O dormitório era silencioso, envolto em uma penumbra acolhedora. Já passava das dez da noite, e todos os professores, soldados e auxiliares haviam recolhido-se para seus quartos e quartéis. A comandante caminhava sozinha pelo corredor lateral, com uma toalha nos ombros, sua máscara ainda cobrindo o rosto, perdida em pensamentos, sobre seu dia.
Estava exausta. O calor do dia e o estresse de dividir o turno com Felipe haviam drenado suas forças. Ela encontrou o banheiro reservado para os instrutores e professores — um espaço amplo, com cabines separadas, chuveiros individuais e iluminação suave. Não havia nenhuma placa de gênero. Não havia uma que ela tivesse percebido pelo menos. Ou talvez estivesse distraída demais pensando.
Verificou rapidamente o ambiente. Nenhuma voz, nenhum som de água. Tudo vazio, calmo. Suspirou aliviada.
Tirou o casaco pesado, desamarrando os cintos e alças que seguravam sua armadura personalizada. Deslizou a máscara para fora do rosto com cuidado, como se estivesse se despindo de um escudo de guerra. Seus longos cabelos pretos caíram sobre os ombros, cobrindo parcialmente o busto. A pele era clara, os traços delicados, o olhar verde cheio de cicatrizes... não físicas, mas profundas.
Ficou de roupa íntima, pronta para entrar na cabine, quando ouviu o barulho de uma porta abrindo, ela paralisou na hora, sem reação.
— Hã? — virou-se lentamente, o coração disparando.
E ali, saindo de uma das cabines, com o cabelo ainda molhado e uma toalha enrolada na cintura, estava ele.
Felipe.
Ambos congelaram.
Ela soltou um grito instintivo:
— O que você tá fazendo aqui, Felipe?!
Ele parou de andar. Seus olhos azuis se arregalaram por um segundo, fixos nela e mesmo sem intenção seus olhos percorreram seu corpo. Em silêncio. Totalmente imóvel.
Ela cobriu seus seios com os braços, o rosto em chamas de vergonha. Mas não teve coragem de esconder o rosto de volta com a máscara. Estava atônita, vulnerável — pela primeira vez.
Felipe engoliu em seco. Aquela não era a mulher misteriosa e fria que ele conhecia. Aquela era... diferente. Linda, sim, de um jeito que cortava o ar, mas também frágil. Seus cabelos emolduravam um rosto delicado, os olhos não pareciam ameaçadores, e sim assustados.
Ela parecia... pequena. Humana.
— Você... — começou ele, mas a voz falhou.
Ela apenas olhou para a porta. Viu finalmente a placa: Banheiro Unissex.
— Droga... — murmurou, e correu para dentro da cabine mais próxima, batendo a porta com força.
O silêncio caiu. Felipe ficou ali, sem se mover, os pensamentos girando em turbilhão.
Aquela era a comandante?
A mulher que vivia coberta de preto, sempre armada, sempre impassível?
Ele vestiu-se rápido, ainda tomado por algo que não sabia nomear. Não era apenas surpresa. Era... respeito? Fascínio? Culpa?
O som do chuveiro começou a ecoar atrás da porta da cabine.
— Merda... — ele sussurrou, passando a mão pelo cabelo. E saiu.
Mas mesmo ao deixar o banheiro, algo dentro dele havia mudado. Ela não era mais um mistério provocante.
Ela era uma mulher. Real, bela, vulnerável... e agora, apreciavelmente presente na sua mente.
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Atualizado até capítulo 61
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