4. O PADRE

O Sacerdote e o Inferno

Quando entrei no sinistro esquema da prostituição, eu não imaginava que a linha entre a santidade e a corrupção poderia se desfazer com tanta facilidade. O dinheiro começou a fluir como um rio caudaloso, e a sedução do poder envolveu-me como um manto quente. Durante anos, mergulhei em estudos intensivos, empreendendo um esforço quase sobre-humano para construir a imagem de um padre fiel, dedicado à Arquidiocese. O estudo das escrituras, as orações intermináveis e a busca pela aprovação de Deus tornaram-se meu manual de sobrevivência. O que eu achava que era uma missão de fé, rapidamente se transformou em um labirinto obscuro, onde eu me perdi com prazer.

Mas então, o inesperado aconteceu. A morte do senhor Bianchi, um dos meus principais aliados, virou meu mundo de cabeça para baixo. Seu filho, que herdou não apenas a fortuna, mas também o legado da maldade, decidiu colocar um fim aos nossos negócios. Desde aquele dia fatídico, uma nuvem de desespero começou a se formar sobre minha vida. Sem a proteção e o fluxo constante de riqueza, fomos puxados para a espiral do fracasso. A cada ano que passava, o peso da fome e do desespero crescia sobre meus ombros. O que antes era um banquete de oportunidades agora se tornara um festim de quebrantos, um pesadelo em que as sombras da miséria se projetavam em nossos rostos.

No auge do desespero, busquei socorro onde a luz nunca brilha: pedi um empréstimo ao próprio Diabo. A ironia da situação não me escapava. O filho do senhor Bianchi, conhecido por corromper até as almas mais puras, tornou-se meu salvador de um jeito macabro. “Ele é um demônio”, fustigavam as línguas da igreja, mas era isso que eu precisava. O dinheiro injetou uma falsa esperança em nossas vidas, um alívio temporário que logo se dissolveu, como névoa ao sol da manhã.

Meses se passaram, e o retorno dos dízimos dos fiéis, que outrora eram gordos como alimento farto, secou-se como um rio em estiagem. As contas se acumularam, e a sombra do pagamento pendente cresceu, assim como a visita do diabo se aproximava. Eu sabia que uma hora ele viria, e não seria para uma conversa amistosa, mas para me eliminar, assim como um jardineiro arranca pela raiz uma planta indesejada. O medo da morte e do inferno se tornava insuportável, a cada dia que passava, a cada altar que eu levava a água benta.

Porém, em meio a essa tempestade de desespero, a madre superiora apresentou-me uma ideia brilhante, uma luz tênue em meio à escuridão. “O capô precisa de uma esposa”, suas palavras ressoaram em minha mente como um eco de esperança. Ele precisava de um pilar para manter a estrutura da máfia e seu comportamento equilibrado. O conselho estava impertinente, exigindo atenção e lealdade, e eu percebi que seria a solução mais prática. Ele se casaria, mesmo que fosse por um breve período, para abafar a turbulência.

Pensei na Isadora. Uma jovem linda e encantadora, uma bênção e um espinho em um coração corrompido. Ria, quase rindo da ironia de ter uma jovem tão pura ligada a uma figura tão sombria, mas já não importava. O pensamento dela seria minha salvação, e a ideia começou a crescer como um broto novo em solo fértil. Com ela ao meu lado, tudo poderia mudar.

O dia fatídico chegou. Os sons da cidade sumiram, e eu permaneci trancado em meu gabinete, angustiado e receoso. A espera tornou-se uma tortura, e as paredes pareciam fechar-se ao meu redor. Meu coração batia desenfreadamente, e o medo de encarar os olhos demoníacos do capô quase me paralisou. Nesses olhos eu não via apenas malícia; via a sombra dos meus pecados, cada erro acumulado, cada desvio do caminho sagrado que eu decidira trair.

Sabia que a madre já havia saído em busca de Isadora, para apresentá-la ao conselheiro do capô, seu braço direito, um homem tão astuto quanto os próprios demônios que eu havia invocado. Se ele aprovasse a jovem, estaríamos um passo mais próximos de salvar a nós mesmos. A esperança e o desespero se entrelaçavam em meu peito, e eu me vi rodeado por fantasmas do passado enquanto esperava ouvir os passos de um futuro tão incerto.

A porta se abriu lentamente, e a expectativa elevou-se no ar pesado. O tempo carregava consigo a expectativa e o medo, unindo-se em um fio tênue que poderia se romper a qualquer momento. Nela, a doce Isadora, uma visão angelical que parecia tão deslocada na turbulência em que eu me encontrava. Em seu sorriso, havia uma inocência que meu coração corrompido apenas sonhava em tocar.

E assim ficou, a sala enchia-se com a tensões; um duelo silencioso entre a luz e a escuridão, entre a esperança de redenção e o medo de condenação. Eu estava no centro de uma tempestade. Uma brisa fria cortou o ambiente, e, no fundo, sabia que consequências viriam. Mas, naquele instante, tudo que eu queria era manter a calma, tratar o futuro como uma benção, mesmo que envolvesse negociar com o próprio demônio.

O futuro se desenhava alucinatório, e eu estava prestes a lançar-me no abismo, entrelaçado com uma jovem angelical, esperando que não fôssemos tragados por forças que jamais poderiam compreender. O que estava prestes a acontecer poderia mudar tudo, mas o que não sabia era se seria o começo de um novo capítulo ou o fechamento de minha história na escuridão.

Com isso, deixamos a porta aberta para o que está por vir, encerrando um capítulo marcado por sombras, mas repleto de sonhos e anseios - a eterna batalha entre luz e trevas, entre um padre cativo de seus próprios demônios e o desejo ardente de salvação.

O braço direito do diablo fez uma ligação, e falou que eu tinha uma proposta "boa", então ele desligou, olhou no fundo dos meus olhos e falou para mim e a Isadora os acompanhar até a mansão do senhor Bianchi, que ele queria saber mais sobre essa proposta, confesso que eu fiquei com muito medo do que ia acontecer naquela mansão, mais engolindo o medo e tomando coragem eu fui.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***