A boate estava mais cheia do que o habitual naquela noite. Membros importantes da organização que investigavam estariam presentes. Lara e Ricardo entraram em sincronia, disfarçados como um casal sofisticado, apaixonado e visivelmente entrosado — o oposto da realidade entre eles.
Ela usava um vestido vermelho justo, longo, com decote nas costas. O tipo de roupa que realçava cada curva de seu corpo definido. Ricardo, com um terno escuro perfeitamente alinhado ao seu físico, parecia saído de um anúncio de revista. A beleza dos dois chamava atenção, e isso fazia parte do plano: atrair olhares para que pudessem circular livremente.
— Está incrível — ele sussurrou ao vê-la sair do carro. O tom não foi irônico, nem provocativo. Apenas sincero.
Ela o olhou de lado, umedecendo os lábios antes de responder:
— Controle-se, Costa. Estamos aqui a trabalho.
— Você devia receber treinamento em autocontrole. Tá cada vez mais difícil fingir que eu não te desejo.
Ela fingiu que não ouviu e passou o braço em torno do dele, caminhando com elegância até a entrada.
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Já no interior, identificaram três alvos de relevância, entre eles um novo rosto, com anotações de possíveis ligações diretas ao tráfico internacional. Lara estava com um ponto eletrônico no ouvido e uma câmera embutida em um colar discreto.
— Terceiro alvo, mesa próxima ao balcão central. Analisando as feições... batem com o infiltrado do Panamá — murmurou, de forma quase imperceptível.
— Já estou registrando — respondeu Ricardo, mantendo o braço ao redor da cintura dela enquanto dançavam.
Estavam tão próximos que ela conseguia sentir a respiração dele no pescoço. Seu toque era firme, quase possessivo. A mão na cintura escorregou levemente, e ela o empurrou com os quadris, sussurrando:
— Se continuar tocando onde não deve, vou quebrar sua clavícula. Com um sorriso no rosto.
— Eu posso arriscar. Vale a pena — ele devolveu, com aquele sorriso malicioso.
Foi então que um dos alvos os olhou diretamente. Era o tipo de olhar que atravessa, que mede, que desconfia.
— Temos companhia — murmurou ela.
— Hora de atuar — disse ele, antes de puxá-la bruscamente para um beijo.
Ela ficou surpresa, mas respondeu no mesmo segundo. Era uma missão. Eles estavam sendo observados. O beijo tinha que parecer real. E foi.
A boca de Ricardo encontrou a dela com uma mistura de precisão e intensidade. Não havia doçura, havia desejo contido, raiva acumulada, tensão de dias. Lara segurou a nuca dele com firmeza, fingindo paixão. Mas ao mesmo tempo… algo real surgiu ali. Um calor inesperado. Um arrepio genuíno.
Quando se afastaram, ambos estavam ofegantes.
— Que beijo técnico, Almeida — ele murmurou, ainda perto demais.
— Vá pro inferno, Costa — ela disse, com os olhos ardendo.
— Acho que acabei de passar por lá… e adorei.
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Horas depois, de volta ao apartamento, Lara entrou primeiro, jogando os saltos em um canto e indo direto para a cozinha. Ainda sentia os lábios formigando. O maldito beijo não saía da cabeça. Estava irritada. Confusa. E, para piorar, ainda excitada.
— Água com gelo? — ela perguntou sem olhar para trás.
— Não sabia que me tratava tão bem — respondeu Ricardo, jogando a jaqueta no sofá.
— É pra ver se esfria a cabeça.
Ele se aproximou, pegando o copo da mão dela, seus dedos se tocando por um segundo. Ambos sentiram. Mas nenhum disse nada.
— Sobre hoje... — ele começou.
— Não aconteceu nada — ela cortou. — Era parte do disfarce. Ponto final.
— Pena. Porque foi... real.
Ela o encarou.
— Foi uma farsa. Assim como toda essa encenação. Eu não me envolvo. Nunca me envolvo. Isso aqui é missão. Só isso.
Ele assentiu devagar, mas havia algo em seu olhar que não concordava. Algo entre frustração e desafio.
— E se fosse mais do que isso?
Ela deu um passo à frente, ficando perigosamente próxima.
— Você quer me testar, Ricardo?
— Eu quero você. Mas por enquanto... vou continuar te provocando. Até você deixar de mentir pra si mesma.
Ela virou-se, indo para o quarto, o coração disparado. Mas antes de entrar, jogou por cima do ombro:
— Se tentar me beijar de novo sem estarmos sendo observados, vai sair daqui com a mandíbula deslocada.
— Ótimo — ele respondeu, tirando a camisa no meio da sala. — Pelo menos vou ter o gosto da sua boca na memória enquanto estiver no hospital.
Ela fechou a porta com força, mordendo o lábio. Estava em perigo. Mas não era por causa da missão.
Era por causa dele.
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Mais tarde, ambos já estavam na cama, um de cada lado, o quarto em silêncio. Ela de costas, ele deitado, com uma mão atrás da cabeça. O som do ventilador girando preenchia o espaço entre eles.
— Almeida… — ele chamou, baixinho.
— Hm?
— Da próxima vez que precisar me beijar em missão… tenta não se entregar tanto.
Ela riu sozinha, sem virar.
— Vai sonhando.
E, naquele quarto escuro, ambos adormeceram com a mesma imagem na mente: o beijo.
Falso ou não… tinha mudado tudo.
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Atualizado até capítulo 40
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