A boate estava mais cheia do que nunca naquela noite. Um evento exclusivo acontecia no camarote privado dos chefes da organização. Era o momento que Lara e Ricardo esperavam há dias: acesso direto ao núcleo do tráfico.
Mas havia um detalhe na nova ordem da missão.
— Camarote reservado para casais VIPs — informou o contato do esquadrão pelo rádio. — Vocês vão entrar como convidados pessoais do Barone. E lá dentro... todo mundo observa. Todo mundo testa.
Ricardo riu baixo ao lado dela, enquanto ajeitava a gravata preta impecável.
— Traduzindo: vão nos querer em modo casal apaixonado de filme barato. Dançando colados, se tocando... talvez até mais.
Lara prendeu os cabelos em um rabo elegante, de costas para ele.
— Um toque fora de lugar e eu te quebro na frente de todo mundo.
— Eu conto com isso. Um pouco de dor nunca me assustou.
Ela se virou devagar. O vestido dela era de cetim vinho, longo, com fenda alta e um decote nas costas que parava na lombar. O tecido moldava cada curva como uma segunda pele.
Ricardo engoliu em seco, mais sério do que de costume.
— Almeida...
— Não começa — ela interrompeu, pegando a bolsa com o equipamento escondido.
— Tá. Mas, se eu esquecer o que vi ontem à noite, posso morrer. Só pra constar.
Ela passou por ele e murmurou:
— O que você viu foi parte da missão. E da minha paciência. E as duas coisas têm limite.
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O camarote era luxuoso. Iluminação baixa, sofás de couro preto, garçons discretos. Música suave, champanhe caro. Tudo estrategicamente montado para esconder crimes.
Ricardo e Lara chegaram juntos, ele com o braço ao redor da cintura dela. Sorrisos ensaiados, olhares fingidos. Mas o toque dele era firme, real. Quente. E quando ela sentou-se ao lado dele no sofá, cruzando as pernas, sentiu o olhar dele deslizar por cada centímetro.
Barone os observava à distância, cercado de comparsas. Testando-os.
— Ele está avaliando nosso nível de “intimidade” — murmurou Ricardo em seu ouvido. — Vai querer ver um beijo em breve.
— Nem ouse.
— Você prefere me bater ou me beijar em público?
— Eu prefiro sumir com você sem deixar rastros.
— Tentador.
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Minutos depois, Barone se aproximou com duas taças de champanhe.
— A nova dupla de aliados — disse, com um sorriso torto. — Casais apaixonados costumam se distrair com facilidade. Quero ver se estão focados.
— Sempre estamos focados — respondeu Lara, firme.
Barone levantou a taça em direção aos dois e lançou um olhar sugestivo.
— Quero ver vocês se divertindo. Quem ama, mostra.
O ar ficou pesado. A música mudou para algo mais lento. O olhar de Barone exigia atuação.
Ricardo virou-se para Lara, com um brilho provocador no olhar. Mas desta vez, sem sarcasmo. Só tensão.
— Me desculpa por isso — ele murmurou, antes de tomar a iniciativa.
O beijo veio rápido. Quente. Profundo.
Lara reagiu no mesmo instante, puxando-o pela camisa, encenando desejo. Mas, para ambos, havia pouco de atuação naquele momento. A boca dele era firme, envolvente. As mãos deslizaram pela cintura dela com segurança, parando na curva de suas costas. Lara gemeu baixo contra os lábios dele — e a maldita reação foi real.
Quando se afastaram, estavam ofegantes.
— Natural... demais — comentou Barone, satisfeito. — Isso me tranquiliza.
Ele se afastou, e o casal permaneceu em silêncio por segundos.
Lara levantou-se primeiro, indo até a varanda do camarote para respirar. Ricardo a seguiu.
— Você tá tremendo — ele murmurou, se encostando no parapeito ao lado dela.
— Cale a boca.
— Fala a verdade. Você também sente. Esse fogo entre a gente...
Ela virou-se bruscamente.
— Isso é só adrenalina.
— É muito mais que isso. E você sabe.
Ela o empurrou de leve, e ele riu.
— Tá com medo de se perder, Almeida?
— Tô com medo de te matar e gostar.
— Eu não sou seu inimigo.
— Mas também não é minha fraqueza — ela rebateu.
— Ainda não — ele disse, se aproximando. — Mas tá perto.
Eles se encaram por longos segundos, os olhos se estudando como dois oponentes em guerra.
Ela quebrou o contato visual primeiro.
— Volta pro salão. Vou coletar informações com o sinalizador escondido.
— Sem sumir sozinha de novo, entendeu?
— Não me dá ordens.
— Te dou sim. Até porque você gosta — ele provocou.
Ela sorriu de canto, mas não respondeu. Apenas sumiu entre as luzes da boate.
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Mais tarde, de volta ao apartamento, o silêncio estava diferente. Carregado.
Ambos estavam tensos, suados, ainda sob o efeito do toque, do beijo. Do que quase aconteceu — e do que, no fundo, queriam que acontecesse.
Ricardo entrou no quarto primeiro, tirando o paletó, a camisa... deixando o corpo exposto. O olhar dele cruzou com o dela, que já estava de sutiã, retirando o vestido.
Ela hesitou ao perceber que ele a observava. Mas não parou. Deixou o vestido deslizar até o chão.
Ele ficou imóvel, os olhos percorrendo cada curva dela.
Ela, então, virou-se devagar.
— Se vai ficar me olhando, ao menos diga algo útil.
— Tô tentando lembrar por que ainda não te beijei de novo.
— Porque se tentar, vai sair daqui com um hematoma — disse, mas a voz saiu mais baixa do que gostaria.
— Ou talvez com um gemido seu — ele murmurou.
Ela se aproximou, o rosto a centímetros do dele.
— Uma hora você vai passar do limite, Ricardo.
— E você vai implorar pra eu não parar.
O silêncio entre eles estava carregado demais. Mas nenhum cedeu. Ainda não.
Ela se afastou, puxou o lençol da cama com força e se deitou de costas para ele.
— Boa noite, Costa.
— Sonha comigo, Almeida.
Ela fechou os olhos, irritada.
O problema era que ela já vinha fazendo isso há dias.
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Atualizado até capítulo 40
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