O sol mal havia surgido no horizonte quando Elena acordou. As pálpebras pesadas, o corpo ainda doía em lugares que ela não sabia nomear. Cada músculo parecia mais sensível, mais vivo. Um zumbido suave preenchia os ouvidos — como um eco distante do que havia acontecido.
Ela abriu os olhos devagar, piscando contra a luz dourada que entrava pelas frestas das árvores. Não estava mais na floresta densa, mas sim sob uma estrutura de pedra e madeira, rústica, mas acolhedora. Havia uma lareira apagada num canto, cheiro de pinho no ar e o som leve de um pano sendo torcido em água.
Elena se ergueu bruscamente, o cobertor escorregando do corpo nu. E então o viu.
Liam estava encostado na bancada da cozinha, sem camisa, com a calça escura ainda suja de terra, os cabelos úmidos e bagunçados. Ao notar que ela despertara, largou o pano e se aproximou.
— Calma. Está tudo bem — disse ele, com a voz baixa, mas firme.
Ela puxou o cobertor para cobrir o corpo e recuou alguns centímetros, o coração disparado.
— O que... o que foi aquilo? O que aconteceu comigo?
Liam sentou-se à beira da cama, mas manteve distância. Seus olhos estavam calmos, mas havia tensão no ar. Um respeito silencioso.
— Você despertou — respondeu. — A sua primeira transformação. Era só uma questão de tempo.
Ela balançou a cabeça, confusa.
— Isso não faz sentido. Isso não é... possível.
— É mais real do que qualquer coisa que você já viveu — disse ele. — Você não é humana, Elena. Não completamente. Você é uma loba. Uma shifter, como nós chamamos. Metade lobo, metade humano. E essa parte em você estava adormecida... até agora.
Ela levou as mãos à cabeça, o coração martelando.
— Eu achei que estava ficando louca...
— Você não está. Você está... acordando.
Elena ergueu os olhos para ele, e por um segundo, viu algo ali. Uma dor. Uma esperança.
— E você? O que é você?
— Eu sou como você — respondeu ele, com a voz mais grave. — Mas diferente. Eu sou o Alfa da minha alcateia. O líder. E mais do que isso, Elena… eu sou seu companheiro.
Ela franziu a testa.
— Companheiro?
Ele respirou fundo, como quem se preparava para carregar uma verdade pesada.
— Os lobos como nós nascem com uma ligação predestinada. Um elo. Uma conexão que atravessa o tempo, a lógica, a razão. Quando o vínculo desperta, nós sentimos. No cheiro, no sangue, no coração. Foi isso que senti quando te vi pela primeira vez. Foi por isso que eu... soube.
Elena recuou mais um pouco, ainda processando.
— Mas eu… não escolhi isso.
— Eu sei. E é por isso que você tem o direito de aceitar… ou rejeitar.
Liam se levantou, caminhando até a janela, onde a luz da manhã iluminava o contorno de seu corpo.
— Se você me aceitar como seu companheiro, o elo será selado. Eu vou te marcar como minha fêmea. Isso é sagrado entre os nossos. Um vínculo que não pode ser quebrado.
Ela engoliu seco.
— E se eu não aceitar?
Ele se virou devagar, os olhos mais escuros agora, carregados de algo que doía.
— Eu aceito. Por mais que isso rasgue minha alma... por mais que o lobo dentro de mim grite todas as noites. Eu jamais forçaria. A escolha é sua, Elena. Sempre será.
O silêncio que se seguiu foi espesso, cheio de palavras não ditas. Elena abraçou o próprio corpo sob o cobertor, tentando entender se aquele calor no peito era medo… ou desejo.
Liam se afastou, respeitando o espaço entre eles. Mas antes de sair do cômodo, disse em voz baixa:
— Quando estiver pronta, vou estar lá fora.
E então, o som da porta se fechando foi a única coisa que restou.
Exceto pelo eco do que ela agora sabia que nunca mais poderia ignorar:
Ela era uma loba.
E o destino a esperava lá fora… com olhos de tempestade.
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Atualizado até capítulo 45
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