A mansão Drakons era silenciosa, grandiosa — fria como o homem que a comandava. Selena, ao atravessar o saguão principal, observava cada canto com olhar clínico: a escadaria curva de mármore, os quadros antigos de homens de olhar severo, os lustres que pareciam ter pertencido a castelos esquecidos. Tudo ali gritava poder… e prisão.
Lorenzo, impassível, estalou os dedos, chamando a governanta.
— Leve-a para o segundo quarto de hóspedes. E... — voltou-se para dois seguranças encostados à parede — fiquem na porta. Ela não sai sem minha permissão.
Selena parou ao ouvir isso. Os olhos faiscando ódio. Em poucos passos, aproximou-se de Lorenzo. O silêncio entre os dois era cortante. E então, sem aviso, ela o cuspiu no rosto.
O salão congelou.
Um dos seguranças deu um passo à frente, mas Lorenzo ergueu uma mão e o conteve. Limpou o rosto devagar, como se controlasse cada fibra do próprio corpo. Quando levantou os olhos, seu rosto era uma tempestade prestes a desabar.
— Você acabou de cruzar uma linha, — disse entre dentes, avançando um passo, o corpo em tensão.
Mas antes que o pior acontecesse, Selena virou e disparou escada acima. Seus passos ecoavam pelo mármore enquanto Lorenzo a observava, o punho fechado ao lado do corpo. Ele poderia tê-la impedido. Mas algo o travou.
Talvez fosse o respeito por sua coragem, talvez fosse a própria raiva que ele viu refletida nela — ou o fato de, pela primeira vez, alguém ousar enfrentá-lo sem medo.
Na porta do quarto, Selena bateu com força e virou-se de costas, respirando com dificuldade. Lágrimas ameaçavam cair, mas não cairiam. Não naquela casa. Não naquele mundo.
Na mansão Drakons, guerra e desejo andavam lado a lado — e essa era só a primeira batalha.
NO JANTAR
A mesa do jantar estava impecável — talheres alinhados como soldados, taças reluzindo sob a luz âmbar do lustre e uma fileira de pratos cuidadosamente dispostos com precisão quase cirúrgica. A governanta aproximou-se da porta do quarto de hóspedes, bateu com leveza e anunciou, com tom neutro:
— Senhorita Selena… o jantar está servido.
Selena desceu alguns minutos depois, os passos firmes, embora por dentro ainda carregasse a dor do que vivera naquela noite. Usava um vestido discreto, mas havia dignidade em cada centímetro de sua postura. Ao entrar na sala de jantar, seus olhos encontraram de relance os de Lorenzo… mas ele não olhou de volta. Estava sentado à cabeceira, encarando um ponto fixo na parede, como se ela não existisse.
Ela se sentou lentamente, do lado oposto da mesa, e ficou em silêncio. Nenhum dos dois disse uma palavra. O barulho dos talheres e do vinho sendo servido pelos criados era a única trilha sonora daquele cenário tenso e contido.
Lorenzo cortava a carne calmamente, a mandíbula rígida. Havia raiva contida ali, mas mais ainda, havia controle. Um tipo de controle que Selena conhecia bem — o tipo que precede tempestades.
Selena levou a taça aos lábios com elegância, e por fim quebrou o gelo:
— Imagino que não seja hábito aqui começar a refeição com um “como foi o dia?”
Lorenzo não ergueu o olhar.
— Só começo conversas com quem me respeita — disse seco, quase inaudível.
Selena apertou a taça entre os dedos, mas não respondeu. O silêncio retornou — pesado, indigesto.
E foi ali, naquele jantar silencioso e distante, que os dois entenderam algo: a guerra entre eles ainda estava apenas no aperitivo.
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Atualizado até capítulo 129
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