Capítulo 5

O despertador tocou às oito da manhã, mas eu já estava acordada fazia horas. Na verdade, mal consegui dormir. A cada vez que me virava na cama, o vazio ao meu lado parecia gritar mais alto, me lembrando de tudo que eu não queria encarar.

Meu celular descansava na cabeceira, exibindo a última tentativa de ligação: 02h47. Eu liguei. Liguei tantas vezes que perdi a conta. E ele... não atendeu nenhuma.

Levantei com o coração disparado. Andei pela casa em silêncio, vasculhando cada cômodo como se ele pudesse estar ali, escondido em algum canto. No sofá. Na cozinha. Na varanda. Mas a casa estava vazia, imóvel, fria. Leonardo tinha desaparecido. E, dessa vez, sem deixar rastros.

— Onde você está, Leonardo? — sussurrei para mim mesma, com a voz falha e os olhos ardendo.

Tentei ligar mais uma vez. O telefone chamou, chamou... e caiu direto na caixa postal. De novo.

O pânico começou a se instalar no meu peito.

“E se aconteceu alguma coisa? E se ele sofreu um acidente? E se...”

Nesse instante, ouvi o portão se abrir. Corri até a janela. Reconheci o carro dos meus pais e fui até a porta, destrancando antes mesmo que tocassem a campainha.

— Mãe! Pai! — exclamei, aliviada e apavorada ao mesmo tempo. — Vocês viram o Leonardo? Ele… ele não voltou pra casa ontem. Não atendeu minhas ligações. Eu tô ficando louca!

Minha mãe me encarou com um olhar que me gelou por dentro. Um olhar carregado de mágoa, dor… decepção. Meu pai estava ao lado dela, braços cruzados, o rosto tenso, rígido, como eu nunca tinha visto.

— Vimos sim, Samantha — minha mãe respondeu com firmeza.

— Graças a Deus! Onde ele está? Por que ele fez isso? Ele sumiu, não deu notícia nenhuma! — falei rápido, com o desespero estampado em cada palavra.

Eles entraram. Papai fechou a porta com calma, mas o silêncio que se instalou parecia gritar.

— Samantha… — minha mãe começou, a voz mais baixa agora. — Você realmente não sabe o motivo de ele não ter voltado?

— Como assim? Claro que não! — rebati, tentando manter o controle. — Ele saiu sem dizer nada. Isso nunca aconteceu.

Papai soltou um suspiro forte, daqueles que carregam peso demais.

— Ele esteve lá em casa hoje cedo. E nos contou tudo.

— Tudo… o quê? — perguntei, sentindo o corpo gelar.

— Que você está envolvida com outro homem — minha mãe disse direto. — Que você o traiu. Que ele viu. Com os próprios olhos.

Senti minhas pernas fraquejarem.

— Ele… ele viu?

— Viu, Samantha! — meu pai explodiu, finalmente. — E mesmo assim teve a dignidade de ir até nós com respeito. Com dor nos olhos, mas convicto.

Balancei a cabeça, como se pudesse apagar a realidade dali pra frente.

— Não… não pode terminar assim. Eu preciso falar com ele. Preciso explicar…

Comecei a andar pela sala, sem rumo. Tentando controlar o desespero que crescia como um incêndio.

— Explicar o quê? — minha mãe me olhou, agora com os olhos marejados. — Que você destruiu o coração de um homem que sempre te amou? Que jogou fora tudo o que construíram juntos por causa de uma ilusão?

— Eu sei que errei! Eu sei! — gritei, sem conseguir mais segurar as lágrimas. — Mas eu preciso tentar! Eu preciso falar com ele!

— Não adianta — disse meu pai, com a voz baixa, porém cortante. — Ele não quer mais ver você, Samantha. E pediu que disséssemos isso com todas as letras. O advogado dele vai entrar em contato. E ele vai mandar alguém buscar as coisas dele.

Desabei no sofá, levando as mãos ao rosto. O choro veio silencioso, pesado, envergonhado.

— Ele me odeia… — sussurrei, sentindo o gosto amargo da culpa na boca.

Minha mãe se aproximou e tocou meu ombro com delicadeza.

— Não sei se ele te odeia. Mas sei que ele desistiu. E às vezes, filha… as pessoas só desistem porque amaram demais.

As palavras dela cortaram mais fundo que qualquer julgamento.

Continuei ali, chorando, sem saber o que dizer. Sem conseguir imaginar como aquilo tudo tinha chegado tão longe. Eu achava que tinha o controle. Que conseguia separar tudo, equilibrar o que sentia e o que escondia. Mas agora… agora tudo tinha desmoronado.

E não tinha mais volta.

Levantei o rosto, ainda tremendo, tentando respirar fundo.

— Mãe… pai… — minha voz saiu fraca. — Eu não sei como vou conseguir me manter aqui. A casa é alugada, o aluguel é caro, e agora com o divórcio… eu não tenho como bancar tudo sozinha.

Meu pai me olhou com frieza.

— E o que você quer, Samantha?

— Eu pensei… pensei se poderia voltar pra casa. Só até me estabilizar. Me reorganizar…

Minha mãe deu um passo para trás, como se as palavras a tivessem atingido. Papai cruzou os braços e respirou fundo.

— Você quer voltar pra casa depois de tudo o que fez?

— Eu não tenho outra opção! — respondi, já sentindo a humilhação bater.

— Não? — ele rebateu com dureza. — Então pede pro seu amante pagar o seu aluguel! Já que ele foi bom o bastante pra você trair o seu marido, que seja bom o bastante pra te sustentar agora.

— Pai… — tentei dizer, assustada com o tom.

— Não me chame de pai agora — ele cortou. — Sabe o que mais dói? Não é só a traição. É ver que você jogou fora um homem decente. Um homem que te amava.

Minha mãe, com a voz embargada, acrescentou:

— Leonardo não era perfeito, filha. Mas ele te respeitava. Te cuidava. Te colocava no centro de tudo. Você tinha o que muitas mulheres sonham em ter… e jogou tudo fora.

Olhei para eles, sentindo o rosto queimar de vergonha. Tentei falar, mas nenhuma palavra saiu. Só havia o peso do que eu havia feito.

— Nós te criamos pra ser uma mulher de valor — minha mãe continuou. — E hoje, sinceramente, não reconheço a filha que tenho na frente.

— Vamos embora, Mary — disse meu pai. — Já ouvimos o suficiente.

Minha mãe ainda me lançou um último olhar — cheio de tristeza, decepção… e dor.

— Espero que um dia você entenda o tamanho do erro que cometeu. E que consiga se perdoar… porque eu não sei quando nós conseguiremos.

Eles saíram sem se despedir. E o som do portão se fechando atrás deles me atingiu como uma sentença.

Fiquei ali, sozinha.

Olhei para a sala, que agora parecia fria, sem alma, estranha. Toquei o encosto do sofá, lembrando dos dias em que Leonardo me pegava no colo depois de um dia cansativo. Lembrei dos cafés da manhã no sábado, do som da risada dele ecoando pela cozinha.

Agora tudo estava mudo.

Me sentei devagar, abracei meus joelhos e deixei as lágrimas escorrerem.

“Eu destruí tudo.”

O amor, o respeito… até minha família.

Leonardo me deu tudo.

E agora, eu não tinha mais nada.

Nem ele.

Nem mim mesma.

E pela primeira vez, senti medo de verdade.

Medo do que eu me tornei.

Medo do vazio que eu mesma criei.

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Comments

Francis Damasceno

Francis Damasceno

Você só se prwoculpa com o que vão pensar de você...Seus pais, Leonardo.. Você não o ama, queria mantê-lo por perto para dá uma satisfação às pessoas. Tratava o rapaz como nada, com desprezo, frieza, indiferença. Isso é terrível de muitas formas.

2025-06-22

2

Aldeir Rodrigues

Aldeir Rodrigues

os pais dela lavou a cara da safada vai pedir pro amante pagar seu aluguel vadia

2025-06-21

1

Severa Romana

Severa Romana

espero sinceramente que ele não volte pra ela...mukher escrota

2025-06-21

1

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