshade, não é? Bonito nome para uma vampira rebelde.”
— “E você deve ser Valentine... bonito nome para um assassino repetente.”
O silêncio foi denso por um segundo — até que ele sorriu, como se estivesse encantado com o desafio.
— “Finalmente alguém com sangue nos olhos.”
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O Clube das Sombras era uma sociedade secreta que testava os limites das habilidades dos alunos. Lá, apostas perigosas eram feitas: duelos psíquicos, transformações proibidas, leitura de mentes sem permissão, controle de espíritos, invocações noturnas.
E Valentine era o líder. O rei do submundo de Las Cumbres.
Naquela noite, Lua foi desafiada. Raven — que se recuperava do colapso — tentou alertá-la antes da reunião.
— “Ele vai tentar te quebrar. Como quebrou os outros. Você não tem ideia do que ele pode fazer.”
— “Deixa ele tentar. Só espero que o brinquedo não quebre antes de eu me divertir.”
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O desafio foi simples: enfrentar Noah em um duelo de habilidades na arena de espelhos — uma sala encantada onde tudo que você sente se multiplica.
Lua foi brilhante. Seu controle mental, aliado à manipulação do medo, encurralou Noah em segundos. Mas quando venceu, percebeu algo estranho. Valentine a observava com um brilho... doentio nos olhos.
— “Você me lembra alguém”, disse ele. “A primeira garota que eu matei nesse internato também era arrogante. Mas você... você é deliciosa de um jeito novo.”
Lua não piscou. Apenas se aproximou, encarando-o de frente.
— “Tenta alguma coisa, e eu te arranco os caninos.”
Valentine riu, e por um segundo, havia algo mais sombrio do que ameaça em seus olhos. Havia... desejo. Obsessão. E talvez, uma dor enterrada há muito tempo.
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Na manhã seguinte, o corpo de um aluno foi encontrado no jardim interno. Os olhos arrancados, a pele marcada com símbolos antigos.
O internato entrou em alerta. O reitor convocou todos para a capela, mas como sempre, não falou a verdade. Apenas reforçou que o castelo era perigoso à noite.
Lua, porém, já sabia.
Valentine estava de volta. E ele estava brincando.
Mas o que ninguém esperava... é que ela também estava disposta a jogar.
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