Capítulo 5 - Chamas e Sombras

O Encontro no Rio

O sol estava se pondo quando Lía e Miri voltavam do treino. A floresta ganhava tons dourados, e o vento trazia o som suave da correnteza próxima.

— Escuta isso? — perguntou Lía, franzindo a testa. — Vem do rio.

Apressaram o passo. Ao chegarem à margem, avistaram algo entre as pedras e a água corrente: uma figura caída, de cabelos loiros espalhados e pele pálida, quase translúcida de tão fria. Vestia trapos rasgados, e o corpo estava coberto de arranhões, hematomas e marcas escuras — cicatrizes velhas e novas.

— Ela tá viva? — Miri ajoelhou rapidamente, colocando dois dedos no pescoço dela. — O pulso é fraco, mas tá aqui.

— Ela tá congelando — disse Lía, puxando a espada e cravando-a na terra ao lado. As runas brilharam. — Fica comigo, por favor…

Ela colocou a mão sobre o peito da menina, concentrando toda sua energia. A lâmina brilhou suavemente, aquecendo o ar. Um calor dourado saiu da mão de Lía e envolveu o corpo da desconhecida, como uma chama suave. Pouco a pouco, a cor voltou às bochechas da jovem, e os dedos se moveram.

A menina tossiu, os olhos âmbar abrindo-se em confusão e pavor.

— Onde... eu…? — ela tentou se erguer, assustada, mas Miri a segurou gentilmente pelos ombros.

— Calma. Você está segura agora.

— Ninguém vai te machucar — disse Lía, em voz calma. — Você tá entre amigos.

A menina ainda tremia, mas quando viu os olhos de Lía — verdes e sinceros — respirou mais fundo e se deixou cair de novo, exausta.

---

O Abrigo

Carregaram-na até a cabana improvisada. Alman os esperava à porta e observou a menina com atenção.

— O que ela é? — perguntou em voz baixa, para Miri.

— Não sei ao certo. Mas tem algo… denso nela. Como se fosse bruxa e… algo mais.

— Cuidem dela — disse Alman simplesmente. — Às vezes, o destino nos entrega quem mais precisamos, mesmo antes de sabermos por quê.

Naquela noite, a bruxa dormiu profundamente, envolta em cobertores simples. Miri ficou de guarda. Lía ficou acordada, sentada perto da cama improvisada, observando o rosto da desconhecida à luz fraca das runas da espada.

Confissões 

Horas depois, a menina acordou com um leve gemido. Lía estava ao lado, oferecendo água numa concha de madeira.

— Obrigada — sussurrou a jovem, com a voz rouca.

— Eu sou Lía. E ele é Miri. Você quer nos dizer seu nome?

A jovem hesitou, depois respondeu em voz baixa:

— Seris.

— Seris — Lía repetiu com suavidade. — Você quer conversar um pouco? Às vezes, falar ajuda a curar por dentro também.

Seris olhou para o teto de folhas, depois para os olhos verdes de Lía. Algo nela dizia que podia confiar.

— Eu fugi. Da minha vila. Eles me odiavam. Mesmo eu ajudando, mesmo salvando gente... — sua voz tremia. — Eu sou... meio demônio.

Lía engoliu seco.

— Sua mãe ou seu pai?

— Meu pai… era um demônio superior. Não o conheci. Minha mãe era bruxa. Quando descobriram o sangue que corria em mim... me chamaram de maldição. De monstro.

Lía sentiu uma dor familiar no peito. Tocou suavemente a mão de Seris.

— Eu também sou filha de algo... perigoso. Minha mãe é uma deusa cruel. Queria me usar pra destruir inocentes.

Seris a olhou, surpresa. Um sorriso triste surgiu.

— Então... somos duas feridas tentando curar o mundo.

Lía assentiu.

— E agora, você tem a gente. Não vamos deixar você sozinha.

— Obrigada… 

Seris respirou fundo e pela primeira vez, em muito tempo, fechou os olhos sem medo.

Promessa de Irmandade

Naquela madrugada, enquanto a floresta suspirava em silêncio, Lía ficou sentada ao lado de Seris. Observando seu sono calmo, ela apertou a espada junto ao peito.

— Eu protegi uma vida hoje. E talvez tenha encontrado outra irmã — sussurrou.

Miri, do lado de fora, ouviu e sorriu.

... “Sangue que Queima e Protege”...

Sussurros na Névoa

Dois dias depois de sua chegada, Seris ainda se recuperava, mas já conseguia caminhar devagar. Lía e Miri a observavam com carinho enquanto ela tentava, sozinha, acender uma pequena chama sobre uma folha seca.

— Você tem magia, mas ela tá... presa, né? — disse Miri, curioso.

Seris suspirou, frustrada.

— Eu não sei controlar. Quando me irrito, tudo explode. Quando fico com medo… o chão treme, as coisas pegam fogo. É como se uma parte de mim gritasse o tempo todo.

Lía se aproximou com um sorriso gentil.

— Talvez a gente possa ensinar você a ouvir esse grito… e responder com calma. Como fizemos comigo.

Seris olhou para os dois, hesitante, e depois assentiu.

— Eu… quero tentar.

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Poder Revelado

Naquela noite, Seris acordou com um cheiro de enxofre no ar. Lá fora, a floresta estava tomada por uma neblina espessa. Três silhuetas caminhavam entre as árvores, olhos vermelhos como brasas.

— Vim buscar o que é meu — disse uma voz grave, vinda da névoa.

Seris congelou.

— Não... é ele. Ou um servo dele.

Lía saltou da cama, espada na mão, runas já brilhando.

— Quem é?

— Um dos lacaios do meu pai. Ele quer me levar viva. Sempre mandam caçadores… Eles podem sentir meu sangue.

Miri já estava do lado de fora, com o cajado pronto.

— Ficar aqui é perigoso. Eles nos acharam.

Os demônios avançaram. Eram altos, com pele escura como carvão e armaduras fundidas à pele. Um deles rugiu:

— Filha do Lorde da Chama, seu destino não é aqui. Seu sangue pertence ao trono das Cinzas!

— Meu destino é meu! — gritou Seris, os olhos âmbar agora incandescentes.

O chão tremeu, rachaduras abriram-se ao redor. Um calor brutal emanava dela. Lía se pôs ao seu lado, firme.

— Não vamos deixar te levarem.

Miri bateu o cajado no chão, raízes ergueram-se em espirais, prendendo dois dos demônios. Lía girou com a espada em chamas, cortando uma das criaturas pelas costas.

O terceiro demônio avançou em Seris — mas ela estendeu a mão e, pela primeira vez, sem perder o controle, uma parede de fogo escuro se ergueu, queimando o monstro de dentro para fora.

Após a Batalha

Mais tarde, os três sentaram-se exaustos em torno do fogo. Seris estava suada, com os olhos brilhando de medo e culpa.

— Desculpa... por isso. Por atrair essas coisas pra cá.

— Ei — disse Lía, firme. — Você não atraiu nada. Eles escolheram vir. E nós escolhemos ficar.

Miri assentiu.

— A gente não luta só contra monstros. Luta contra o destino que tentam empurrar na nossa garganta. E o seu não tá escrito ainda.

Seris sorriu, emocionada.

— Vocês… vocês são diferentes. Quando eu era pequena, as pessoas me olhavam como se eu fosse uma bomba prestes a explodir. Vocês me veem como alguém que pode escolher.

Lía se aproximou e apertou sua mão.

— Porque você pode.

Seris baixou os olhos, depois falou com voz baixa:

— Quando eu estava no rio… antes de desmaiar, jurei que se alguém me salvasse, eu ia retribuir. Não com medo… mas com tudo o que eu sou. Então… agora, vocês são minha família. Até o fim.

Lía sorriu.

— Até o fim.

Miri se esticou no chão e falou rindo:

— Acho que nosso grupo tá virando uma lenda ambulante.

Promessa de Fogo e Luz

Naquela noite, Seris, Lía e Miri olharam o céu estrelado. A espada de Lía cravada no chão, o cajado de Miri ao lado, e uma pequena chama negra flutuando entre os dedos de Seris.

— Vamos aprender. Treinar. E se eles voltarem, que encontrem um muro de fogo, terra, vento e luz — disse Lía.

— Que encontrem três — completou Seris — prontos pra queimar o medo juntos.

Capítulos
1 Capítulo 1 – “A Filha da Deusa”
2 Capítulo 2 – “O Refúgio na Floresta”
3 Capítulo 3 "Irmãos de Alma"
4 Capítulo 4 - “Sombras na Floresta”
5 Capítulo 5 - Chamas e Sombras
6 Capítulo 6- Entre Faíscas e Silêncios
7 Capítulo 7 – “A Fúria que Dorme”
8 Capítulo 8 – “O Terceiro Caminho”
9 Capítulo 9– “A Jornada até a Pedra do Véu”
10 Capítulo 10 – “Entre Estrelas e Silêncios”
11 Capítulo 11 – “Laços Queimam Mais Que Fogo”
12 Capítulo 12 – “As Relíquias que Partem”
13 Capítulo 13 – A Chegada à Acadêmia
14 Capítulo 14 – Primeiros Desafios na Academia
15 Capítulo 15 – Vozes nas Sombras
16 Capítulo 16 – Ecos da Tempestade
17 Capítulo 17– Ecos do Sangue Perdido
18 Capítulo 18 – Laços e Tormentas
19 Capítulo 19 – O Peso dos Olhares
20 Capítulo 20– O Limiar Entre o Silêncio e o Grito
21 Capítulo 21 – Ecos nas Sombras
22 Capítulo 22 – O Aluno Sombrio
23 Capítulo 23 – Distância Necessária
24 Capítulo 24 – A Missão dos Quatro: Ecos Silenciosos
25 Capítulo 25– O Retorno à Academia
26 Capítulo 26 – Sob as Luzes do Baile
27 Capítulo 27– Fogo Silencioso
28 Capítulo 28 – Noite Silenciosa, Desejo Gritante
29 Capítulo 29- O caminho de volta
30 Capítulo 30 – A Última Muralha
31 Capítulo 31 – O Contra-Ataque
32 Capítulo 32 – Depois da Tempestade
33 Capítulo 33 – Tensão Silenciosa
34 Capítulo 34– A Força do Instinto
35 Capítulo 35 – O Sangue que Arde
36 Capítulo 36 – Forjando Lendas
37 Capítulo 37 – O Grito da Tempestade
38 Capítulo 38 – Depois da Tempestade, o Silêncio do Coração
39 Capítulo 39 – Silêncios que Falam
40 Capítulo 40 – Prova do Elo e Sombras ao Longe
Capítulos

Atualizado até capítulo 40

1
Capítulo 1 – “A Filha da Deusa”
2
Capítulo 2 – “O Refúgio na Floresta”
3
Capítulo 3 "Irmãos de Alma"
4
Capítulo 4 - “Sombras na Floresta”
5
Capítulo 5 - Chamas e Sombras
6
Capítulo 6- Entre Faíscas e Silêncios
7
Capítulo 7 – “A Fúria que Dorme”
8
Capítulo 8 – “O Terceiro Caminho”
9
Capítulo 9– “A Jornada até a Pedra do Véu”
10
Capítulo 10 – “Entre Estrelas e Silêncios”
11
Capítulo 11 – “Laços Queimam Mais Que Fogo”
12
Capítulo 12 – “As Relíquias que Partem”
13
Capítulo 13 – A Chegada à Acadêmia
14
Capítulo 14 – Primeiros Desafios na Academia
15
Capítulo 15 – Vozes nas Sombras
16
Capítulo 16 – Ecos da Tempestade
17
Capítulo 17– Ecos do Sangue Perdido
18
Capítulo 18 – Laços e Tormentas
19
Capítulo 19 – O Peso dos Olhares
20
Capítulo 20– O Limiar Entre o Silêncio e o Grito
21
Capítulo 21 – Ecos nas Sombras
22
Capítulo 22 – O Aluno Sombrio
23
Capítulo 23 – Distância Necessária
24
Capítulo 24 – A Missão dos Quatro: Ecos Silenciosos
25
Capítulo 25– O Retorno à Academia
26
Capítulo 26 – Sob as Luzes do Baile
27
Capítulo 27– Fogo Silencioso
28
Capítulo 28 – Noite Silenciosa, Desejo Gritante
29
Capítulo 29- O caminho de volta
30
Capítulo 30 – A Última Muralha
31
Capítulo 31 – O Contra-Ataque
32
Capítulo 32 – Depois da Tempestade
33
Capítulo 33 – Tensão Silenciosa
34
Capítulo 34– A Força do Instinto
35
Capítulo 35 – O Sangue que Arde
36
Capítulo 36 – Forjando Lendas
37
Capítulo 37 – O Grito da Tempestade
38
Capítulo 38 – Depois da Tempestade, o Silêncio do Coração
39
Capítulo 39 – Silêncios que Falam
40
Capítulo 40 – Prova do Elo e Sombras ao Longe

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