Missão: Amor e Guerra
O som dos golpes secos ecoava pelas paredes acolchoadas da sala de treinamento. O ar tinha o cheiro de suor, esforço e concentração. Lara Almeida mantinha a respiração controlada enquanto girava o quadril, derrubando o adversário com um movimento limpo de jiu-jitsu. O corpo definido, resultado de anos de disciplina, se movia com precisão milimétrica. Nada em sua rotina era feito pela metade.
— De novo — ordenou, fria.
O colega de treino engoliu em seco, mas obedeceu. Sabia que Lara era exigente, com os outros e com ela mesma. Faixa preta em jiu-jitsu, especialista em muay thai, agente das Forças Especiais do governo... e completamente avessa a qualquer envolvimento emocional.
Aos trinta anos, Lara sabia o preço de se apegar. Era bonita, sim. Pele clara, olhos azuis intensos e cabelo preto na altura dos ombros. O corpo torneado chamava atenção por onde passava — inclusive onde não devia — mas ela ignorava. Namoros eram distrações, e distrações matavam em campo.
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Mais tarde, em seu apartamento na cobertura, Lara se jogou no sofá. A taça de vinho tinto em mãos contrastava com o cenário de combate que fora seu dia. Ela gostava daquele ritual. Um vinho de safra selecionada, o silêncio da cidade alta e a vista do horizonte — onde a calma era apenas aparente.
Foi interrompida pelo celular institucional vibrando sobre a bancada. Atendeu sem hesitar.
— Almeida — disse, seca.
— Tenente Almeida, relatório em mãos. Você foi designada para uma missão conjunta.
Ela cerrou os olhos.
— Conjunta? Com qual unidade?
Silêncio. Uma pausa carregada.
— Esquadrão Ômega.
Ela se endireitou no sofá.
— Quem está comandando?
— Coronel Ricardo Costa.
Um xingamento quase escapou dos seus lábios. Ricardo. O homem mais arrogante, mandão e insuportavelmente bonito que ela já conhecera. Tinha história com ele, e nenhuma boa.
— Autorizo recusa — respondeu imediatamente.
— Ordem direta do alto comando. Missão de prioridade classe A.
Ela fechou os olhos e suspirou fundo.
— Envio os dados agora. Apresente-se amanhã às 06h no hangar 4. E, Almeida... — o tom do superior mudou, quase num deboche contido — tentem não se matar antes da missão começar.
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O hangar 4 estava movimentado quando ela chegou. Seu uniforme tático preto colava-se perfeitamente às curvas. Tudo nela exalava eficiência, desde a postura até o olhar glacial.
Ricardo estava encostado num dos jipes blindados, braços cruzados, óculos escuros cobrindo os olhos castanhos claros, mas o sorriso debochado estava no lugar de sempre.
— Sempre pontual. Uma qualidade admirável — disse ao vê-la.
— E você continua irritante. Uma qualidade que não muda com os anos — rebateu.
— Sentiu saudade, Almeida?
Ela passou por ele sem responder, mas ele se virou para segui-la. O modo como ela andava, a firmeza nos passos, o rabo de cavalo balançando... provocavam nele sensações perigosas. E ele adorava brincar com fogo.
A reunião começou. Ricardo liderava com autoridade inquestionável. Mesmo sendo um canalha arrogante, era bom no que fazia. Taticamente impecável. Estratégico. Mortal. Isso ela respeitava, mesmo que jamais admitisse.
— Missão concluída em 72 horas, sem alarde, sem testemunhas — finalizou ele. — E, Lara... sem improvisos dessa vez.
— Desde que você não atrapalhe — ela retrucou, fria.
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A missão foi um sucesso.
Sem rastros, sem sobreviventes. O alvo era um pequeno grupo insurgente operando sob o radar. Lara e Ricardo trabalharam juntos com eficiência desconcertante. Brigavam, sim. Discutiam o tempo todo. Mas em campo... pareciam dançar.
De volta à base, algo inesperado os aguardava: uma nova missão.
Dessa vez, os dois estavam sozinhos.
— Disfarçados? — ela ergueu uma sobrancelha ao ler o relatório.
— Casal recém-casado — confirmou o oficial que entregou os dados. — Vocês vão se infiltrar em um núcleo de tráfico que opera disfarçado de boate em outra cidade. Precisamos de identificação visual dos chefes.
— Por que não mandam um casal de verdade? — Ricardo questionou.
— Porque nenhum tem o treinamento de vocês dois juntos. Vocês são nossa melhor chance.
Lara bufou. Odiava isso.
— Isso vai dar errado — murmurou.
— Ou muito certo — Ricardo sorriu.
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A viagem foi silenciosa. Lara ignorava as tentativas dele de puxar conversa, preferindo olhar pela janela do helicóptero. Mas Ricardo estava longe de desistir.
Na chegada ao novo “apartamento disfarçado”, descobriram outro detalhe: quarto único. Camas de casal.
— Isso é pegadinha? — ela perguntou, olhando o ambiente luxuoso demais para uma missão de infiltração.
— Fique tranquila. Não ronco — ele brincou, jogando a mochila no sofá.
— Ótimo. Porque se roncar, eu sufoco você com o travesseiro.
— Tem tanta coisa mais interessante que você poderia fazer comigo na cama...
Ela o fuzilou com o olhar. Mas ele apenas sorriu, cínico, como sempre.
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Nos dias seguintes, eles frequentaram a boate investigada. Beijos forçados, mãos entrelaçadas para manter o disfarce. O calor entre eles, mesmo negado, era palpável. Lara detestava admitir que o modo como ele a olhava fazia algo nela estremecer. E Ricardo se torturava tentando não imaginar como ela seria sem o uniforme.
Até que o inevitável aconteceu.
Depois de uma noite tensa na boate, voltaram para o apartamento. Lara foi a primeira a chegar e se trancou no banheiro para um banho. A tranca estava quebrada — ela notou, mas achou que Ricardo ainda estivesse fora.
Estava errada.
Ele entrou, distraído, tirando a camisa suada e caminhando direto ao banheiro, empurrando a porta sem pensar.
O mundo parou.
Ela estava de costas, nua, a pele clara reluzente sob o vapor. Ao ouvi-lo, virou-se — os olhos em choque, depois raiva pura.
— O que diabos—?!
Mas ele não conseguia falar. Os olhos travaram no corpo perfeito, curvas definidas, os seios cheios, o olhar furioso.
— Você é um idiota! — ela gritou, atirando o sabonete contra ele.
Ricardo fechou a porta no susto, mas saiu com o rosto vermelho, o peito acelerado.
Por muito tempo ficou parado do lado de fora do banheiro, apoiado na parede, tentando esquecer aquela visão. Mas não conseguiu.
E pela primeira vez... o silêncio entre eles falou mais do que qualquer provocação.
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Atualizado até capítulo 40
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