A comandante acordou antes do sol nascer, como sempre. Mas naquela manhã, algo estava diferente, uma inquietude que ela nunca sentiu.
Seu coração ainda batia acelerado, como se o encontro da noite anterior não tivesse terminado. Enquanto vestia sua armadura habitual, cada peça parecia mais pesada. A máscara nas mãos tremia levemente. Ela respirou fundo e a colocou no rosto. A barreira entre ela e o mundo, de volta ao lugar.
— Aí Deus... Ele viu meu rosto. Ele viu tudo.
Sentia raiva. De si mesma, por ter sido tão descuidada. De Felipe, por não ter dito nada. Por apenas olhar. Por não zombar, como ela esperava. E por, de alguma forma, fazer seu peito doer mais do que qualquer lâmina já cravada.
No refeitório, tudo estava como sempre: soldados rindo, comandantes conversando em grupos, crianças correndo entre as mesas. Ela entrou silenciosa, pegando sua bandeja. Foi direto para a mesa reservada aos comandantes das forças especiais. Kael foi o primeiro a notar.
— Bom dia, Sombra! Dormiu bem? Ou sonhou com o General Felipe de toalha?
Ela congelou por um segundo, o pão quase caindo da mão.
— Do que você está falando? — perguntou fria.
— Brincadeira — riu ele. — Só tentando te irritar, como sempre.
Ela suspirou, aliviada. Eles não sabiam.
Mas quando levantou os olhos... ele estava lá.
Felipe. Encostado na parede do refeitório, bandeja nas mãos, os olhos azuis cravados nela. Mas havia algo diferente naquele olhar. Não era arrogância. Nem sarcasmo. Era um silêncio. Um tipo estranho de respeito misturado com algo mais profundo.
Ela desviou o olhar rapidamente, mas sentiu suas bochechas esquentarem por baixo da máscara. Isso não podia estar acontecendo, por que ele me olha assim?.
Felipe caminhou até a mesa dos generais, mas seus olhos voltaram para ela várias vezes. Não como quem provocava — como quem observava, analisava. Estudava tudo nela, cada gesto.
Durante o treino das crianças, os dois foram escalados juntos para supervisionar a prova de combate. Quando chegaram à arena, ficaram lado a lado, como tantas outras vezes. Mas o silêncio entre eles era algo novo, entre eles.
— Sobre ontem... — começou ele, a voz baixa.
— Não aconteceu nada ontem — ela respondeu imediatamente. — E se você abrir a boca sobre isso, eu juro que arranco seus olhos.
Ele riu, mas não era uma risada debochada.
— Não tenho o que falar. Você foi surpreendente e inesperada. É só isso.
Ela não respondeu. Continuou encarando a arena, os punhos cerrados, tentando manter o controle.
— Você não é o que eu pensava — disse ele, quase como se falasse para si mesmo.
Ela virou-se para ele.
— E o que exatamente você pensava?
Ele sorriu de lado, sem responder. Apenas olhou mais uma vez para ela. Um olhar calmo, quase... admirado.
E aquilo foi pior do que qualquer insulto.
Porque pela primeira vez, ela não sabia como revidar, nem mesmo conseguia encarar ele como sempre, se sentia como se estivesse nua quando olhava para aqueles olhos azuis. Seu coração não a obedecia, só a presença dele ao seu lado já a deixava inquieta. Mais ela disfarçou naturalmente.
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Atualizado até capítulo 61
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