Nos braços de um sonho

A manhã na cafeteria começou tranquila.

Sofia, recuperada da febre, parecia mais animada. Seus desenhos estavam espalhados sobre a mesa de sempre, e Leonardo havia aparecido mais cedo, trazendo um livrinho novo de colorir — presente que fez os olhinhos da menina brilharem.

Clara observava os dois de longe, com um nó no peito. Ver Sofia tão feliz ao lado de Leonardo era como ver um sonho tomando forma… e isso a assustava. Porque sonhos, às vezes, desmoronam.

— Tá tudo bem? — perguntou Cida, a colega de trabalho da cafeteria, vendo Clara pensativa.

— Tá sim… — mentiu, forçando um sorriso. — Só pensando demais.

Naquele momento, o sino da porta tocou.

Clara virou-se automaticamente… e seu rosto se iluminou de alívio genuíno.

— Nicolas! — disse, abrindo os braços.

O homem entrou sorrindo, alto, vestido com roupa social e a pasta de trabalho debaixo do braço. Seu jeito era calmo, sereno. E quando se abaixou para abraçar Sofia, o carinho foi imediato.

— E aí, minha princesa? Tá melhor?

— Tô sim! O Tio Léo me deu um livro novo! — disse ela, mostrando o livrinho com orgulho.

Nicolas olhou para Leonardo com uma sobrancelha arqueada, curioso. E então se levantou, estendendo a mão.

— Nicolas. Vizinho da Clara desde… sempre. E advogado também — disse, num tom amigável, porém protetor.

Leonardo apertou sua mão com firmeza, mas com cordialidade.

— Leonardo. Prazer.

— O prazer é meu. Ouvi falar muito de você. — Nicolas lançou um olhar breve para Clara, como quem queria conversar mais tarde.

Clara percebeu. Conhecia aquele olhar. O olhar de cuidado. De quem sempre esteve ali.

Minutos depois, Clara e Nicolas estavam no pequeno depósito dos fundos, em meio a sacos de café e prateleiras. Sofia e Leonardo seguiam brincando sob o olhar atento de Cida.

— Você vai me contar direito quem é esse cara? — perguntou Nicolas, direto. — E por que ele tá tão colado em vocês?

— Não é o que parece, Nico. Ele é… gentil. Carinhoso com a Sofia. E tem sido um apoio pra mim. Coisa que você sabe que eu nunca tive.

— Você me tem, Clara. Sempre teve. — respondeu ele, sem ressentimento, mas firme. — Só quero ter certeza de que esse cara não vai aparecer por algumas semanas e depois sumir. Você já tem o suficiente nas costas.

Ela suspirou, cruzando os braços.

— Eu sei. E agradeço por tudo. Mas o Léo é diferente. Ele tá tentando fazer parte da vida da gente, mesmo com a vida dele sendo… completamente oposta à nossa.

— Clara… — Nicolas se aproximou, mais suave. — A única coisa que me importa é você e a Sofia estarem seguras. E felizes. Se esse cara for de verdade… ótimo. Mas eu vou ficar de olho.

Clara assentiu, emocionada.

— Eu sei que vai.

De volta ao salão, Sofia dormia no sofá com o livrinho no colo. Leonardo estava sentado ao lado dela, acariciando seus cabelos com carinho sincero. Nicolas observava de longe, avaliando. Clara, parada na porta dos fundos, olhava os dois homens mais importantes da vida dela ali, em contraste total.

O presente e o passado.

A proteção constante… e o novo amor que nascia.

Mas será que os dois mundos podiam conviver em paz?

Ela ainda não sabia. Mas uma coisa era certa:

Sofia merecia todas as formas de amor que o mundo pudesse lhe dar.

Clara trancou a porta da cafeteria com as mãos trêmulas.

Era a terceira noite que Leonardo passava para “ver Sofia”, mas ela já não sabia mais se era por carinho… ou costume. Ele estava presente demais, rápido demais. E por mais que seu coração se derretesse toda vez que via os olhos de Sofia brilharem ao vê-lo, algo dentro dela começou a piscar em vermelho.

Respirou fundo.

Olhou para a filha, empoleirada no colo de Nicolas, com um livro aberto.

Leonardo estava ali também, de pé, observando de longe. Quieto demais. E não era por falta de assunto.

Era ciúme.

Ela sentia no ar.

— Nicolas, você pode levar a Sofia pra casa? Hoje ela está mais grudada em você do que nunca — pediu Clara, com um sorriso gentil, mas a voz baixa e firme.

— Claro — respondeu ele, sem hesitar. — Qualquer coisa, me chama.

Ela assentiu, agradecida. Quando os dois saíram, ela se virou para Leonardo, que a observava com um misto de frustração e incerteza.

— A gente precisa conversar.

Leonardo cruzou os braços, tenso.

— Sobre o Nicolas?

— Sobre nós três. Você, eu e Sofia.

Ele ficou em silêncio.

— Léo… eu gosto da sua presença. Muito mais do que imaginei que gostaria. Mas estou deixando você entrar rápido demais na nossa vida. E isso me assusta.

— Eu só quero estar perto de vocês — disse ele, a voz mais baixa, ferida.

— Eu sei. Mas eu preciso lembrar que minha prioridade é a Sofia. E que qualquer mudança, qualquer laço, qualquer ilusão… afeta ela também.

Leonardo respirou fundo, os olhos firmes nela.

— Você acha que eu seria uma ilusão?

— Eu não sei. É isso que me apavora.

Mais tarde, naquela noite, Leonardo entrou em sua casa sem ligar as luzes.

A mansão era silenciosa, fria como ele costumava preferir. Mas agora… o silêncio incomodava.

Ao passar pela cozinha, encontrou Maria, sentada à mesa, tomando seu chá de camomila como fazia todas as noites desde que ele era menino.

— Não esperava te ver de volta tão cedo — comentou ela, com um olhar afiado.

Leonardo se sentou sem dizer nada por alguns segundos. Até que desabou:

— Eu tô com medo de perder algo que talvez nunca tenha tido.

Maria o encarou.

— A moça?

Ele assentiu, os olhos baixos.

— Clara. E a filha dela, Sofia. Eu não sei o que está acontecendo comigo, Maria. Eu me sinto parte da vida delas. E, ao mesmo tempo, um intruso.

— E por que sente isso?

— Porque tem um cara lá. O tal do Nicolas. Vizinho, advogado… boa pinta, esperto. A Sofia vive grudada nele. Clara fala com ele com uma liberdade que… me irrita. Me faz sentir pequeno.

Maria suspirou.

— Isso não é sobre ele, Leonardo. É sobre você.

— Como assim?

— Você sempre teve tudo fácil, meu filho. O que quis, comprou. O que não quis, mandou embora. Mas essa mulher aí… ela é diferente. E você também está sendo. Porque pela primeira vez na vida, você quer algo que não pode controlar.

Leonardo engoliu seco.

— Ela tá certa. Entrar assim, tão rápido… talvez eu tenha forçado a barra.

— Ou talvez tenha sido sincero demais. Mas se quer que isso dure, vai ter que construir. Tijolinho por tijolinho. Sem pular etapa. E vai precisar aceitar que ela já tem um alicerce forte com esse tal de Nicolas. Ele pode ser o irmão que a vida deu a ela. Você tem que ser outra coisa. Algo que ela escolha. Que ela confie.

Leonardo olhou para o fundo da xícara de chá que Maria empurrou em sua direção.

— E se ela não me escolher?

Maria sorriu, doce e sábia.

— Então você vai seguir em frente com o coração limpo. Porque o amor de verdade nunca é invasão. É convite.

Ele assentiu, silencioso.

E pela primeira vez em muito tempo, Leonardo Ferraz, o homem que não temia nada, sentiu que o amor o estava ensinando a esperar.

A manhã nasceu cinzenta, abafada. Clara acordou com o corpo pesado, os músculos doloridos e a cabeça latejando. Não tinha forças nem pra levantar da cama.

Sofia, ao seu lado, desenhava com lápis de cor sobre uma folha amassada.

— Mamãe, você vai trabalhar?

Clara sorriu, cansada, e fez um carinho na filha.

— Hoje não, meu amor… mamãe não está se sentindo bem.

Horas depois, do outro lado da cidade, Leonardo terminava sua reunião às pressas. Desde cedo havia passado na cafeteria. E Clara não estava. Nem Sofia. A garçonete que o atendeu parecia hesitar ao dar uma resposta, mas acabou cedendo:

— Ela não veio. Disse ontem que estava meio gripada… quer que eu passe o endereço? Ela mora aqui perto.

Sem pensar duas vezes, ele pegou o endereço, entrou no carro e seguiu direto. O bairro era simples, mas acolhedor. Ao chegar, bateu na porta suavemente. Nada.

Tentou de novo. Mais forte.

E então ouviu passos pequenos e arrastados.

— Tio Leo! — gritou Sofia, ao abrir a porta com certa dificuldade.

Leonardo se abaixou, surpreso, e ela já se jogou em seu colo. O coração dele disparou.

— Oi, meu anjo… sua mamãe tá em casa?

— Tá dodói. Vem cuidar dela com a gente?

O convite soou como uma flecha no peito.

Clara apareceu logo depois, os olhos sonolentos, pálida.

— Léo? O que você tá fazendo aqui?

— Fiquei preocupado. Você sumiu. Tive que vir.

Ela hesitou. Queria dizer que não precisava. Que estava bem. Mas, pela primeira vez em muito tempo, ela não queria fingir força.

— Entra… a casa é simples, mas tem espaço.

Ele sorriu, entrou. Sentiu o calor do lar, o cheiro de lavanda misturado ao de sopa.

— Deita um pouco — disse ele, guiando-a até o sofá. — Eu cuido de vocês hoje.

— Léo, eu tô gripada, posso te contaminar.

— Eu corro o risco.

Clara riu, fraca, mas genuinamente.

Enquanto ela repousava, ele foi até a cozinha com Sofia. A pequena o ajudava a pegar talheres e pedia para ele cantar musiquinhas. Quando voltou, trazia uma sopinha morna.

— Vem, mocinha. Agora é hora de comer — disse ele, oferecendo a colher a Sofia.

Ela abriu a boca feliz, como se aquela fosse a cena mais natural do mundo.

— Assim você vai virar uma menina forte e linda, igual a sua mamãe.

Clara observava a cena com os olhos marejados. Aquela era a imagem que nunca teve. De um homem de verdade. Que ficava. Que cuidava.

— Agora é sua vez — disse ele, virando-se pra ela. — Abre a boca.

Ela riu, mas aceitou a colher. Sentiu-se estranhamente segura.

Depois da sopa, Leonardo ficou ali, sentado ao lado de Clara, com Sofia dormindo deitada em seu colo, a cabeça no ombro dele. Ele a abraçava com carinho, os dedos deslizando pelos cabelos da menina.

— Ela te ama — disse Clara, num sussurro.

— Eu também — respondeu ele, olhando nos olhos dela.

O silêncio que se seguiu foi diferente. Denso. Elétrico.

Leonardo se inclinou, com hesitação. Os olhos dela se fecharam aos poucos.

O beijo veio doce. Quente. Lento. Como se o tempo tivesse parado.

Quando se afastaram, Clara encostou a testa na dele, ainda de olhos fechados.

— Eu devia ter esperado mais pra isso — murmurou.

— Eu esperei a vida inteira — respondeu ele.

E foi nesse exato momento que a porta se abriu.

— Clara?

Nicolas surgiu na entrada, com uma sacola de farmácia na mão.

Silêncio.

O olhar dele foi direto para os três no sofá — Clara ainda colada em Léo, Sofia dormindo no colo dele.

A expressão de Nicolas endureceu.

— Acho que cheguei na hora errada.

Clara se afastou ligeiramente, surpresa.

— Nicolas… eu… não esperava você agora.

Leonardo ajeitou Sofia no colo com delicadeza, mas sem se levantar. O clima era tenso.

— Boa tarde, doutor — disse Léo, educado, mas firme.

— Boa tarde — respondeu Nicolas, seco. — Trouxe os remédios que você pediu ontem. Mas… talvez não sejam mais necessários.

Clara se levantou, ainda tonta.

— São sim. Obrigada por vir. Eu só… não esperava o Léo aqui também.

Nicolas não respondeu. Apenas deixou a sacola na mesa e olhou de novo para a cena, tentando esconder o incômodo.

Leonardo, por sua vez, olhava para Clara com mais certeza do que nunca.

Não queria ir embora.

Mas sabia que aquela guerra… não se ganharia com disputa.

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Comments

Joselma Trajano

Joselma Trajano

eita que situação estranha , o Nicolas gosta dela mas não falou , e o Léo está jogando tudo .

2025-06-19

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