Apois horas de conversa Lorenzo rompe o silêncio:
— Onde eu assino? — Lorenzo disse em seguida, frio como gelo, dirigindo-se a Ivan.
O pai de Selena não esboçou surpresa, mas um sorriso satisfeito se desenhou em seu rosto enquanto puxava de dentro da maleta de couro um contrato encadernado com precisão cruel.
— Aqui. Página final — apontou, empurrando o documento pela mesa.
Lorenzo pegou a caneta, folheou o papel sem ler, e assinou. Sua mão não tremia. Ele já havia feito pactos piores do que aquele.
Ao terminar, largou a caneta com um leve estalo e se levantou, alisando o paletó.
— Marcos fará a transferência ainda esta noite. Ele já está a caminho do banco — declarou, caminhando até a porta. — Agora, a senhorita Petrovic me pertence. E eu não gosto de peças quebradas, então espero que saiba se recompor... rápido.
Selena o observava com um misto de raiva, orgulho ferido e curiosidade amarga. Algo nela havia sido arrancado à força — mas algo novo nascia também: a fúria silenciosa de quem nunca mais aceitaria ser propriedade de ninguém.
Lá fora, os carros já esperavam. Mas dentro daquela sala, o jogo havia mudado para sempre.
Assim que Lorenzo saiu da sala, o silêncio se tornou denso como ferro fundido. Ivan aguardou que a porta se fechasse por completo antes de virar-se para a filha. Seu olhar, embora contido, era como aço prestes a cortar.
— Escute bem, Selena — disse, cada palavra medida como um veredicto. — Isso não muda nada entre nós.
Ela o encarou com firmeza, embora por dentro ardesse em revolta. Os olhos ainda úmidos, mas agora frios.
— Você me vendeu.
Ivan se aproximou, sem pressa.
— Eu te coloquei numa posição de poder. Cabe a você fazer disso uma vantagem... ou um problema.
Selena manteve-se ereta, embora sentisse o peso de uma traição que palavras não conseguiam explicar.
— Só há uma coisa que não vou tolerar — Ivan continuou, baixando o tom mas elevando a ameaça — Você não vai me envergonhar. Não se atreva a trazer escândalos, nem agir como mártir. Sua lealdade à família ainda é obrigatória. Com ou sem contrato.
Ela segurou o choro com os dentes cerrados, não por submissão, mas porque choraria depois—com raiva, não tristeza.
— Você ainda pensa que pode me controlar... como um objeto — sussurrou.
Ivan inclinou-se próximo ao ouvido dela, implacável:
— Não pense. Lembre.
Ele recuou, compôs o terno com um leve ajuste e se dirigiu à porta, como se nada tivesse acontecido.
— Quatro minutos se foram — disse com indiferença. — Mostre a ele que vale cada centavo.
A porta se abriu novamente. O jogo recomeçava, mas Selena não era mais a mesma.
NO CARRO:
O clima dentro do carro era sufocante, embora o ar-condicionado estivesse ligado. Lorenzo e Selena sentaram-se em lados opostos da espaçosa cabine do sedã preto que os conduzia de volta à mansão Drakons. O silêncio era cortante, preenchido apenas pelo suave ronco do motor e o barulho distante da cidade noturna.
Selena mantinha os braços cruzados, o olhar cravado na janela. Não derramaria lágrimas diante dele — não por orgulho, mas por sobrevivência.
Lorenzo a observou por alguns segundos, depois quebrou o silêncio com a voz baixa, mas firme:
— Foi necessário.
Ela virou o rosto para ele devagar, o olhar como lâminas afiadas.
— Você me comprou como se estivesse adquirindo um carro de luxo. Não venha agora me dizer que foi por altruísmo.
Lorenzo não recuou. — Eu te tirei das mãos do seu pai. Isso tem mais valor do que parece.
— Você só trocou a jaula, Lorenzo — ela retrucou, seca. — A diferença é que essa tem bancos de couro e champanhe na geladeira.
Ele suspirou, recostando a cabeça no encosto.
A estrada serpenteava sob o céu noturno, engolida pelas árvores dos dois lados. O carro avançava em silêncio até que, repentinamente, Selena puxou a maçaneta da porta com um movimento brusco.
— Pare o carro! — ela gritou para o motorista, já com o corpo projetado para fora.
Antes que pudesse dar o segundo passo, uma mão forte segurou seu braço com firmeza e a puxou de volta para dentro. A porta bateu com violência, e o motorista, tenso, permaneceu em silêncio.
Lorenzo a encarava, as pupilas dilatadas de raiva.
— Quer se matar? — sibilou, a voz baixa, ameaçadora. — É isso que você quer? Ou só está tentando complicar ainda mais as coisas?
Selena tentou puxar o braço, mas ele não soltou de imediato. Seu olhar estava cheio de lágrimas não por medo, mas por frustração.
— Me solte, — ela disse, entre os dentes. — Você não manda em mim.
Lorenzo respirou fundo, o maxilar contraído, e só então soltou o braço dela, que ficou marcado por seus dedos. Ele passou a mão pelo rosto, tentando recuperar o controle.
— Você acha que pode simplesmente sair correndo e tudo se resolve? Isso aqui é uma guerra entre titãs. E agora você está no centro. Não tem mais volta.
Selena o fitou com raiva, os olhos queimando.
— Então que venha a guerra. — murmurou.
Os dois permaneceram em silêncio depois disso, a tensão pulsando no ar, como trovões prestes a estourar. A estrada parecia nunca acabar — como se o destino ao qual se dirigiam não fosse um lugar, mas uma tempestade.
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Atualizado até capítulo 129
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